Efeito Trump: Setor cafeeiro acredita que café deve ser incluído na lista de exeções para isenção de tarifas dos EUA
Após anúncio da aplicação de uma tarifa de 50% sobre os produtos importados do Brasil, realizado nesta quarta-feira (09) pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, especialistas do setor cafeeiro demonstraram preocupação, principalmente, sobre as exportações brasileiras de café, uma vez que o Brasil é o principal fornecedor do grão aos EUA.
Com a tarifação de 50% sobre o produto, a oferta do deve ficar restrita no mercado internacional. Porém, ainda é cedo para avaliar os impactos desta nova alíquota do presidente americano, e o setor acredita que, se consolidada, o café entrará em uma lista de exceções isenta de tarifas nos EUA, em trabalho que conta com apoio da Associação Nacional do Café (NCA) dos EUA.
Veja as opiniões dos especialistas do setor:
Haroldo Bonfá, analista de mercado e diretor da Pharos Consultoria
"Se entrar em vigor , vai ser um super desatre , principalmente para as vendas já feitas. E isso também pode suspender as futuras. A política de Trump sempre pode impactar o mercado cafeeiro".
Eduardo Carvalhaes, analista de mercado do café do Escritório Carvalhaes
" Não dá para saber o que vai acontecer, não tem detalhamento, não tem nada, e eu acho que eles vão voltar atrás. Porque não tem sentido que os americanos colocaquem 50% em cima do preço do café verde, já que eles industrializam esse café, a própria indústria americana está contra isso. Tudo no mundo hoje é rápido, o Trump fala uma coisa um dia, fala outra coisa outro dia, assim, fica impossível de saber o que vai acontecer, e temos que aguardar. Não vejo lógico uma vez que o Brasil é o maior fornecedor de café verde para os Estados Unidos, e as indústrias americanas transforma essas exportações em muita riqueza e muito emprego. Acho que eles vão voltar atrás".
Vicente Zotti, sócio-diretor da Pine Agronegócios
"No momento, a incerteza é muito maior do que a certeza. Mas, eu acredito que o mercado não vai trabalhar com o cenário de 50% de tarifa, porque já foi anunciado que alguns itens entrariam em exceção, e essa lista de exceção contaria com o café. Já tinha colocado pelo próprio SDA essa possibilidade de colocar café, suco de laranja em exceção, e eu acredito até que o mercado está trabalhando nessa situação. Porque se for verdade, o 50%, a demanda de café Robusta com anilonquista no Brasil migraria para a Indonésia e Vietnã, que fortaleceria os futuros de Arábia. É claro, mercado ainda no programa eletrônico, tem muita coisa pra rodar. Temos que aguardar".
Fernando Maximiliano, analista de café da StoneX
" Isso é uma preocupação para as exportações brasileiras, sem sombra de dúvidas. Os Estados Unidos é o principal destino das nossas exportações de café, então, a imposição dessas tarifas vai diminuir a competitividade do nosso produto. Um ponto importante é: Além do Brasil, além dos exportadores, quem mais vai sofrer com isso? A gente já tem inflação de mais de 20% no acumulado anual, e a imposição dessas tarifas intensificaria ainda mais a inflação para o prórpio consumidor americano. Isso também afetaria a própria indústria americana, porque se olharmos os dados da própria Associação Nacional do Café (National Coffee Association), conseguimos imaginar o impacto da indústria do café na economia americana. Em 2022, foram 343,2 bilhões de dólares movimentados, 2,2 milhões de pessoas empregadas, e a cada um dólar gasto de exportação de café nos EUA, é gerado um valor dentro do próprio país de 43 dólares. Avaliando esse cenário, no final das contas, a mais impactada seria a própria indústria americana. Lembrando também que o país é o maior consumidor do mundo de café. Os Estados Unidos também impôs tarifas sobre Vietnã, Indonésia, Colômbia, os principais fornecedores de café ao país, então, isso tudo de novo coloca mais pressão sobre a indústria americana".
Marcos Matos, diretor-geral do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé)
"O Cecafé acompanha com muita atenção as discussões das tarifas nos Estados Unidos. É importante mencionar que os EUA é o país mais importante em termos de consumo de café, ao redor de 24 milhões de sacas, e o Brasil é o principal fornecedor nesse mercado, com mais de 30% do Market Share. É sabido que as tarifas de café, até então, nós tínhamos 20% no Vietnã, Indonésia com 30%, Nicarágua com 18% e todos os demais países concorrentes do Brasil com 10%, e o próprio Brasil estava nessa faixa de 10% e agora foi anunciado 50%. Estamos fazendo todo um trabalho, uma agenda positiva junto aos nossos parceiros, a National Coffee Social Association e membros desta associação junto à administração Trump. Importante lembrar que o café gera muita riqueza nos Estados Unidos. O país importa café e agrega valor na industrialização, para cada um dólar de café importado são gerados 43 dólares na economia americana, são 2,2 milhões de empregos, 1,2% do PIB norte-americano, gerando 343 bilhões de dólares na economia, 76% dos americanos tomam café. O café é muito mais consumido que qualquer outra bebida hoje no mercado. Então existe uma agenda positiva, existe um trabalho feito. Nós temos a esperança de que o bom senso prevaleça a previsibilidade de mercado, porque nós sabemos que quem vai ser onerado é o consumidor norte-americano. E tudo que gera impacto ao consumo é ruim para o fluxo do comércio, é ruim para a indústria, é ruim para o desenvolvimento dos países, produtores e consumidores. Portanto, estamos na agenda, nessa agenda positiva, esperançosos de que nós tenhamos uma condição muito mais apropriada e adequada para o comércio de café do Brasil para os Estados Unidos".
Gil Barabach, analista da consultoria Safras & Mercado
"EUA é o principal importador de café do Brasil. Lógico que tarifas de 50% preocupam e podem reduzir embarques de café brasileiro para lá. Mas, ainda é preciso aguardar os desdobramentos para verificar o que será efetivo".
Guilherme Morya, analista de mercado do Rabobank
"A imposição da tarifa de 50% pelo governo Trump já começa a impactar o mercado de café, refletindo em uma valorização dos preços no curto prazo. O Brasil, responsável por cerca de 30% das exportações globais da commodity e por aproximadamente um terço das importações americanas, exportou 8,1 milhões de sacas de 60 kg para os Estados Unidos apenas em 2024. Com a nova tarifa, o café brasileiro perde competitividade no mercado americano, uma vez que o aumento de custos para os importadores tende a favorecer outros produtores. Países como Colômbia, Honduras, Etiópia e Vietnã, por exemplo, podem ganhar espaço, especialmente em um cenário de estoques globais apertados. Ainda é cedo para avaliar os efeitos de longo prazo, pois será crucial observar se a tarifa será implementada integralmente e por quanto tempo permanecerá em vigor. Essa medida pode reconfigurar os fluxos do comércio internacional de café, com impactos para produtores, exportadores e consumidores. Outro ponto de atenção é a demanda nos Estados Unidos. Apesar da recente queda nos preços, o consumo segue pressionado por fatores inflácionarios e econômicos. Um aumento de 50% nos custos pode agravar esse cenário, tornando o café um produto menos acessível ao consumidor final".