Mais uma fantasia sobre o Código Florestal, por Reinaldo Azevedo

Publicado em 22/05/2011 15:42 e atualizado em 23/05/2011 07:39
do blog Reinaldo Azevedo, na Veja.com.br

Mais uma fantasia sobre o Código Florestal

O Estadão traz hoje a seguinte manchete: “Discussão do Código Florestal eleva desmate, diz documento”. Na página interna, o título é este: “Documento liga Código Florestal a aumento de desmate na Amazônia”. Preocupante. Quando essa tese veio à luz, na semana passada, eu a critiquei aqui e por um motivo simples: segundo o texto de Aldo Rebelo, nos casos em que couber a anistia, ela só poderá ser concedida para autuações feitas antes de julho de 2008.  Assim, se o seu texto for aprovado, não há a menor chance de um desmatamento ilegal ser anistiado depois daquela data. Mas a manchete do Estadão fala em um “documento”, e a gente logo pensa em algo, assim, rigoroso, oficial. Não era bem isso.

Nunca antes na história deste país se deu tanto destaque a um papelucho assinado por um secretário de Meio Ambiente. “Secretario de que estado, Reinado?” Adivinhou quem chutou Mato Grosso, que é justamente a unidade da federação que concentrou o tal aumento de desmatamento. Serei mais explícito para quem ainda não entendeu. O governo do Mato Grosso, por meio de seu secretário, exime-se de qualquer responsabilidade e atribui tudo ao novo código que se quer aprovar. Não fosse isso, as árvores estariam lá…

Como a tese é simpática a ecologistas e “ecólatras”, ela prospera. Não li o documento, mas a reportagem do Estadão leu. Se o secretário que o assina, Alexandre Torres Maia, tivesse apontado algum dado objetivo que ligasse uma coisa à outra, o jornal teria destacado. Como  não traz nada, entendi que o tal Maia teve um surto de subjetivismo, entendeu que assim são as coisas, meteu tudo no papel, remeteu ao ministério do Meio Ambiente, que remeteu à imprensa, que deu manchete. E pronto! Quando se falou em documento, pensei em algum estudo ou algo assim. É só a opinião do secretário interpretando a alma de quem desmatou.

Qual é o grande argumento do homem? “Não há como negar a forte vinculação entre o desmatamento e os processos de discussão de legislação ambiental”. Sei. Mas POR QUE não há como negar? Eu, por exemplo, nego. Como se pode atribuir a um código que anistia autuações anteriores a julho de 2008 o desmatamento de 2011? Que resposta Maia tem para isso? Nenhuma!

A pressão contra o texto de Aldo Rebelo é realmente uma coisa fabulosa. Quando houve a catástrofe em Petrópolis, tentaram acusar… o novo código. Ele facilitaria, publicou a Folha, ocupações urbanas irregulares. Bem, a proposta do deputado não trata de áreas urbanas. Em entrevista, Marina Silva sugere que há uma conspiração envolvendo as denúncias contra Palocci e a aprovação do texto. Agora há o documento do tal secretário.

O dado mais evidente nos três casos é a ausência de nexo causal, ou mesmo lógico, entre o “fato denunciado” e o código. Convenham: é muito mais sensato concluir que é urgente mudar a lei. Essa que está aí não coíbe desmatamento irregular. Os “ecólatras” perderam o debate democrático e agora tentam se impor pelo terrorismo verde.

Por Reinaldo Azevedo

Comentários

Alberto Amorim

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22/05/2011 às 11:52

Em um Estado que já foi e é palco de medidas desmedidas, de irregularidades como as detectadas na Operação Curupira (em que IBAMA e FEMA estavam junto achacando proprietários rurais QUE AGIAM DENTRO DA LEI) isso não me espanta! Falta de informação também é fonte de poder! Em tempo: NÃO sou proprietário rural neste Estado, nem no Amazonas, etc.

Manoel Francisco Gomes

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22/05/2011 às 11:25

Esta é a conclusão de vários jornalistas apresentadores de programas na TV. Ouvi a mesma asneira da jornalista âncora do Canal 26, Salete Lemos ( a TV é tão insignificante que nem lembro o nome), afirmando que o desmatamento a que se referia a notícia era uma reação dos ruralistas, carregando no preconceito contra os produtores rurais. Parece-me que ser contra o projeto do relator Aldo Rebelo é questão de honra da maioria dos tais âncoras. A bem da verdade, a única emissora que tem se mostrado favorável ao projeto do relator é a BAND, pelo menos até onde pude perceber, já que não fico muito ligado nas emissoras.

sergio

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22/05/2011 às 10:27

Que tal o Aldo sugerir no relatorio que se investigue de perto as ONGs, alguem deve estar embolsando alguma coisa por tanto barulho.

Fernando

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22/05/2011 às 10:14

Esse debate já cansou! Eu não assisto mais a GloboNews, nem escuto a CBN, que era até então minha mania, mas os ‘ecochatos’ simplesmente ocuparam esses veículos e emitem, o correto seriam vomitam, seus comentários de panfleto e ignoram a racionalidade que é a que: a aguiculura brasileira além de sustentar o Brasil, ocupa menos de 30% do território.
Pessoas com Mirian Leitão, André Trigueiro e Sérgio Abranches destilam toda a sua vigarisse intelectual diariamente nestes veículos, mas eles não são ninguem, o que me preocupa Reinaldo e já esta sendo debatido no Canal Rural é que a Rainha Dilma está sim comprometida internacionalmente com este assunto, acho que ela vai fazer merda.

anonimo

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22/05/2011 às 8:57

A pressão vem do agronegócio de países estrangeiros, que atuam aqui no Brasil escondidos nas ONG’s. Tem muitos dólares e euros sendo distribuídos para destruir o agronegócio brasileiro que é concorrente daqueles estrangeiros.
As estatísticas de desmatamento, com seu números apresentados e manipulados por certos órgãos do governo precisam ser severamente analisados, porque mentirosos.

PoPa

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22/05/2011 às 8:29

Esta teoria é mais que estranha. Existem leis que coíbem o desmatamento agora. E são, verdade, mais rígidas do que a que se está discutindo no Congresso. No entanto, tens razão em afirmar que isso não é legal e não será legalizado pelo código. O que eles pretendem é simples. Lançar uma cortina de fumaça para tentar levar adiante as áreas desmatadas ilegalmente.

É como aqueles que derrubam prédios tombados pelo patrimônio para fazer garagens públicas… depois de derrubados, fazer o quê?

Surfista Prateado

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22/05/2011 às 8:24

Essa aí é óbvia: vão dizer que não tem como diferenciar o que foi desmatado ontem e o que foi desmatado em 2006…

JucaPato

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22/05/2011 às 8:23

É duro que os jornalistas sejam analfabetos de pai e mãe (ou desonestos intelectuais) quando tem que diferenciar correlação de causalidade. Atribuir relação de causa e efeito entre a discussão de uma lei e o desmatamento de fato sem nenhuma base empírica é uma absurdo sem tamanho.

Joaquim Campos

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22/05/2011 às 8:20

Que tal a manchete: “Demora na aprovação do novo código florestal gera aumento no desmatamento”. Faz mais sentido do que a outra.

Fonte: Veja.com.br

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