Como surgiu a terceira safra de feijão ou safra de inverno?

Publicado em 19/09/2017 10:49

A 3a safra, ou feijão irrigado ou de inverno, surgiu no início da década de 1980, como pode ser constatado na Figura 1, com produção de 105 mil toneladas na safra 1985/86, primeira vez que foi registrada. Foi sugerida pelo professor Clibas Vieira (Vieira, 2004), como alternativa de aproveitamento de áreas propicias a irrigação e, com a produção oriunda manter os preços do produto mais estável, sem grande flutuação devido a entressafra e ter sempre produto de boa qualidade, tendo em vista que o feijão envelhece muito rapidamente perdendo a qualidade culinária. Vantagem, também de produção de sementes numa época de clima mais ameno, menos afetado por doenças e pragas. 

O feijoeiro comum é semeado em três épocas. A primeira época vai de outubro a dezembro e a 2a, de fevereiro a março. As produções provenientes dessas épocas estavam estagnadas. Na 1a safra o feijão é semeado em época de muita chuva e temperaturas elevadas, especialmente as noturnas. Estes fatores, em conjunto, resultam em muitas doenças e abortamento de flores e vagens e, em conseqüência, baixas produtividades. Na 2a época, embora as temperaturas já sejam mais amenas, o que contribui para baixas produtividades é a falta de chuvas que ocorrem, quase sempre, na fase de floração e enchimento das vagens. Irrigações suplementares elevam as produtividades, mas, normalmente não são realizadas ou por falta de recursos do produtor ou falta de tradição. Fora das duas épocas tradicionais de semeadura de feijão era comum cultivar a leguminosa nos meses mais frios do ano para obtenção de sementes sadias, pois neste periodo a incidência de doenças e pragas é menor. Esta atividade era muito comum no Centro Nacional de Pesquisa em Arroz e Feijão da Embrapa, em Goiânia, como também em outras regiões, como em Guaíra no Estado de São Paulo (Bulizane, 2008), porém utilizando pequenos sistemas de irrigação ou mesmo irrigação por gravidade.

A 3a safra surgiu como uma alternativa, simultaneamente com o aparecimento no Brasil dos sistemas de irrigação via pivô-central. A primeira fabricante em nível nacional foi a Asbrasil, com pivôs que abrangiam até 120 ha irrigados a cada giro de 360 graus. 
Entre 10 a 15 de janeiro de 1982 aconteceu em Goiânia (GO) a Primeira Reunião Nacional de Pesquisa de Feijão - 1a RENAFE, da qual eu fui o Coordenador Geral. Nessa reunião pouco se discutiu sobre a terceira época de plantio. Foram apresentados apenas dois trabalhos um feito em Ponte Nova (MG) (Chagas et al 1982) e outro em Goiânia (GO) (Martins et al, 1982). Ambos apresentavam produtividades acima das encontradas nos plantios tradicionais das épocas das chuvas e das secas.

As semeaduras na 3a época são realizadas a partir do mês de março, com o fim do período chuvoso, principalmente na região dos Cerrados, abrangendo a totalidade ou parte dos Estados de Goiás, Minas Gerais, São Paulo, Mato Grosso e Tocantins. Com o fim das chuvas, estação de verão, de temperaturas elevadas, inicia o outono, com temperaturas amenas, principalmente a noturna. Os fatores umidade do solo controlada via irrigação e temperaturas amenas resultam em produtividades que ultrapassam os 2000 kg/ha, podendo alcançar os 3.000 kg/ha, ou às vezes mais. 

Leia o artigo na íntegra no site da Revista Cultivar

Por: Tomás de Aquino Portes
Fonte: Embrapa Arroz e Feijão

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