Trégua do clima em safra de risco

Publicado em 30/11/2010 06:45
Com mais ou menos umidade, principais estados produtores avançam no cultivo de soja e milho sob ameaça do La Niña. Dezembro, mês de alto risco de estiagem, começa com chuva.
Com o plantio da safra 2010/11 na reta final, os produtores de soja e milho do Paraná podem se sentir aliviados com as novas previsões climáticas. O cultivo começou atrasado por falta de chuva. A ameaça de seca em dezembro foi o assunto mais comentado na projeção inicial do rendimento da safra. No entanto, o mês começa com chuva. Confirmada mesmo, só a irregularidade do clima, comum em ano de La Niña.

O Rio Grande do Sul segue como estado mais ameaçado. Com o plantio concluído em dois terços das lavouras, a quebra chega a ser calculada em porcentual – entre 10% a 20% – e em volume – com perda de 1 milhão de toneladas de soja e 1 milhão de toneladas de milho. Mas, isso só deve ocorrer se houver seca. Em Santa Catarina, o setor prevê chuvas suficientes.

Para as demais regiões do país, o clima deve colaborar com a produção de grãos a partir de agora. As chuvas chegaram com atraso, mas devem ser mais generosas do que no Sul até o final do ciclo. Em Mato Grosso, o plantio está sendo finalizado com ânimo bem melhor que o de um mês atrás. Do Centro-Oeste até o Nordeste, o plantio chega perto de dois terços da área de cultivo. Nesta região, só não devem escapar ilesos produtores que enfrentarem excesso de umidade na colheita.

“Tivemos condições de clima espetaculares na fase de plantio”, confirma José Aroldo Gallassini, diretor-presidente da cooperativa Coamo, que abrange Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul. O único problema relacionado ao La Niña registrado no Paraná neste ano foi o granizo que destruiu áreas de cevada e trigo em Guarapuava, no distrito de Entre Rios, e Cantagalo.

A safra não está salva. Até porque, daqui para a frente, o La Niña tende a se manifestar com mais intensidade, anunciam os principais institutos meteorológicos do país e do estado. Há consenso de que as precipitações ficarão abaixo do normal e serão irregulares no Sul, mas ninguém confirma a ocorrência de seca. “O ápice deve do La Niña deve ocorrer até janeiro”, avalia Marcelo Brauer, do Simepar.

O drama que Paraná e Mato Grosso viveram no plantio agora é enfrentado pelos produtores argentinos. Donos da terceira maior produção mundial de soja, os agricultores do país vizinho estão com problemas para evoluir com o plantio dos grãos. Dados da Bolsa Cereais de Buenos Aires apontam que somente 47% da área destinada à soja foi semeada até agora. Das três principais regiões que cultivam soja no país, duas sofrem com a seca.

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Inmet

Centro-Sul do PR com menos chuva

O meteorologista Luiz Renato Lazinski, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), considera que o La Niña segue em seu estágio moderado e diz que o esperado declínio das chuvas, no Paraná, deve atingir principalmente a região Centro-Sul, a partir de dezembro. Por outro lado, destaca que a maior parte dos solos está com boa umidade, especialmente os da Região Norte paranaense. “O estresse hídrico previsto para o curto prazo pode ser amenizado depois, com as típicas chuvas do mês de janeiro”, lembra.

Para o Centro-Oeste do país, Lazinski projeta um cenário positivo no curto prazo, mas preocupante na época de colheita, por excesso de umidade. Ele confirma a influência do fenômeno La Niña no atraso das chuvas no plantio. Mas, “a partir do momento que as chuvas voltam, não deve faltar umidade ao longo da safra de verão”. O problema, segundo ele, são justamente as fortes chuvas previstas para a época de finalização da safra.

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Somar

Alteração climática perto do auge

Para o meteorologista Marco Antônio dos Santos, do Somar Meteorologia, a atual intensidade do La Niña varia de moderada a forte e a atuação do fenômeno deve se estender até meados de 2011. Ele compara as previsões do ciclo atual com as da safra 1998/99, quando os índices de produtividade de soja e milho do país ficaram praticamente estáveis.

O especialista também confirma que as chuvas previstas para o Centro-Oeste brasileiro podem prejudicar a colheita e fazer com que o milho safrinha perca mais área. Para o Rio Grande do Sul, Santos projeta alto o risco de quebra de safra. “O estado já tem histórico de chuvas mais escassas no verão, e o La Niña deve potencializar isso”, estima. As estimativas locais sobre safra preveem quebra de 14% na produtividade.

Já o risco de quebra na Argentina é menor em relação aos gaúchos, por causa da diferença de fertilidade dos solos, disse o meteorologista.

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Simepar

Tempo mais irregular que seco

“La Niña não é sinônimo de seca, mas sim de alta irregularidade das chuvas”, afirma Marcelo Brauer, do Simepar, que também acredita na atuação do fenômeno por mais três meses, pelo menos. Ao analisar as condições registradas no Paraná até o momento, o meteorologista diz que as previsões iniciais estão sendo validadas e, para fazer prognósticos futuros, é preciso olhar não só para os volumes das precipitações, mas especialmente para o intervalo de dias entre uma chuva e outra. “Os índices pluviométricos do Paraná ficaram abaixo do ano passado, o que confirmou a instalação do La Niña, mas não tivemos seca”, pondera.

Brauer confirma previsão de clima desfavorável para a Região Centro-Sul do estado. De União da Vitória a Guarapuava, os produtores rurais podem ser afetados por escassez de água. “Neste ano, o volume de chuva tem ficado até 50% abaixo do registrado em 2009 nessa região.”

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Fonte:
Gazeta do Povo

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