Mais uma vez, Irlanda pede embargo à carne brasileira
Autoridades do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) encontraram tais resíduos em carne processada exportada pela JBS a partir de sua planta de Lins (SP). A empresa teve de fazer recall do produto. O episódio levou o Ministério da Agricultura brasileiro a suspender temporiamente as exportações de carne industrializada aos EUA.
Na próxima semana, autoridades dos dois países vão se reunir para discutir a harmonização dos métodos de análise da carne. A metodologia utilizada pelo Brasil segue recomendação do Codex Alimentarius (organismo internacional de referência para a segurança dos alimentos). Nesse método, o fígado é analisado. Os EUA analisam o músculo bovino.
Apesar de contar, nos EUA, com o lobby da multinacional Merial, fabricante do vermífugo Ivermectina, o Brasil terá que driblar as pressões dos pecuaristas americanos, descontentes com a eventual abertura dos EUA à carne bovina de Santa Catarina.
No site da IFA, o dirigente irlandês diz que a Comissão de Saúde e Consumidor da UE (DG Sanco) deve banir a carne brasileira e retirar dos supermercados carne industrializada do Brasil, como ocorreu nos EUA. Ele defendeu que a Comissão da UE reavalie os procedimentos de análises usados em suas visitas ao Brasil. Disse ainda que o órgão deve rever as práticas relacionadas à produção bovina no Brasil e que "produtores e consumidores estão sendo expostos a um risco desnecessário".
Para Otávio Cançado, diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne Bovina (Abiec), o pedido da IFA não tem fundamento já que a UE também segue as regras do Codex Alimentarius.
Alcides Torres, diretor da Scot Consultoria, também não acredita que o pedido irlandês tenha reflexo, mas diz que esse tipo de "bronca não ajuda nada o Brasil". Num momento de crise na Europa, em que há temor de queda na demanda por carne, o protecionismo também pode aumentar.
Desde 2008, a UE restringe as compras de carne bovina brasileira e definiu que apenas fazendas rastreadas e certificadas de uma lista administrada pela UE pode fornecer animais para abate e exportação da carne ao bloco. Hoje, há 1.957 propriedades aprovadas na lista. Antes das restrições, quando não havia essa exigência, cerca de 11 mil fazendas forneciam animais para abate.
A decisão da UE de transferir ao Brasil a administração da lista de fazendas habilitadas dependerá do teor do último relatório técnico feito por uma missão veterinária do bloco no país. Se o texto for favorável ao Brasil, como indicou o rascunho enviado ao Ministério da Agricultura, pecuaristas irlandeses - e também franceses - devem elevar a pressão política sobre as autoridades sanitárias da UE.
O bloco promoveu uma recente troca no primeiro escalão da área. Simpáticos às demandas brasileiras, a italiana Paola Testori e o luxemburguês Bernard Van Goethem comandam a DG Sanco. Mesmo assim, o governo avalia que o Brasil corre riscos de ver adiada sua reivindicação de controlar a inclusão e a exclusão das fazendas da lista. A chave do processo será o irlandês Michael Scannell, novo chefe do Escritório de Alimentos e Veterinária (FVO), que sofre forte influência do lobby pecuário irlandês, sobretudo por sua localização, próxima a Dublin.
Há dois anos, o Brasil reivindica o fim da auditoria em 100% das fazendas. Quer fazer uma auditoria por amostragem na lista. A médio prazo, o governo pensa em repassar a obrigação ao setor privado nacional. Houve avanços nos entendimentos, mas a questão política e a troca de comando podem prejudicar os objetivos brasileiros.