Conselho da JBS autoriza renegociação de dívidas com bancos. Dívida supera 56.8 bi

Publicado em 14/07/2017 18:04
JBS foi um dos negócios mais bem bolados do BNDES, diz chefe do banco (FOLHA) -- No olho do furacão, grupo JBS balança no mercado financeiro (CORREIO BRAZILIENSE)

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SÃO PAULO (Reuters) - O Conselho de Administração da JBS autorizou acordo para estabilização e renegociação de dívidas do grupo de alimentos e proteína animal com bancos credores, informou a companhia em comunicado ao mercado nesta sexta-feira.

O acordo de "estabilização" da dívida foi aprovado para ser realizado com os bancos Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil, Bradesco, Santander Brasil, BNP Paribas Brasil, HSBC Brasil, Rabobank, Banco Mizuho do Brasil, Citibank, Industrial and Commercial Bank of China, Bank of China (NY), além do Deutsche Bank e com a Cargill.

Esse acordo prevê "a substituição das operações de dívida celebradas com os bancos ou prorrogação das parcelas de principal", segundo ata da reunião realizada na sexta-feira passada.

Já um acordo de "renegociação" foi aprovado com o Itaú Unibanco, afirmou a JBS no documento sem dar mais detalhes.

A Reuters noticiou na quinta-feira que a JBS estava próxima de um acordo para o refinanciamento de dívidas bancárias no valor de 18 bilhões de reais que vencem dentro de um ano.

A JBS tinha até o final de março dívida líquida de 47,8 bilhões de reais e uma relação de dívida líquida sobre lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) de 4,2 vezes.

JBS foi um dos negócios mais bem bolados do BNDES, diz chefe do banco (na FOLHA)

O presidente do BNDES, Paulo Rabello de Castro, afirmou nesta sexta (14) que o apoio à JBS "foi um dos negócios mais bem bolados e bem-sucedidos" do BNDESPar, o braço de participações da instituição, que detém 21,3% das ações da companhia.

Em acordo de delação premiada com a Procuradoria-Geral da República, o empresário Joesley Batista, da família que controla a JBS, disse que pagou propina ao ex-ministro da Fazenda Guido Mantega para obter a aprovação de seus projetos no banco.

O BNDESPar investiu R$ 8,1 bilhões na JBS e se tornou o maior acionista minoritário da empresa, que é a maior processadora de proteína animal do mundo. Sua participação se desvalorizou com a queda das ações nos últimos meses, quando investigações policiais e a delação de Joesley e seu irmão Wesley Batista lançaram suspeitas sobre seus negócios.

Rabello de Castro, que assumiu o cargo em maio, divulgou ontem o "Livro Verde do BNDES", um documento elaborado para defender o banco e, nas palavras do executivo, fazer uma "grande prestação de contas, diante de dúvidas suscitadas a partir do momento político". O documento reúne informações públicas sobre as operações do BNDES, sem esclarecer os motivos das escolhas feitas pelo banco nos últimos anos.

Com apoio da Caixa, que também é acionista minoritária da JBS, o BNDES pediu recentemente a convocação de assembleia de acionistas para discutir a gestão da empresa após a crise provocada pela delação dos irmãos Batista.

Os Batista até agora não convocaram a assembleia nem indicaram disposição de fazê-lo. "Estamos conscientes de que a empresa passa por momento delicado e quem mais sofre com isso é o mercado de carnes, já que a falta de liquidez da empresa reduz sua capacidade de comprar", afirmou Rabello.

O apoio ao frigorífico foi alvo da Operação Bullish, da Polícia Federal, em maio, que obteve mandados de condução coercitiva de 37 pessoas ligadas à JBS e ao BNDES.

SEM FAVORECIMENTO

No Livro Verde, o banco sustenta que não houve favorecimento ao grupo dos irmãos Batista e que as operações com a JBS são lucrativas para o banco.

De acordo com o documento, a JBS recebeu 26% dos recursos do banco destinados a apoiar o setor de carnes entre 2005 e 2016. A Bertin, adquirida pela empresa dos Batista, recebeu outros 12%, mas antes da aquisição.

Já a BRF ficou com 16% e a Marfrig, com 14%, e outras empresas, com 32%. Ao todo, foram desembolsados R$ 31,2 bilhões para o setor.

"É pura fantasia dizer que aqui tem um sujeito que é amigo do rei e pediu preferência para determinada empresa", afirmou Rabello de Castro.

O BNDES defende que, até o fim de 2016, o apoio à BNDES tinha um resultado positivo de R$ 3,560 bilhões: o banco injetou R$ 8,110 bilhões na empresa, já recebeu R$ 1 bilhão em dividendos e outros R$ 4,040 bilhões com a venda de ações.

No fim de 2016, o valor da fatia na empresa valia R$ 6,631 bilhões. O valor, porém, foi reduzido com a queda no preço das ações após a delação. Rabello de Castro diz, porém, que o banco não terá prejuízo com isso porque não pretende vender os papeis agora.

