Gripe aviária e embargos testaram a avicultura em 2025, mas setor manteve crescimento e reposicionou vendas externas

Publicado em 22/12/2025 08:05
Surto sanitário em granja comercial no RS levou a restrições temporárias às exportações, mas ajustes de mercado, demanda interna firme e retomada gradual dos embarques sustentaram a oferta e mantém perspectivas positivas para 2026

O registro do primeiro foco de influenza aviária em uma granja comercial no Brasil, em maio de 2025, marcou um dos momentos mais sensíveis da avicultura nacional nos últimos anos e colocou à prova a capacidade de reação de toda a cadeia produtiva. A suspensão temporária do status sanitário e das exportações para mercados estratégicos, como União Europeia e China, provocou ajustes imediatos na produção e na destinação da carne de frango. 

Ainda assim, o setor demonstrou resiliência: manteve crescimento ao longo do ano, preservou o abastecimento interno e reposicionou suas vendas externas, consolidando fundamentos que sustentam perspectivas positivas para a produção e a oferta da proteína em 2026.

No dia 15 de maio, o Ministério da Agricultura confirmou o primeiro foco de influenza aviária em uma granja comercial no município de Montenegro, no Rio Grande do Sul — estado que integra uma das principais regiões de produção do país — o que levou à suspensão do status sanitário ‘livre da doença’ e à reação imediata de parceiros comerciais, como a União Europeia e a China, que suspenderam temporariamente a emissão de certificados de exportação e a importação de produtos avícolas brasileiros.

O episódio exigiu das indústrias e das integrações um ajuste imediato no ritmo de produção e na destinação dos volumes. Entre maio e agosto, parte da oferta inicialmente voltada à exportação foi redirecionada ao mercado doméstico, pressionando preços no curto prazo e exigindo maior coordenação da cadeia para evitar desequilíbrios mais severos. Ainda assim, o impacto sobre o volume anual produzido foi limitado, já que o foco ficou restrito a uma única unidade produtiva.

A cadeia global de carne de frango segue operando sob restrições estruturais, especialmente relacionadas ao fornecimento de material genético, uma limitação que afeta diversos países produtores e que não deve ser substancialmente alterada ao longo de 2026. Ainda assim, o setor mantém trajetória de crescimento, apoiado por demanda resiliente, reorganização das cadeias produtivas e ajustes sanitários após um período de maior volatilidade.

Em 2025, a produção brasileira de carne de frango avançou mesmo diante dos impactos provocados pelo registro de um foco de Influenza Aviária de Alta Patogenicidade em uma granja comercial, ocorrido em maio. Dados do IBGE indicam que, até outubro, os abates e a produção apresentaram incrementos de 0,9% em relação ao mesmo período de 2024. Para o fechamento do ano, a estimativa é de que o Brasil produza cerca de 15,91 milhões de toneladas de carne de frango, volume 1,4% superior ao registrado no ano anterior.

Segundo o Itaú BBA, o Brasil deve encerrar 2025 com crescimento de aproximadamente 3% na produção, impulsionado pela força do mercado interno e pela capacidade de ajuste da indústria diante das restrições temporárias impostas às exportações entre maio e agosto. Para 2026, o banco projeta novo avanço, ainda que mais moderado, da ordem de 2%, com estabilidade das exportações em 2025 e retomada esperada no próximo ano, à medida que os principais mercados normalizam plenamente suas compras.

Apesar do cenário favorável, o Itaú BBA ressalta que o rigor nas práticas de biossegurança segue como elemento central para a sustentação do equilíbrio entre oferta e demanda. A manutenção do status sanitário é considerada essencial para preservar o fluxo das exportações, evitar choques abruptos de mercado e proteger preços e margens ao longo da cadeia produtiva.

De acordo com o Rabobank, a produção brasileira deve crescer cerca de 2%, reforçando o papel do país como fornecedor estratégico no mercado internacional. O avanço ocorre em um contexto de demanda externa consistente, competitividade do produto brasileiro e expectativa de maior previsibilidade nos custos de produção, especialmente aqueles ligados à ração.

No cenário internacional, o Rabobank avalia que a oferta global de carne de frango deve manter a trajetória de expansão em 2026, com crescimento distribuído entre os principais polos produtivos. Nos Estados Unidos, a expectativa é de aumento de 1,6% na produção, refletindo a recomposição gradual do plantel, ganhos de eficiência e maior estabilidade nos custos de alimentação animal após um período de margens mais pressionadas.

