BLOOMBERG: Argentina terá que importar carne com a morte de rebanhos

Publicado em 18/08/2009 11:10 e atualizado em 19/08/2009 10:10
Bloomberg – Argentina, o país que mais consome carne no mundo, deve recorrer às importações pela primeira vez, dentro de dois anos, devido à estiagem que está matando os bois e aos controles de exportação, que levam pecuaristas a abandonarem seu negócio.

“As pastagens estão secando e o preço da ração está aumentando tanto que os pecuaristas estão deixando o gado morrer nos pastos”, informou Arturo Llavallol, diretor da Sociedade Rural da Argentina, baseada em Buenos Aires. “Os produtores estão matando mais que a reposição dos reprodutores, comprometendo o abastecimento futuro”.

O rebanho argentino diminuiu 7% desde 2006, quando o governo restringiu as exportações para aumentar o abastecimento doméstico, disse Llavallol em entrevista, em sua fazenda em Saavedra, ao sul de Buenos Aires. “O país terá que importar dentro de alguns anos”, ele informa.

“Se quisermos continuar exportando, teremos que diminuir o consumo”, disse Llavallo, que também é vice-presidente da “International Meat Secretariat” associação baseada em Paris, que representa pecuaristas do mundo todo. “Se você não tem matéria-prima suficiente, ou você fecha a fábrica ou importa”.

“Os argentinos irão consumir em média 70 Kg de carne por pessoa este ano, de acordo com Miguel Schiariti, analistas que elabora um relatório mensal para a “Câmara de Comércio e Indústria da Carne da Argentina”. O consumo cresceu de menos de 60 Kg / pessoa em 2006, quando começaram as restrições nas exportações, de acordo com a instituição.

Preços
Os preços da carne na Argentina são os mais baratos do mundo, em quase US$ 1,65 o quilo, enquanto no Brasil o quilo está em US$ 2,82 e nos Estados Unidos em US$ 2,86, informou Miguel Gorelik, representante da Quickfood SA, frigorífico da Argentina.

Exportação
A Argentina, que foi o maior exportador de carne do mundo em 1970, caiu para o sétimo lugar, de acordo com o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos). O Brasil, que hoje é o maior exportador mundial, irá embarcar quarto vezes mais carne que a Argentina este ano.

Amenizar as restrições de exportação impostas pelo ex-presidente Nestor Kirchner iria permitir que os pecuaristas conseguissem melhores preços e impediria que eles vendesse o gado destinado à reprodução para o abate, de acordo com Llavallol.

A queda na produção argentina de carne e nas exportações poderia prejudicar os ganhos de frigoríficos brasileiros como o JBS, o maior do mundo, e o Marfrig Alimentos S.A., que também têm abatedouros na Argentina.

O JBS, que se tornou o maior processador de carne da Argentina depois de sua aquisição do frigorífico americano Swift & Co., em 2007, cessou os investimentos naquele país pois os controles governamentais estariam prejudicando o crescimento econômico, informou Marcus Vinicius Pratini de Moraes, membro do conselho da empresa e ex-ministro da Agricultura do Brasil.

Problemas
“Nós paramos de produzir na Argentina devido a esses problemas”, informou Pratini de Moraes, em entrevista realizada em 14 de agosto. “O mundo está atualmente dividido em três tipos de países: os desenvolvidos, as nações emergentes e a Argentina”.

A Bloomberg informa que tentou entrar em contato com o ministério de Agricultura da Argentina, em Buenos Aires, com o escritório da presidente Cristina Kirchner e com o representante do palácio presidencial, mas não conseguiu retorno.

Partes do centro e do oeste da provincial de Buenos Aires estão sofrendo uma “estiagem severa”, informou a “Buenos Aires Cereal Exchange” em recente relatório. A instituição informou que o relatório desta semana irá mostrar que as chuvas não aliviaram a seca na região, fazendo os pecuaristas a venderem seus rebanhos.

Afetando os rebanhos
“Sem dúvida isso vai afetar os rebanhos”, informou Gorelik. “Já houve mortes, mas é difícil quantificar”. A dieta argentina consiste de grandes quantidades de carne devido a uma tradição de mais de três séculos, quando os cowboys conhecidos como “gaúchos”, na colônia espanhola se alimentavam do gado selvagem nos Pampas e vendiam a pele dos animais.

Os pecuaristas esperam que chuvas cheguem ao país este ano, devido à formação do El Niño, que aquece a temperatura do oceano e cria um excesso de precipitações nos Pampas. A Bloomberg informa também que diversos pecuaristas abandonaram o ramo para se dedicar às lavouras e que não pretendem voltar a criar gado.     

Tradução: Fernanda Bellei


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Fonte:
Bloomberg

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