  Danilo Verpa - 29.mar.2012/Folhapress  
SAO PAULO, SP, 29.03.2012: Dr. Paulo Rabello de Castro durante reuniao com a coordenacao do Movimento Brasil Eficiente que anunciou nesta sexta-feira, em sua primeira reuniao do ano, a adesao do governador Eduardo Campos (PSB-PE) e do publicitario Nizan Guanaes, que cuidara da comunicacao do movimento. O evento ocorreu na Escola de Economia da FGV. (Foto: Danilo Verpa/Folhapress, PODER)
Paulo Rabello de Castro, presidente do BNDES

CUBA

Entre as operações questionadas pelo mercado, o relatório dá destaque também ao financiamento de bens e serviços para exportações, produto que foi remodelado após a entrada da ex-presidente Maria Silvia Bastos Marques em maio de 2016.

Alguns contratos assinados por empresas investigadas pela Operação Lava Jato chegaram a ser suspensos. O banco diz que, em 20 anos de atuação, apenas um projeto de financiamento à exportação registrou atrasos nos pagamentos: o contrato do Aeroporto de Nacala, em Moçambique.

"Os financiamentos às exportações de serviços de engenharia realizados pelo banco entre 2007 e 2015 movimentaram uma rede de 4.044 fornecedores no Brasil", defende o documento, calculando que o número de empregados nessas empresas subiu de 402 mil em 2007 para 788 mil em 2014.

O texto destaca projetos em Angola e em Cuba. Na ilha caribenha, diz, os empréstimos garantiram a exportadores brasileiros "acesso a um mercado restrito e com dificuldades de obtenção de crédito".

PSI

No Livro Verde, o BNDES faz uma crítica ao Programa de Sustentação do Investimento (PSI), criado pelo governo Lula após a crise internacional de 2008 e responsável pelos aportes de R$ 440,8 bilhões do Tesouro no banco entre 2008 e 2014.

"Diante dos resultados macroeconômicos na presente década, e considerando o elevado montante dos recursos envolvidos (...) é forçoso hoje reconhecer que parte do programa não atingiu, em sua plenitude, o objetivo de manter a trajetória da Formação Bruta de Capital Fixo (FCBF) em patamares elevados no Brasil.

Para Rabello de Castro, os dados mostram que o programa deveria ter sido encerrado em 2011, já que não produzia mais efeitos de arraste de outros investimentos. Em 2009, por exemplo, cada real desembolsado no PSI gerava R$ 1,18 em investimento. Em 2010, esse número caiu para R$ 0,58.

Ainda assim, Rabello de Castro argumenta que o aporte líquido do Tesouro no banco foi menor, considerando que o banco retorna ao Tesouro impostos e dividendos. Entre 2006 e 2016, diz o documento, o banco recebeu, em valores atualizados, R$ 1,025 trilhão e devolveu R$ 866,220 billhões.

TLP

Rabello de Castro disse que a polêmica envolvendo declarações suas a respeito da TLP foi um mal entendido e que não defende mudanças na taxa criada pelo governo para substituir a TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo).

"Não foi crítica alguma, a gente [no Brasil] está muito ansioso", reclamou, dizendo que apenas tentava explicar "uma coisa óbvia" no cálculo da nova taxa: que, por refletir o custo de captação do Tesouro no mês anterior, pode ter variações mais bruscas dependendo do momento político e econômico.

As declarações levaram ao pedido de demissão de dois diretores do banco, Vinícius Carrasco e Claudio Coutinho —este será substituído pelo ex-diretor do Banco Central Carlos Thadeu de Freitas.

"O BNDES é executor de política econômica. Não temos que ficar pensando exageradamente, a não ser que sejamos chamados a pensar", disse. 

No olho do furacão, grupo JBS balança no mercado financeiro (CORREIO BRAZILIENSE)

Valor de mercado da maior empresa dos irmãos Joesley e Wesley Batista já caiu 47% neste ano. Especialistas põem em dúvida futuro do grupo, que cresceu com apoio dos governos petistas. Holding J&F tenta vender ativos para pagar dívidas

O império da família Batista caminha para o desmantelamento. Após ser agraciado pelos governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff com vultosos empréstimos subsidiados do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), no âmbito da política de formação de “campeões nacionais”, tanto a holding J&F quanto a JBS ficarão bem menores do que são hoje, dizem especialistas.  Porém, não há um consenso de que o grupo chegará à bancarrota.


Após a tempestade provocada pela delação premiada dos irmãos Joesley e Wesley Batista, que atingiu o governo de Michel Temer, o valor de mercado da JBS, uma das duas empresas da J&F listadas na Bolsa de Valores de São Paulo, despencou. Em 31 de dezembro de 2016, a companhia era avaliada em R$ 31 bilhões. No último dia 20, considerando o valor das ações, o total havia caído para R$ 16,4 bilhões, um tombo de 47%. O montante não é suficiente para cobrir a dívida bruta do grupo dono das marcas Friboi, Maturatta e Seara. O endividamento é 3,5 vezes maior: R$ 58,6 bilhões, o terceiro maior entre as companhias de capital aberto, conforme dados da Economática.