A China, maior produtora mundial de carne de frango, também deve sustentar ritmo robusto de crescimento, com projeção de alta de 2,5% em 2026. O avanço está associado à recuperação do consumo doméstico, à busca por proteínas mais acessíveis e à estratégia de fortalecimento da produção interna, reduzindo a dependência de importações em um ambiente global ainda sensível a questões sanitárias.

Na União Europeia, o Rabobank projeta crescimento entre 1,5% e 2% na oferta de carne de frango no próximo ano. Mesmo enfrentando pressões regulatórias mais severas, custos elevados e desafios relacionados ao bem-estar animal, o bloco tende a manter expansão moderada, impulsionada pela reorganização produtiva e pela necessidade de atender à demanda interna diante das limitações de outras proteínas.

Demanda interna sustenta avicultura e mantém frango como principal proteína do brasileiro rumo a 2026

A demanda interna por carne de frango seguiu como o principal pilar de sustentação da avicultura brasileira ao longo de 2025, reforçando o papel da proteína como a mais acessível e presente na mesa do consumidor brasileiro. Mesmo em um ano marcado por turbulências no mercado internacional e pelos impactos do surto de gripe aviária registrado em maio, o consumo doméstico permaneceu firme, sustentado pela competitividade frente a outras proteínas e pela confiança do consumidor na segurança alimentar do produto.

No período mais crítico da crise sanitária, os preços da carne de frango recuaram nas indústrias, refletindo ajustes de oferta e a necessidade de absorção da produção diante das restrições temporárias às exportações. No entanto, segundo dados do Cepea, o mercado mostrou capacidade de recuperação nos meses seguintes, com os preços retomando fôlego e encerrando 2025 com alta média de 7,3% na comparação anual. O movimento reforça a resiliência do consumo interno e a rapidez de reação da cadeia avícola.

A expectativa para o início de 2026 é de um cenário ainda mais favorável à demanda doméstica. Analistas do Rabobank avaliam que o aumento da competitividade da carne de frango em relação à carne bovina deve elevar o potencial de consumo já nos primeiros meses do ano. A provável redução da oferta global de carne bovina tende a intensificar a disputa entre proteínas, beneficiando aquelas com preços mais acessíveis, como o frango, em um contexto de poder de compra ainda limitado da população.

Apesar do avanço esperado das exportações, o consumo interno seguirá como o principal destino da produção brasileira, respondendo por cerca de 65% do volume total. A oferta doméstica deve alcançar aproximadamente 10,1 milhões de toneladas, garantindo uma disponibilidade per capita estimada em torno de 49 quilos por habitante ao ano. Esse volume reforça o protagonismo da carne de frango como alternativa central no abastecimento alimentar do país, especialmente pela combinação de preço competitivo, regularidade de oferta e versatilidade no consumo.

O crescimento da demanda interna também é impulsionado por mudanças no comportamento do consumidor. A preferência por alimentos de preparo rápido, com bom valor nutricional e adequados à rotina urbana favorece o consumo de carne de frango, que se mantém como opção estratégica tanto para o varejo quanto para a indústria de alimentos processados. A relativa estabilidade nos custos de produção ao longo de 2025 contribuiu para garantir abastecimento contínuo, evitando rupturas e oscilações mais abruptas de preços.

Além dos fundamentos estruturais, fatores conjunturais devem reforçar o consumo de carnes em 2026. Eventos de grande apelo popular, como a Copa do Mundo de futebol, e o calendário eleitoral tendem a estimular encontros sociais e elevar temporariamente o consumo de alimentos. O Rabobank destaca ainda que o fundo eleitoral, estimado em cerca de R$ 4,9 bilhões, pode gerar aumento pontual do poder de compra de parte da população, com reflexos diretos sobre o consumo de proteínas, incluindo a carne de frango, especialmente no período entre julho e novembro.

Diante desse cenário, a avicultura brasileira entra em 2026 com fundamentos considerados sólidos no mercado interno. A combinação de demanda consistente, elevada capacidade produtiva e políticas públicas voltadas ao fortalecimento da indústria processadora sustenta a perspectiva de continuidade do protagonismo do frango no consumo nacional, consolidando a proteína como peça-chave da segurança alimentar e da dinâmica do mercado de carnes no país.


