Americanos fazem até MBA em defesa da carne bovina

Publicado em 10/03/2011 08:26 e atualizado em 27/02/2020 17:15
Natural do Colorado, Jen Johnson adorava criar gado e comer carne, estilo de vida que algumas de suas colegas na Universidade de Princeton achavam um tanto difícil de engolir. Ela tentou ganhá-las com seu entusiasmo. Mas logo percebeu que precisava de ajuda para persuadir as colegas devoradoras de salada na irmandade estudantil a passar a pedir filés. Jen voltou, então, aos estudos para conseguir seu MBA - Master of Beef Advocacy, algo como um mestrado em defesa da carne bovina, em inglês.

A Associação Nacional de Pecuária Bovina (NCBA, na sigla em inglês), que representa os produtores, lançou o MBA há dois anos. O curso treina pecuaristas, criadores de gado em confinamento, açougueiros, chefes de cozinha - qualquer um que goste de um bom filé - na arte de promover e defender a carne vermelha.

Quase duas mil pessoas completaram o programa. Os vaqueiros querem treinar pelo menos mais 20 mil, na esperança de desenvolver um contrapeso de respeito para os defensores de direitos dos animais, que denunciam a produção de carne bovina como inumana, e os vegetarianos ativistas, que a consideram pouco saudável.

Os esforços chegam em momento complicado para o setor bovino. O consumo de carne bovina nos EUA caiu do recorde de 42,6 quilos por pessoa em 1976 para cerca de 28 quilos em 2009, segundo o American Meat Institute, grupo setorial que representa o processadores de carne no país.

Distritos escolares por todo o país adotaram a "segunda-feira sem carne" e vêm repartindo burritos de feijão em vez de hambúrgueres. No primeiro trimestre, o Departamento de Agricultura dos EUA divulgou novas diretrizes alimentares, recomendando ao consumidor substituir parte da carne em suas dietas por frutos do mar.

Enquanto isso, evangelistas vegetarianos da People for the Ethical Treatment of Animals (Peta) chamam a atenção com campanhas cada vez mais estimulantes, como a que coloca modelos, cobertas apenas com folhas de alface estrategicamente distribuídas, para oferecer cachorros-quentes de tofu nas ruas pelo país.

A Peta diz que a tática funciona. No ano passado, a organização sem fins lucrativos recebeu cerca de 850 mil pedidos de "kits para vegetarianos iniciantes", com itens como receitas de tortas de pamonha com tofu e testemunhos de celebridades engajadas como a atriz engajada Natalie Portman. "Estamos vencendo", diz Bruce Friedrich, vice-presidente da Peta. Não tão rápido, respondem os MBAs.

A carne também tem suas celebridades - o ator Matthew McConaughey fez chamadas de rádio -, mas estrategistas da indústria bovina decidiram que a melhor forma para promover o produto é colocar os homens e mulheres produtores na dianteira. O objetivo: convencer consumidores céticos de que os filés embalados com plástico nos supermercados não são commodities entupidoras de artérias produzidas em massa em fazendas-fábricas e, sim, alimentos saudáveis elaborados com grande zelo por famílias que trabalham duro. Para esse fim, os estudantes do MBA são encorajados a iniciar conversas com estranhos.

Os fazendeiros são instruídos a falar sobre as horas que passam cuidando do gado - todas as idas até os campos às 3 horas da madrugada para ajudar no parto das vacas. Os varejistas podem mencionar fatores nutricionais - que 85 gramas de determinadas carnes (eye-round) têm pouco mais gordura do que um frango sem pele, por exemplo.

Johson, de 26 anos, dedicou-se a enviar e-mails aos amigos de Princeton, descrevendo uma manhã que passou fazendo inseminação artificial em vacas ou explicando como as pastagens ajudam a terra a prosperar. A maior parte do gado bovino americano é criada em pastagens de fazendas familiares antes de ser enviada para o confinamento para engorda e, então, para os matadouros para processamento.

"Podemos mudar a dinâmica da discussão que ocorre com o consumidor com duas frases: nos importamos e somos capazes", disse Daren Williams, executivo da associação pecuarista, em aula recente de MBA, em Denver.

Os críticos dizem que uma transparência verdadeira sobre como os hambúrgueres são feitos pode ser um tiro pela culatra.

Os constantes lembretes de que um hambúrguer suculento já foi um bezerro de olhos grandes e pernas desengonçadas podem colocar algumas pessoas "com vontade de um filé", disse Michael Pollan, que escreveu vários livros bastante críticos à produção bovina moderna. "Para outros", afirmou, "os deixa com vontade de se tornarem vegan".

Para se formar, os estudantes do MBA precisam ouvir seis palestras on-line sobre produção de carne e fazer tarefas de casa como escrever uma carta pró-carnes a um jornal local. A maioria também participa, pessoalmente, de treinamentos de um dia inteiro que lhes dá dicas para defender a carne na internet, por meio de blogs, tweets, campanhas no Facebook e vídeos no YouTube.

No treinamento em Denver, o fazendeiro Troy Hadrick, de Dakota do Sul, um dos primeiros formados no MBA, contou aos estudantes um de seus recentes triunfos. Foi após Hadrick tomar conhecimento que a empresa de vinhos Yellow Tail havia doado US$ 100 mil e prometido mais US$ 200 mil para a Humane Society, um grupo de defesa dos direitos dos animais que constrangeu a indústria de gado ao mostrar vídeos filmados secretamente de abusos em matadouros.

Hadrick, indignado, colocou uma câmera de vídeo em um poste de cerca e gravou-se despejando uma garrafa de Yellow Tail em sua pastagem nevada enquanto criticava as doações como uma afronta às famílias pecuaristas. O vídeo tornou-se viral no YouTube - pelo menos entre os companheiros vaqueiros, que bombardearam a Yellow Tail com e-mails de protesto. Consternada, a vinícola desistiu da promessa de US$ 200 mil.

Suzanne Strassburger, formada no MBA que vende carne para restaurantes de alto padrão na cidade de Nova York, ainda não tentou o YouTube, mas diz que o curso a ajudou a melhorar seu discurso de vendas. "Dá mais confiança" para falar como a carne foi produzida, disse. E ela sabe falar: A carne "é meu amor e minha paixão", diz Strassburger. "É para isso que eu me levanto."

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Fonte:
Valor Econômico

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