Leite: Além de pouco produtiva, mão de obra no Sudeste e Centro-Oeste compromete cerca de 20% da receita

Publicado em 15/02/2013 14:06
O aumento do salário mínimo federal para R$ 678,00 a partir de janeiro de 2013 (reajuste de 9%) traz à tona, mais uma vez, o peso da mão de obra na atividade leiteira. Nos estados do Centro-Oeste e Sudeste este peso é maior, comprometendo cerca de 20% da receita obtida com a venda do leite. Nos estados do Sul, onde existe uma maior escala de produção e também grande participação da mão de obra familiar, a contratação de funcionários compromete em torno de 10% da receita do leite.

Paralelamente ao custo, o produtor enfrenta a dificuldade de encontrar profissionais especializados – reclamação constante! E quando encontra bons trabalhadores, precisa pagar salários elevados, dada a disputa por seus serviços. 

A pesquisa de custos de produção do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea-Esalq/USP), em parceria com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), mostra que, dos 19 painéis (reuniões de pesquisadores com produtores e técnicos locais) realizados nos seis principais estados (GO, MG, PR, RS, SC e SP), 95% conta com ordenha mecanizada – o parâmetro de produtividade para a ordenha manual e mecânica são, de pelo menos, 150 e 350 litros, respectivamente. O estado de São Paulo foi o que apresentou a menor produtividade da mão de obra, apenas 170 litros/homem.dia. No outro extremo, Paraná foi o estado mais eficiente, com 700 litros, seguido pelo RS e MG, com 345 e 320 litros, respectivamente. GO e SC, que completam a pesquisa, tiveram médias de 240 e 195 litros. 

Essa relação entre desembolso com mão de obra e produtividade indica a necessidade de elevação na eficiência produtiva, de modo a ser diluído o peso dos salários no custo de produção. A utilização de máquinas e equipamentos mais práticos, treinamento constante da mão de obra, estruturação e análise de indicadores relacionados ao uso do maquinário e insumos são algumas iniciativas que podem auxiliar o produtor a melhorar a produtividade de seus colaboradores.

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 Custos permanecem estáveis em dezembro

Em dezembro, o Custo Operacional Efetivo (COE), composto por todos os gastos usuais da propriedade, e o Custo Operacional Total (COT), que considera também as depreciações dos bens de produção e o pró-labore do produtor, seguiram novamente estável, como vem ocorrendo desde setembro. Esse estudo leva em consideração os estados de GO, SP, MG, PR, SC e RS; dessa forma, é estabelecida a “Média Brasil” do custo de produção da pecuária de leite Cepea em parceria com a CNA.

Em relação a novembro/12, o COE teve leve queda de 0,14% e o COT, de 0,10%. GO, SP e MG apresentaram pequenos aumentos no COE e COT, principalmente porque a soja e o milho são as principais alternativas para a alimentação concentrada do rebanho. E foi justamente nestes estados onde se registraram os maiores aumentos do milho em relação a novembro/12 – em Goiás, por exemplo, o grão teve acréscimo de 4,3%. Tal fato se justifica na elevação da demanda para o reabastecimento dos estoques num período de entressafra e exportações aquecidas. Já nos três estados do Sul, a possibilidade de utilização de outros produtos para compor a ração animal permitiu ao pecuarista reduzir o custo de produção, já que o concentrado é o item de maior representação no COE.

Goiás foi o estado que apresentou os maiores aumentos mensal e anual do COE. Em relação à novembro/12, o COE avançou 1,2% e, na comparação com dezembro/11, 23,5%. Mesmo com a queda de 1,3% do preço do farelo de soja, a alta na cotação do milho elevou em 1,3% os gastos com concentrado em dezembro. Outro item que afetou os dispêndios do produtor no mês foi a suplementação mineral, cujo aumento foi de 5,9%. Demais itens do custo de produção continuaram estáveis. 

No estado mineiro, o COE e COT também apresentaram leves aumentos, de 0,6% e 0,5% em relação a novembro. Essas pequenas variações refletem a estabilidade da maioria insumos, mas também o aumento no preço de insumos importantes como sementes forrageiras, suplementação mineral (ambos com 4,3%) e do concentrado (1,6%). O COE de dezembro subiu 17,3% quando confrontado ao índice de dezembro/11 e COT elevou-se em 14,2%.

Em São Paulo, de novembro para dezembro, o COE aumentou 0,6% e o COT, 0,7%. As pequenas variações são consequência do aumento de 0,9% do gasto com concentrado, de 8,5% com sementes forrageiras e da estabilidade dos outros componentes do custo de produção. O aumento do preço das sementes decorre da maior demanda para implantação de pastagens com o início das chuvas. Em um ano, a contar de dezembro/11, o COE em São Paulo subiu 14% e o COT, 10,7%.

