A enigmática safra brasileira de café: Qual a verdade sobre a safra de 2015/16 ?

Publicado em 07/08/2015 15:15
Marco Antonio Jacob 06/Agosto/2015

A safra brasileira de café de 2015/16 já esta marcada para a história cafeeira, como a mais divergente em termos de previsões, basta vermos abaixo os dois quadros apresentados em recente palestra de Rabobank , pois no figura A apresenta a menor previsão apontada por alguma instituição (40,3 milhões de sacas) , e , a figura B apresenta a maior previsão apontada por outra instituição (52,4 milhões de sacas ), portando a maior previsão é 30% superior a menor.   (as previsões apresentadas  são de responsabilidade de terceiros , não são previsões de Rabobank) 

Em pleno século XXI, é inconcebível esta diferença, só pode ser explicada por ignorância, irresponsabilidade ou  má-fé, pois uma diferença de 12,1 milhões de sacas é praticamente a produção da Colômbia.

Estamos no inicio de  Agosto de 2015 , já colhidos mais de 60% da safra de cafés arábicos e 100% da safra de conillons ,  posso afirmar que a previsão B , indicando 52,4 milhões de sacas é completamente  rídicula , fantasiosa , irresponsavel e incosequente , trazendo maleficios a milhões de produtores de café do mundo , sendo estes produtores a parte hipossuficiente nas relações comerciais , pois os mesmos produzem em concorrencia perfeita , enquanto os compradores mundiais são quase um oligopólio.

Vejamos o porque desta minha afirmação :

Em janeiro de 2014 , como é de conhecimento de todos , iniciou-se uma forte adversidade climática no Brasil , pricipalmente nas regiões produtores de cafés arabicos , esta adversidade perdurou até meados de fevereiro de 2015 , porém nesta ocasião , se pronunciou mais fortemente sobre o Espírito Santo e Sul da Bahia , as principais regiões brasileiras produtoras de café conillon .

Todos os participantes do mercado cafeeiro sabem que no Brasil temos uma bienalidade produtiva , pois o arbusto da família Rubiaceae e do gênero Coffea LCoffe sp , produz anualmente ,  e , em condições de produção comercial ,  produz mais em um ano e menos em outro ano ; assim sendo ,  o parque cafeeiro brasileiro de cafés arabicos apresenta bienalidade , tendo nos  anos pares  uma maior produção , e nos  anos impares uma menor produção.

Assim se tomarmos como base a produção de safra 2014/15 poderemos ter uma noção do potencial produtivo para esta safra , infelizmente não temos dados oficiais ou governamentais precisos  da safra brasileira de 2014/15 , apesar dos volumosos recursos que a sociedade brasileira paga atravéz dos impostos ao feudal Governo Brasileiro.

Como nos falta estes dados oficiais , apresentarei singelamente na tabela baixo a provavel safra brasileira de 2014/15 como sendo 47,83 milhões de sacas  , demostrada pela equação de produção derivada (Produção derivada corresponde aos estoques iniciais - desaparecimento/uso  - estoques finais apurados).

Obs *  desaparecimento de 9 milhões de sacos do carry-over

Muitos pensarão que 14 milhões de sacas de  estoques em 01 de Julho é  aleatório e está subestimado  , informo que consultei vários especialistas do mercado cafeeiro , e  recentemente ,  Jonh Wolthers/COMEXIM publicou dados de estoque  proximos aos valores utilizados.

Se buscarmos os últimos dados oficiais publicados pela CONAB referentes a 31 de Março de 2014 , indicam quantidades muito inferiores aos utilizados  , vejamos.

O estoque de 14 milhões de sacas em 01 de Julho de 2014 , é aproximadamente 11,30 milhões de sacas maior que estoque informado pela  CONAB  em 31 de Março de 2015 , considerando  os desaparecimento até 01 de Julho de 2014 .

Portanto os dados do mercado não estão subestimados, houve um uso expressivo de estoques nos  12 meses compreendido entre 01 de Julho de 2014 até 30 de Junho de 2015  , aproveito para informar que até o presente momento a CONAB não divulgou os dados relativos aos estoques em 31 de Março de 2015.

Conforme demonstrado, a produção derivada em 2014/15 aponta para uma safra total brasileira de 47,83 milhões de sacas.

 

Dos fatos e a realidade:

Não houve expansão ou diminuição significativa do parque produtivo brasileiro, então , podemos com base na última safra, dimensionar a safra atual  , pois os cafeicultores já colheram  100% do conillon e 60% dos  arábicos, e já temos varias  informações das colheitas e seus respectivos rendimentos de benefício, assim , é possível apontar uma perspectiva de produção.

Informações vindas do Espírito Santo e Sul da Bahia , onde se concentra a maior parte da produção de cafés conillon brasileira , indicam perdas maiores que 30% , chegando em alguns casos a perdas de 50% .

