Mudança na tarifa de café de Trump ajuda torrefadores dos EUA, mas prejudica Brasil

Publicado em 17/11/2025 16:42 e atualizado em 17/11/2025 18:46

Por Marcelo Teixeira e Roberto Samora e Oliver Griffin

NOVA YORK (Reuters) - A decisão do governo Trump de eliminar as tarifas sobre a maioria das importações de café em grão será uma bênção para os torrefadores e importadores de café nos Estados Unidos, mas o Brasil, maior produtor e exportador mundial, sofrerá porque seu produto continuará sujeito a uma tarifa elevada.

Embora as medidas anunciadas no final da sexta-feira eliminem as tarifas de importação de café em grão de quase todos os países produtores, no caso do Brasil apenas a taxa recíproca de 10% foi eliminada, permanecendo uma tarifa de 40%.

Analistas e autoridades do setor cafeeiro disseram na segunda-feira que as mudanças levarão os Estados Unidos, o maior mercado de café do mundo, a buscar grãos da Ásia e outros lugares da América Latina, enquanto desprezam os grãos brasileiros.

"É apenas uma questão de ajuste de preço dos fluxos comerciais", disse Judith Ganes, presidente da J. Ganes Consulting e analista sênior de "soft" commodities.

A maioria dos países produtores de café das Américas, com exceção do Brasil, tinha anteriormente tarifas de 10%, que foram eliminadas.

Os produtores asiáticos tinham tarifas ainda maiores, que também foram eliminadas, o que significa que eles também poderão abastecer os EUA com isenção de impostos.

"Isso traz algum alívio para o fornecimento de café dos EUA, mas com os 40% sobre o Brasil continuará sendo difícil", disse o banco holandês Rabobank em uma nota.

"Sem a isenção total para o Brasil, isso não terá tanta importância, pois ainda é proibitivo importar café para os EUA", disse um importador de café com sede na Califórnia.

O Brasil, que costumava fornecer um terço dos grãos de café dos EUA, continua negociando um acordo separado.

"A modificação que nós tivemos no fim da semana passada pelos Estados Unidos coloca mais pressão em relação à competitividade do Brasil, distorce mais o mercado e nos distancia da competitividade em relação aos nossos concorrentes", disse Marcos Matos, diretor-geral do Conselho de Exportadores de Café do Brasil (Cecafé).

"Nós perdemos espaço e os nossos concorrentes assumiram esse espaço. E isso pode ser e tende a ser irreversível. Cada dia que passa aumenta o nosso drama."

O setor de cafés especiais do Brasil viu os embarques para os EUA caírem 55% nos últimos três meses, desde o início das tarifas, disse Luiz Saldanha, vice-presidente da Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA), acrescentando que a situação pode piorar.

"Os estoques existentes de café brasileiro lá (EUA) estão se esgotando e o setor está buscando alternativas para substituir o café brasileiro em suas misturas", disse Saldanha.

REALOCAÇÃO

O executivo do Cecafé também citou que, de maneira geral, os embarques de café do Brasil para os EUA têm caído mês após mês desde a implantação da tarifa. "A gente retraiu 46% em agosto, 52,8% em setembro e 54,4% em outubro", disse Matos.

Questionado se haveria a possibilidade de o café brasileiro ser importado e reexportado para os EUA, por países isentos de tarifas, Matos indicou que isso seria ilegal.

Mas ele ponderou que já há uma realocação de embarques, com países produtores, como México e Colômbia, importando geralmente o café conilon brasileiro para consumo local, enquanto eles elevam o saldo exportável de seu próprio produto.

"O que nós temos aqui é o conceito da realocação. A triangulação por si é uma operação ilegal, porque existem regras alfandegárias e regras ao comércio que impedem esse tipo de iniciativa. Quando há uma triangulação, o país que recebe o café precisa indicar a sua origem, ou seja, continuaria existindo tarifas, porque ele precisa indicar a origem", explicou.

O dirigente do Cecafé defendeu a continuidade de negociações do Brasil com os EUA para que o café brasileiro também fique isento. "Se deixarmos para 2026, os prejuízos são incalculáveis e, inclusive, irrecuperáveis."

(Reportagem de Marcelo Teixeira em Nova York, Roberto Samora e Oliver Griffin em São Paulo)

Fonte: Reuters

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