Carne high-tech

Publicado em 20/07/2011 09:20
Pense naquele churrasco de final de semana, aquela picanha ao ponto, que só de olhar dá água na boca. Por trás desse banquete dos deuses, há anos de pesquisas e aprimoramento genético de instituições públicas e privadas.

“Não é exagero afirmar que próximo de 100% da carne vermelha consumida no mercado interno e destinada à exportação é de bovinos da raça zebu”, afirma o superintendente de marketing e comercial da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ), João Gilberto Bento.

Nas últimas décadas, o tempo necessário para um animal chegar ao peso de abate (18 arrobas) caiu de cinco anos para 2,5 anos. O pontapé inicial do melhoramento genético remete a 1875, ano que pecuaristas brasileiros importaram da Índia os primeiros exemplares de bovinos da raça zebu, que se adaptaram de maneira adequada ao clima tropical.

Na sequência, esses criadores começaram a cruzar o gado zebuíno com animais de linhagem europeia. O resultado foi um salto de produtividade ao unir a rusticidade do sangue indiano com a precocidade e maciez da carne do gado europeu. “Entretanto, com o decorrer dos anos, o zebu de origem indiana se nacionalizou, foi continuamente melhorado e mais recentemente deu um grande salto de qualidade”, observa João Gilberto.

A popularização de três técnicas – inseminação artificial (IA), transferência de embrião (TE) e Fertilização In Vitro (FIV) proporcionou aos pecuaristas nacionais um ganho de eficiência enorme.

A primeira, a IA, consiste na coleta de sêmen de touros com traços de interesse comercial, análise do material, congelamento e venda ao produtor que o introduz em vacas selecionadas. A segunda, a TE, se baseia na retirada do embrião de uma matriz de características desejáveis e transferência para uma vaca receptora, uma espécie de “barriga de aluguel”. Já a terceira, a FIV, é o processo que consiste na extração dos óvulos imaturos de uma vaca, que são inseminados em laboratórios e dão origem a dezenas de bezerros.

Com esse trio de tecnologias, a pecuária brasileira ganhou escala industrial. Um touro, que em condições normais cobre 60 vacas em um ano, por meio da IA pode fertilizar 30 mil. O mesmo vale para as vacas. Uma matriz gera um bezerro por ano, mas esse número pode saltar para 50 com o emprego da FIV.

Dominadas as técnicas de reprodução, o Brasil tem, hoje, um rebanho de mais de 200 milhões de cabeças. “Somos o maior exportador de carne do mundo. Nossa produção aumentou consideravelmente, muito mais pelo ganho de produtividade do que pelo aumento de área”, diz o diretor executivo da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), Fernando Sampaio.

Agora as pesquisas têm se voltado à qualidade da carne. Em 2007 foi lançada a Rede Bifequali. Liderada pela Embrapa Pecuária Sudeste, a iniciativa envolve dezenas de instituições de pesquisas e tem por objetivo melhorar a maciez da carne e difundir aos criadores quais cruzamentos são recomendados para a região em que ele se encontra.

No primeiro projeto da Rede, os pesquisadores acompanharam 800 novilhos machos nelore (raça zebuína) desde o nascimento até o abate. “Nós avaliamos maciez, teor de minerais, teor de ácidos graxos, musculosidade da carne, consumo de alimento, crescimento e temperamento dos animais”, diz Luciana de Almeida Correia Reginato, líder da Rede.

O intuito era decifrar se a variação genética entre os animais foi causada pelo ambiente externo ou por uma carga genética. Nesse último caso, uma segunda etapa vai usar a ferramenta de marcadores genéticos, trechos do DNA que identificam uma determinada característica, para selecionar os genes responsáveis. “Com os marcadores, saberemos o potencial genético de um animal para a produção de carne macia logo após seu nascimento. Antes, isso só era possível de ser avaliado após o abate”, explica a pesquisadora.

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Fonte: Sou Agro

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