Santa Catarina foi o estado que apresentou as maiores quedas no custo de produção entre novembro e dezembro, sendo que o COE diminuiu 1,8% e o COT, 1,5%. Além da estabilidade de alguns itens de produção, as quedas de 4,6% no gasto com concentrado (devido à escolha do produtor por fontes alternativas para a ração animal), de 2,6% do material de ordenha e de 1,7% dos defensivos agrícolas contribuíram para a redução do custo. Frente a dezembro/11, o COE aumentou 12,7% e o COT, 10%.

O produtor gaúcho também teve diminuição no desembolso para produzir leite. De todos os insumos, apenas vacinas, medicamentos para controle parasitário e combustível apresentaram elevação, reajustados em 4,9%, 0,6% e 0,4% respectivamente em relação a novembro. O restante dos itens se manteve praticamente estável. Já no caso dos fertilizantes e do concentrado, em dezembro, houve reduções de 2,3% e 0,9%, respectivamente. Essa combinação resultou na queda de 0,3% do COE e do COT quando comparados aos de novembro. Já em relação a dezembro/11, o COE subiu 17% e o COT avançou 15%. 

No Paraná, a queda do COE e do COT foi bem reduzida de um mês para outro, sendo mantida a estabilidade do custo de produção dos meses anteriores. Em dezembro, o COE caiu 0,32% e o COT, 0,29%. As ligeiras quedas ocorreram em decorrência da redução de 4,8% no desembolso com fertilizantes, o que barateou a produção de alimentos volumosos. Mesmo os aumentos em grupos importantes de insumos, como concentrado e defensivos agrícolas, não foram suficientes para impedir que os custos de produção diminuíssem no mês. Entre dezembro/11 e dezembro/12, no entanto, houve aumento de 23% do COE e de 21% do COT.

Gráfico 1 - Evolução do preço médio do leite pago ao produtor (em valores nominais) e do Custo Operacional Efetivo (COE) – média dos estados de GO, MG, PR, RS, SC e SP.


Insumos mantêm custos em altos patamares em dezembro

De novembro para dezembro, os preços de alguns insumos da atividade leiteira tiveram comportamentos distintos entre as regiões pesquisadas pelo Cepea. No balanço, os custos de produção seguiram praticamente estáveis, mas se mantiveram num dos maiores níveis desde o início da pesquisa, em janeiro de 2008 - média ponderada dos custos de produção nos estados de GO, MG, PR, RS, SC e SP. Alimentação concentrada subiu, em especial no Sudeste e Centro-Oeste Em contrapartida, ficou mais barata na região Sul. 

Para o início de 2013, a expectativa de agentes de mercado é de que, com a colheita da safra de grãos, os preços da alimentação concentrada recuem, o que pode ajudar a contrabalançar o aumento que haverá do salário mínimo. 

É fato que, em dezembro/12, o poder de compra do produtor de leite piorou em relação à maioria dos insumos utilizados nos sistemas de produção típicos captados nas pesquisas do Cepea em parceria com a CNA, no comparativo com dezembro/11. A alta na alimentação concentrada, cujo custeio requer cerca de 40% da renda obtida com a venda do leite, veio do encarecimento de suas principais matérias primas, caso do milho e do farelo de soja. Já os fertilizantes e defensivos, que têm os preços de muitos de seus componentes atrelados ao mercado internacional, tiveram impacto da desvalorização do Real frente ao dólar em 2012 – que encareceu o produto no mercado interno.

Na região Sul, a relação de troca de leite por glifosato em um ano (dezembro/12 frente a dezembro/11), por exemplo, piorou em média 46%, considerando os três estados. A maior diferença foi para o produtor catarinense que, que na comparação com dezembro/11, para adquirir um litro do herbicida, gastou 4,2 litros a mais de leite. No caso da ureia, o produtor paranaense desembolsou em dezembro/12 quase 105 litros de leite a mais, um incremento de 8% em relação ao mesmo período do ano anterior. Já na comparação com o mês de novembro, o preço da ração comercial na região Sul recuou, diferente do visto em outros estados da pesquisa. Essa queda deveu-se principalmente à maior gama de produtos capazes de substituir o milho e o farelo de soja na composição da mistura, segundo agentes consultados pelo Cepea.

Nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, em dezembro, os gastos com alimentação concentrada ainda subiram mais um pouco. O destaque foi o estado de São Paulo, onde a relação de troca de leite por ração com 22% de PB (proteína bruta) piorou 6%, um acréscimo de 2,5 litros de leite por saco de 40 kg. No caso dos fertilizantes, importantes para o estabelecimento das pastagens nessa época, os preços, em sua maioria, diminuíram. Em São Paulo, a pressão se justifica especialmente pela baixa demanda no fim do ano decorrente dos menores preços que têm sido recebidos por produtores de cana-de-açúcar e citros. Com isso, o poder de compra do produtor de leite melhorou cerca de 4% em dezembro, o que representou a economia de 62 litros de leite para a compra de uma tonelada de ureia.
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Fonte:
Cepea

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