CNC: Futuros do café ignoram fundamentos e são contaminados pelo aumento da aversão ao risco

Publicado em 03/08/2015 14:27

Boletim Conjuntural do Mercado de Café
— Julho de 2015 —

Apesar da recuperação registrada nos últimos dias do mês, os futuros do café encerraram julho acumulando desvalorização. De forma geral, o verão no hemisfério norte mantém a demanda desaquecida e os produtores também seguram as vendas, no aguardo de preços mais remuneradores e que reflitam a realidade da quebra de safra no campo.

Diante da ausência de novidades nos fundamentos, o movimento das cotações futuras do café arábica seguiu a tendência generalizada de queda dos mercados de commodities, a qual tem sido influenciada pelo fortalecimento do dólar e preocupações com o desempenho econômico da China.

Desde o ano passado, o cenário internacional tem sido avesso aos investimentos em commodities, devido aos sinais de retomada de crescimento da economia dos Estados Unidos, que levam à antecipação da alta dos juros daquele país, resultando no fortalecimento do dólar. Paralelamente, a China, grande importadora de produtos básicos, tem emitido sinais de desaceleração do seu ritmo de crescimento. Esse fato pode ser evidenciado pela forte queda das bolsas asiáticas, ao redor de 30%, em julho.

Como consequência, o gráfico abaixo demonstra que o desempenho dos futuros da maioria das commodities foi ruim nos últimos 30 dias, com destaque para o petróleo, que registrou perdas próximas a 20%. O mercado futuro do café, por ter uma significativa participação de capital especulativo, acaba sendo contaminado por esse cenário.

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O câmbio brasileiro desvalorizado acentua as perdas do mercado futuro do café negociado em Nova York. No âmbito externo, a revisão do Produto Interno Bruto (PIB) da economia dos Estados Unidos do primeiro trimestre, de -0,2% para +0,6%, e a estimativa de crescimento de 2,3% para o segundo trimestre aquecem o clima de expectativa quanto à elevação dos juros norte-americanos. No Brasil, as incertezas econômicas e políticas contribuíram para a desvalorização cambial, de forma que o dólar comercial encerrou o mês no patamar mais elevado desde março de 2003, a R$ 3,4247, acumulando valorização de quase 10% nos últimos 30 dias.

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Diante do cenário supracitado, os fundos que operam no mercado futuro e de opções de café arábica da ICE Futures US aumentaram o já elevado saldo de posições vendidas. Em consequência, o vencimento setembro do contrato C acumulou queda de 715 pontos, sendo cotado a US$ 1,2525 por libra-peso no último dia do mês. A cotação média mensal, de US$ 1,26, foi 27% inferior à do mesmo período de 2014. Porém, quando convertidas para reais, as cotações de Nova York superam em 5% o patamar médio de julho do ano passado devido ao fortalecimento do dólar no Brasil.

Os estoques certificados de arábica da bolsa nova-iorquina apresentaram queda de 47 mil sacas, encerrando o mês em 2,1 milhões de sacas. O volume estocado encontra-se em patamar 16% inferior ao observado no mesmo período do ano antecedente, que era de 2,5 milhões de sacas.

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O mercado futuro da variedade robusta, negociado na ICE Futures Europe, também foi impactado pelo cenário financeiro adverso de julho. O vencimento setembro/2015 foi cotado a US$ 1.638 por tonelada no último dia do mês, com desvalorização de US$ 146 em relação ao fechamento de junho. A cotação média mensal, de US$ 1.694/t, foi 16,5% menor do que a de julho de 2014. Os estoques certificados de robusta monitorados pela Bolsa de Londres mantiveram a tendência de alta e atingiram cerca de 3,3 milhões de sacas em julho, quase o triplo do volume contabilizado no mesmo período do ano passado.

O resultado negativo dos futuros dos cafés arábica e robusta reforçam que o comportamento das cotações segue descolado dos fundamentos do mercado, que apontam para retração de oferta. Em relação à variedade arábica, informações de campo levantadas pelo CNC junto a suas cooperativas associadas denotam a quebra da safra 2015, já que para encher uma saca têm sido necessários 25% a mais de café em relação à temporada passada. Normalmente, são utilizadas medidas de 480 litros para o preenchimento de uma saca, porém este ano a média chegou a medidas de 600 litros. Além disso, apenas cerca de 15% dos cafés colhidos são mais graúdos, apresentando peneira 17 acima, ao passo que, em um ano safra normal, o percentual seria superior a 30 pontos. É nítida a redução dos estoques nacionais de café após duas colheitas aquém do potencial produtivo e dada a sustentação do volume recorde de exportação do Brasil.

Já no tocante à variedade robusta, o País apresentou quebra em torno de 20% na atual safra, principalmente devido às condições climáticas adversas que afetaram o desenvolvimento dos cafezais capixabas. No âmbito internacional, também há incerteza quanto ao desempenho das próximas safras do Vietnã e da Indonésia, em função do clima seco que predomina nesses países.

A respeito da colheita de café no Brasil, o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) divulgou comunicado, no dia 30 de julho, informando que os trabalhos já se encerraram nas áreas produtoras de conilon. Sobre a variedade arábica, a instituição apontou que as principais regiões do Brasil chegaram ou superaram levemente a metade do previsto, com exceção para a Mogiana Paulista, cuja cata se encontrava em níveis levemente superiores a 40%.

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No mercado físico brasileiro, com exceção de períodos pontuais de aquecimento, a comercialização continuou fraca, já que, apesar do impulso positivo dado pelo enfraquecimento do real, os preços se mantêm aquém das expectativas dos vendedores e dissociados da realidade vivenciada no campo. Os indicadores do Cepea para as variedades arábica e conilon foram cotados no final de junho a R$ 435,24/saca e a R$ 313,62/saca, acumulando altas de, respectivamente, 4,4% e 2% no mês.

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CNC

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