Café: Brasil não produz grande safra há 5 anos; oferta menor ainda preocupa e alta inflação pressiona demanda

Publicado em 16/06/2025 12:24 e atualizado em 16/06/2025 14:46
Mercado cafeeiro mantém o foco na produtividade da safra brasileira para desenhar cenário global de oferta x demanda

Já é certo que as lavouras de café das principais regiões produtoras no Brasil sofreram impactos significativos após uma seca severa e prolongada em 2024, seguida por altas temperaturas, que prejudicaram o potencial produtivo da safra/25, principalmente do arábica. Segundo boletim do Escritório Carvalhaes, a colheita da nova safra brasileira avança em bom ritmo, e os primeiros números estão confirmando as previsões para essa temporada: uma safra maior para o conilon e uma safra bem menor de arábica.

Mesmo em ano de bienalidade negativa, a produção de café deve apresentar um crescimento de 2,7% na safra/25 frente ao volume colhido no ano passado e este bom resultado estimado está influenciado, principalmente, pela recuperação de 28,3% nas produtividades médias das lavouras de café conilon, conforme aponta levantamento da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento). 

Na semana passada, justamente em função desta retomada na produção de conilon/robusta, os futuros desta variedade registraram suas mínimas em 10 meses na Bolsa de Londres. Afinal, não se recuperou apenas a produção brasileira, mas também a vietnamita e indonesia. A produção melhor em Uganda também é mais um destaque Com as perdas marcadas no mercado futuro inglês na última sexta-feira (13), o mercado do robusta registrou sete semanas consecutivas de recuo, sendo esta a mais longa sequência de perdas desde o final de 2018.

Comportamento dos preços do robusta em Londres - Gráfico: Bloomberg

"Com esse desenvolvimento, espera-se que as preocupações com a oferta de robusta diminuam, o que pode levar a uma correção no contrato de julho, assim que os riscos climáticos no Brasil diminuírem. No médio prazo, a perspectiva para os preços do robusta é mais pessimista, acrescentou", afirmou Laleska Moda, analista de mercado da Hedgepoint Global Markets.

Porém, essa recuperação pode ainda não ser suficiente para atender à demanda global, especialmente se o consumo continuar forte e pelo fato de que a produção deverá ser melhor de robusta, mas não de arábica. Os números mostram que a variedade ainda deverá registrar um déficit considerável. 

O analista de mercado da Archer Consulting, Marcelo Fraga Moreira, destaca que no cenário atual, por enquanto, o quadro “oferta mundial x demanda mundial” continua indicando um déficit para o próximo ciclo 25/26 entre 8 e 15 milhões de sacas. “Podemos ter uma provável equalização a partir da próxima safra 26/27. Tudo dependerá do Brasil”, completou o analista. O Brasil está há cinco anos sem produzir uma grande safra de café. Neste período, a demanda se mostrou resiliente e as exportações chegaram a atingir níveis recordes no ano passado.

De acordo com o analista de café da StoneX, Fernando Maximiliano, com vários anos consecutivos enfrentando o contexto de frustração de safra, o país vive atualmente com estoques reduzidos. "Em 2024, exportamos café de forma recorde, o que nos fez chegar em 2025 com uma oferta muito limitada. Por outro lado, a indústria tem trabalhado como modo just-in-time, ou seja, basicamente com estoques de gestão, reduzidos ou inexistentes, apenas para suprir a demanda atual. Isso tudo por conta da forte valorização do café nos últimos anos. Com isso, temos uma combinação explosiva: a indústria precisando adquirir café em um cenário de oferta muito limitada. A safra/25 trará um certo alívio na oferta, mas ainda não deverá reconstruir os estoques”, explicou.

E a junção dos fatores: problemas climáticos afetando a produção de café (impactando a oferta), baixos estoques, e um aumento de custos para a indústria cafeeira de 224% com matéria-prima refletiu diretamente no preço para o consumidor final. Entre abril de 2024 e abril de 2025, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o preço do produto no Brasil aumentou 80%, ocasionando uma queda no consumo de café no varejo brasileiro de 5,13% nos primeiros quatro meses do ano, em comparação com o mesmo período do ano passado e, especificamente, um recuo de 15,96% no mês de abril/25 em relação com abril/24.

“A matéria-prima vem subindo constantemente. Ela representa cerca de 60% da composição de preço do café torrado e moído, e isso fez com que chegássemos em um ponto que se tornou inevitável o repasse destes aumentos ao consumidor final”, alerta o diretor executivo da ABIC (Associação Brasileira da Indústria de Café), Celírio Inácio da Silva.  Inácio afirma que mesmo com a forte valorização, o café é uma bebida que engloba a cultura e o hábito dos brasileiros e, com isso, o consumo deve se manter resiliente. "Vamos aproveitar a boa produtividade da safra/25 do conilon para minimizar mais aumentos de preço ao consumidor”, completou. 

Por: Raphaela Ribeiro
Fonte: Notícias Agrícolas

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