Tarifas americanas trazem desorganização no mercado internacional do café e possibilidade de triangulação
Atualmente, o mercado de café enfrenta um cenário de grandes incertezas. Além das constantes e fortes oscilações nas bolsas de Nova York e Londres, o setor vive um grande desafio comercial, após imposição do presidente americano Donald Trump da tarifa de 50% sobre as exportações brasileiras aos EUA.
O Brasil é o maior produtor e exportador de café do mundo. Os cafés brasileiros representam uma fatia superior a 30% do mercado cafeeiro norte-americano, sendo a indústria de café dos EUA responsável pela sustentação de mais de 2,2 milhões de empregos no país, gerando mais de US$ 101 bilhões em salários. Além disso, a cada US$ 1 que os EUA importam de café, são injetados outros US$ 43 na economia americana, fazendo com que o setor movimente US$ 343 bilhões ao ano, montante que representa 1,2% do PIB dos Estados Unidos.
Desde a imposição da tarifa de 50%, que entrou em vigor em 6 de agosto deste ano, dados do Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café) apontam que os EUA deixaram de ser o maior mercado do Brasil, e as vendas do produto caíram 46% no mês de agosto/25, em comparação com o ano anterior. A entidade acredita que as exportações cairão ainda mais, caso a tarifa siga em vigor.
Enquanto os embarques brasileiros aos EUA recuam, dados do Cecafé destacam que os embarques do grão para a Colômbia aumentaram 578% em agosto em relação ao ano anterior, para 113.000 sacas de 60 quilos. Este aumento significativo despertou então discussões sobre uma possível triangulação do produto brasileiro para chegar ao mercado norte-americano.
A Colômbia é o terceiro maior produtor de café do mundo, e o grão colombiano está sujeito a uma taxa de apenas 10%. Segundo o chefe da Federação de Cafeicultores da Colômbia, Germán Bahamón, em uma declaração distribuída a executivos do setor e agências alfandegárias, que foi publicada pelo portal internacional Bloomberg, "a preocupação é que exportadores inescrupulosos tentem misturar grãos brasileiros mais baratos com seus próprios produtos mais caros, em sacos rotulados como 100% café colombiano. A Federação pede ao governo que reforce os controles para evitar qualquer tentativa de triangulação do café, que deturpe a origem do produto colombiano. Se alguém na cadeia estiver envolvido nessas práticas, deve ser denunciado imediatamente para que as medidas apropriadas possam ser tomadas no âmbito das licenças de exportação", alertava o comunicado.
Uma análise feita pelo analista de mercado do Escritório Carvalhaes ao Conselho Nacional do Café (CNC), Eduardo Carvalhaes aponta que a triangulação pode momentaneamente atender demandas pontuais, mas não substitui a robustez de uma relação comercial direta, transparente e fortalecida entre Brasil e EUA.
O Cecafé reforça ainda que reexportar café brasileiro por meio de outros países não é uma alternativa sólida para contornar as tarifas norte-americanas, e que o comércio direto entre Brasil e EUA é fundamental para estabilidade do mercado.