Mão de obra limita ganhos na cafeicultura

Publicado em 22/10/2010 06:46
A escalada das cotações do café no mercado internacional abre boas perspectivas de remuneração para quem investe na commodity nesta safra 2011/12. Para muitos produtores, pode ser a chance de ampliar ganhos obtidos no ciclo passado, em parte já favorecida pela ascensão dos preços. Mas o quadro positivo não é generalizado, e o aumento de custos, este sim geral, tende a pressionar margens sobretudo para quem não investe em produto de melhor qualidade.

Apreciado no exterior, o café colombiano, por exemplo, está atualmente 45% mais valorizado do que na média dos últimos seis anos. Na mesma comparação, o grão brasileiro de boa qualidade aparece, em média, com cotações 21% superiores. Para as exportações dos dois países, a aquecida demanda externa e os problemas na oferta de concorrentes da América Central sustentam a tendência. Ontem, os preços voltaram a subir e atingiram o maior patamar nos últimos 13 anos. Os contratos para março fecharam o dia a US$ 2,0235 por libra-peso, valorização de 2%.

"Ainda que o preço tenha melhorado, o aumento dos custos consumiu boa parte da renda. De qualquer forma, o mundo se prepara para enfrentar um déficit na relação entre oferta e demanda, que tende a gerar uma alta maior que, aí sim, será revertida para o produtor", afirma Carlos Meles, presidente da Cooparaíso, cooperativa sediada em São Sebastião do Paraíso, no sul de Minas.

Próximo dali, no município de Guaxupé, Carlos Paulino, presidente da Cooxupé, maior cooperativa de café do mundo, diz que o fato da maior parte dos cooperados ser de agricultores familiares permite que a renda seja maior. "Quando o cafeicultor é pequeno e usa a mão de obra familiar, o peso disso no custo é menor. Isso permite que ele aproveite melhor essa alta de preços que estamos vendo", afirma Paulino.

Mas o cenário para o café de qualidade inferior é distinto. Dados da Organização Internacional do Café (OIC) apontam que, em 2010, a média de US$ 0,7483 por libra-peso paga pelo café robusta, normalmente menos valorizado que a variedade arábica, é 2,3% inferior à média dos últimos seis anos.

"Houve uma valorização dos preços do café, mas isso vale para o produto fino, de alta qualidade. No caso brasileiro, da safra que colhemos em 2010 cerca de 30% foram de café robusta, 15% de café arábica de baixa qualidade e os 55% restantes de um produto melhor, capaz de aproveitar o bom momento de preços", diz o consultor Luiz Araripe, da Valorização Empresa de Café.

Se a elevação dos preços não favoreceu toda a safra de 2010 - estimada pela CONAB em 47,2 milhões de sacas - o aumento dos custos, especialmente da mão de obra, consumiram parcela significativa da rentabilidade da cultura. Em Guaxupé, onde predomina a colheita manual e a os grãos têm qualidade superior, o peso da mão de obra passaram a representar mais de 50% do custo total.

Já nos polos onde a mecanização pode ser introduzida, como no oeste da Bahia, a realidade é diferente. Se por um lado a operação e o aluguel de máquinas respondem por 26,5% dos custos, a parcela da mão de obra tem um peso de apenas 3,7%, conforme a CONAB.

"Os preços foram bons, mesmo durante o pico da colheita. Mas não podemos esquecer que existem diferenças de tecnologia em cada região produtora e que interferem diretamente na formação do custo. Nossos levantamentos apontam para oscilações entre R$ 250 e R$ 400 por saca", afirma Margarete Boteon, do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/USP).

Mesmo com a renda da última safra sendo comprometida em algumas regiões por conta dos custos, a expectativa para os próximos anos é de uma valorização ainda maior com melhor aproveitamento por parte dos cafeicultores. O ritmo de crescimento da oferta será inferior ao aumento da demanda. A dificuldade dos países da América Central em elevar a oferta e com a safra 2011/12 no Brasil sendo menor, devido ao ciclo de baixa da bienalidade do café, a expectativa é de alta mais expressivas a partir de 2011.

"Existe um otimismo grande em relação ao futuro dos preços e, de fato, teremos um período de bonança por algum tempo", diz Carlos Brando, diretor da P&A Consultoria. O consultor defende que diante do cenário atraente seria o ideal para promover mudanças necessárias à atividade. "É a chance que o Brasil tem para realizar mudanças estruturais no sentido de resolver o problema da rentabilidade da cultura", diz Brando, que aponta quatro pontos considerados essenciais.

O primeiro seria a criação de um movo modelo tecnológico para viabilizar a cafeicultura de montanha, uma das mais atingidas pelo custo da mão de obra. O segundo ponto é a necessidade de financiar a transferência e difusão das tecnologias já existentes. Outra mudança necessária é a alteração no sistema de financiamento, que tenha como base a produtividade e não apenas a área plantada, como ocorre hoje. Por mim, o quarto ponto envolve um plano de marketing efetivo, com objetivo de agregar valor ao café. "O problema é que o setor só se une para discutir assuntos importantes quando seus problemas estão prejudicando muita gente e nunca durante um período de bonança como o que se desenha agora", afirma Brando.

Diante das perspectivas positivas, a Cooxupé está colocando em prática um plano para ampliar sua capacidade de armazenagem e beneficiamento. São R$ 55 milhões para elevar em 40% sua estrutura e chegar a 4,5 milhões de sacas. A área para armazenamento começa a funcionar no mês que vem, enquanto a de beneficiamento entre em operação entre abril e maio de 2011. "A parte de beneficiamento é toda automatizada e será capaz de separar os cafés por cores e tamanhos, permitindo elevar a qualidade", afirma Paulino.

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Fonte:
Valor Econômico

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