Analistas acreditam que a JBS terá dificuldade para honrar o acordo de leniência firmado com o Ministério Público, que prevê o pagamento de multa de R$ 10,3 bilhões em 25 anos. Os bancos credores evitam comentar o assunto, mas fontes do mercado dizem que eles estão preocupados com um eventual calote e, por isso, não oferecem novas linhas de crédito. “O maior problema da JBS, hoje, é conseguir empréstimos para saldar dívidas. Os bancos fecharam as portas”, disse uma fonte próxima ao grupo. Para ela, os ativos são suficientes para gerar caixa para que a holding sobreviva à turbulência. Antes de quebrar, observa, o grupo entraria em recuperação judicial.

Procurada, a JBS informou que “todos os compromissos firmados com os bancos seguem em linha com o que foi pactuado, e não há débitos pendentes”. “A companhia mantém um relacionamento de longo prazo com instituições financeiras públicas e privadas, com as quais tem mantido discussões produtivas e construtivas, e reitera que considera as relações e negociações com os bancos fundamentais para o desenvolvimento de suas atividades no país”, completou.

Eduardo Velho, economista-chefe da A2A Asset &INVX Global Partners, disse que ainda é cedo para avaliar, mas reconheceu que o futuro da empresa não é muito promissor. “A forte queda no valor de mercado deverá se refletir no faturamento da empresa daqui para a frente. Apesar de a maior parte da receita vir das operações no exterior, a venda de ativos é o caminho mais curto para fazer caixa para saldar as dívidas, que não são pequenas”, afirmou.

Para Velho, o grupo não vai quebrar porque um dos maiores acionistas da JBS é justamente o BNDES, que tem quase 25% do capital da empresa. “Uma falência seria péssima para a imagem do banco, que já está arranhada, e o governo não conseguiria justificar o enorme investimento feito na companhia. Por isso, a JBS pode sobreviver. As ações não devem virar pó, como ocorreu com a OGX (de Eike Batista), que não tinha ativos como a J&F tem”, disse Velho, citando, como exemplo, a Alpargatas.

Desconto


A J&F comprou a Alpargatas da Camargo Correa. A subsidiária, dona de marcas como Havaianas, Mizuno e Oakley, tem sobrevivido ao clima turbulento. O valor de mercado da empresa cresceu 37% desde o início do ano, para R$ 5,9 bilhões, e a dívida bruta não chega a R$ 600 milhões. “A Alpargatas tem marcas sólidas e respeitadas internacionalmente, mas, certamente, os ativos do grupo J&F deverão ser vendidos com desconto porque houve perda de confiança dos consumidores”, completou Velho.

Anteontem, a JBS anunciou que foi apresentado ao conselho de administração um programa de venda de ativos com previsão de arrecadar R$ 6 bilhões, além do R$1 bilhão já anunciado com a venda das operações na Argentina, no Paraguai e no Uruguai. O plano prevê a venda de 19,2% da Vigor Alimentos, da participação do grupo na irlandesa Moy Park e a alienação dos ativos da norte-americana Five Rivers Cattle Feeding, além de fazendas. A estratégia, no entanto, está sendo contestada judicialmente (veja matéria ao lado). A J&F faturou R$ 174 bilhões em 2015 e possui 220 unidades de negócios. A holding informou recentemente à agência Standard & Poor’s que o objetivo é levantar cerca de R$ 8 bilhões a curto prazo com a venda de ativos.

O economista Ruy Coutinho, ex-presidente do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), tem dúvidas se a JBS conseguirá sobreviver. Ele lembrou que os 13 processos abertos na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) contra a empresa podem custar multas pesadas, mas nada comparável ao que pode ocorrer nos Estados Unidos se a justiça norte-americana também iniciar uma caçada ao grupo. “As leis são muito mais rígidas e as punições, também, por isso vejo o futuro da JBS com muita preocupação ”, alertou.

  • Acionista forte

    O BNDES é o segundo maior acionista da JBS. Detém 21,3% das ações por meio da BNDESPar, mas tem evitado comentários sobre a empresa. Questionada sobre possíveis perdas do banco com os papéis da JBS, a instituição disse, em nota, que “a BNDESPar ainda não realizou qualquer tipo de provisão para perda por desvalorização das ações relativa ao investimento na JBS ”, mas reconheceu que a avaliação desse impacto no valor futuro da empresa “será feito ao longo dos próximos meses”. “Como acionista, a BNDESPar apoia todos os esforços em favor da preservação das atividades e empregos da companhia”, concluiu.

 

 

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Fonte:
Reuters/FOLHA/CORREIO

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