Em recente entrevista do Presidente do Centro de Comércio de Café de Vitória , Sr.  Jorge Luiz Nicchio , informou que o Brasil vai colher 4 milhões de sacas a menos em função da extrema adversidade climática. https://globotv.globo.com/tv-gazeta-es/bom-dia-es/v/presidente-do-centro-do-comercio-de-cafe-de-vitoria-fala-sobre-queda-na-colheita/4269004/

Na colheita dos arábicos, as noticias também não são auspiciosas, pois apesar de estarmos acima dos 60% da colheita, muitos imputam erroneamente o baixo fluxo de entrada de cafés nas cooperativas  ao  atraso de colheita, informo que existem muitos produtores findando suas colheitas , e , em diversas regiões brasileiras . Afirmo que teremos uma colheita que se iniciou atrasada, devido a uma floração tardia, porém vai acabar dentro dos prazos normais.

As informações que chegam do campo na maioria das principais regiões produtoras, mostram que os  grãos  estão miúdos , com pouca incidência de grãos tamanho 17 e 18 , e com uma anormal e maior incidência de grãos menores,  que vazam na peneira 13 , inclusive cafés de lavouras irrigadas.

Também se é noticiado, que é necessário 600 litros de cerejas para se obter uma saca beneficiada de 60 kilos , enquanto em safras normais  é por volta de 480 litros.

Outra  característica que aponta um menor rendimento , pode ser aferida através dos resultados dos secadores, exemplo,  uma batelada do secador em safras normais , produziria 45 sacos beneficiados , e nesta safra está produzindo 35/37 sacas .

A grande maioria dos produtores consultados , informam que já  colheriam  menos que a safra 2014/15.

Até a presente data, os fluxos de café para as cooperativas, armazém de comerciantes e armazéns gerais é incrivelmente pequeno, ouso a dizer, assustador.

Estes exemplos citados acima, mostram uma diminuição de 20% na expectativa  de produção.

Para corroborar estas informações, segue a entrevista do, Sr. José Edgard Pinto Paiva, Diretor Presidente da Fundação PROCAFÉ, um dos principais centro de pesquisas cafeeiras no Brasil ,  localizada em Varginha , Sul de Minas Gerais.  https://www.noticiasagricolas.com.br/videos/cafe/159691-colheita-no-sul-de-minas-avanca-e-resultados-ficam-aquem-do-esperado-e-quebra-pode-chegar-a-30.html?utm_source=mailing&utm_medium=tarde#.VcAD2vlVhBc

Diante dos fatos acima, baseado na produção de 2014/15  e  através de um simples exercício matemático ,  podemos  vislumbrar  um  cenário  da  safra brasileira de 2015/16.

Apesar de varias informações de perdas acima de 20% , aplicarei conservadoramente apenas a metade , 10% de diminuição de produção de arábicos, supondo que apenas a metade do parque cafeeiro  de arábicos foram afetados por este problema de diminuição dos grãos e necessidade de mais frutos para se fazer uma saca beneficiada.

Para o conillon, utilizarei uma diminuição de 4 milhões de sacas na produção , conforme  informado pelo Presidente do Centro de Café de Vitória.

Baseado neste singelo exercício matemático, verificamos semelhança com a Estimativa da safra cafeeira de 2015 realizada pela FUNDAÇÃO PROCAFÉ  ,  publicado  em Março de 2015  ,   , conforme a tabela abaixo :   https://fundacaoprocafe.com.br/sites/default/files/Relat%C3%B3rio%20Final%202015.pdf

Conclusão:

Devemos valorar a FUNDAÇÃO PROCAFÉ e seus pesquisadores, pois  sendo sua  primeira previsão de safra cafeeira a nível nacional , estará  dentro da realidade.

As futuras previsões de safra elaboradas oficialmente pela CONAB deveriam ter a participação e colaboração das várias autarquias de pesquisa cafeeira brasileira.

A CONAB , necessita ser mais céleres na divulgação dos estoques privados e públicos com base em 31 de Março ,  pois sem estes dados é impossível quantificar a  produção cafeeira brasileira  ,  lembrando que o levantamento de estoques é imposição legal.

Sabemos que para qualquer política pública, ou, para o planejamento dos diversos setores cafeeiros, é necessário saber as reais disponibilidades de café.

As lideranças da cafeicultura  brasileira devem solicitar que as instituições governamentais  estrangeiras  que se propõem  a estimar as safras cafeeiras brasileiras , sejam transparentes nos seus  métodos de pesquisas , e , exigir que tratem com mais seriedade este propósito , pois afetam a vida de milhões de pessoas no Brasil e no Mundo.

A comunidade mundial cafeeira deve acompanhar passo a passo esta safra brasileira de 2015/16, pois tudo indica que o Brasil terá um potencial de fornecer ao mercado mundial inferior a  25 milhões de sacas de café , portanto 11,50 milhões de sacas a menos que a ciclo anterior. 

 

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Fonte: Marco Antônio Jacob

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