Exportações de carne de frango resistem à gripe aviária e Brasil reposiciona mercados em 2025

A demanda externa pela carne de frango brasileira mostrou resiliência ao longo de 2025, mesmo diante dos impactos provocados pelo surto de gripe aviária registrado em maio em uma granja comercial no município de Montenegro, no Rio Grande do Sul. Apesar das restrições impostas por importantes parceiros comerciais entre maio e agosto, o desempenho das exportações foi sustentado pelos bons volumes embarcados no início do ano e pela rápida reorientação dos fluxos para outros mercados estratégicos.

Dados do comércio exterior indicam que, de janeiro a novembro, os embarques brasileiros de carne de frango recuaram 1,0% em relação ao mesmo período de 2024, enquanto o preço médio apresentou queda de 2,7%. Ainda assim, o impacto foi considerado limitado diante do contexto sanitário, especialmente porque o surto ficou restrito a uma única unidade produtiva, o que permitiu uma normalização gradual das exportações ao longo do segundo semestre.

Mesmo com quatro meses de restrições, a recomposição dos embarques ganhou força à medida que mercados alternativos ampliaram as compras. Países como México e Arábia Saudita absorveram volumes relevantes da proteína brasileira, contribuindo para reduzir os efeitos das suspensões temporárias impostas por destinos tradicionais. 

No acumulado de janeiro a novembro, o volume exportado ficou 1,2% abaixo do registrado em igual período do ano anterior, número que reforça a capacidade de adaptação do setor diante de choques sanitários.

A retomada mais consistente começou a se desenhar a partir do último trimestre. Em outubro e novembro, China e União Europeia suspenderam as restrições à carne de frango brasileira, abrindo espaço para a normalização dos embarques. Dados parciais até a terceira semana de outubro já indicavam um aumento expressivo de 23% nos embarques diários, sinalizando aceleração do ritmo exportador no fechamento do ano e a possibilidade de aproximação dos volumes recordes registrados anteriormente.

O mercado chinês, no entanto, seguiu como um dos pontos de maior impacto ao longo de 2025. Com a retomada das compras apenas em novembro, as importações chinesas de carne de frango brasileira apresentaram queda acumulada de 36% até setembro, no comparativo anual, reposicionando o país como o quarto maior destino da proteína no período.

No acumulado de janeiro a setembro, as exportações de frango para a China permaneceram 3,5% menores em volume e 4% inferiores em faturamento, apesar da recuperação observada no último mês do intervalo, quando os embarques avançaram 23% em relação a agosto.

Além do efeito sanitário, a dinâmica do mercado chinês também foi influenciada pelo aumento da produção local e pela maior disponibilidade de carne de frango no mercado internacional, fatores que tendem a manter a pressão sobre os embarques brasileiros para o país por mais um ano. Ainda assim, a expectativa do setor é de que um acordo de regionalização e a plena retomada das compras pela China ocorram no curto prazo, criando um efeito compensatório capaz de amenizar a queda observada ao longo de 2025.

Em meio a esse cenário, o México se consolidou como um dos principais destaques positivos do ano. Diante da estratégia adotada pelo país para reduzir a dependência da carne de frango dos Estados Unidos, em função das incertezas comerciais e das tarifas de importação aplicadas pela atual gestão norte-americana, o Brasil ganhou espaço relevante. Até setembro de 2025, os embarques brasileiros para o México cresceram cerca de 70% na comparação anual, tornando o país o terceiro maior importador no mês e o quinto maior destino no acumulado do ano.

Além do México, mercados como Filipinas, Coreia do Sul e Japão também devem enfrentar maior concorrência global, com o aumento da oferta norte-americana, o que tende a manter o ambiente internacional mais disputado, conforme destacou o Rabobank. 

Com todos os principais mercados sinalizando retomada das compras, incluindo China e União Europeia, a avaliação do setor é de que os embarques brasileiros de carne de frango devem permanecer firmes até o final do ano. A combinação de flexibilidade comercial, competitividade de preços e rápida resposta sanitária reforça o papel do Brasil como fornecedor estratégico no mercado global, mesmo em um ano marcado por desafios relevantes no comércio internacional.

Gripe aviária segue como principal risco para a avicultura global e impõe vigilância redobrada ao Brasil

As questões sanitárias relacionadas à Influenza Aviária de Alta Patogenicidade (IAAP) devem permanecer como o principal fator de risco do lado da oferta para a avicultura global, com elevado potencial disruptivo e baixo grau de previsibilidade. Mesmo após o registro de um foco em granja comercial no Brasil e a consequente suspensão temporária das exportações para alguns mercados, o cenário segue exigindo atenção constante de produtores, indústria e autoridades sanitárias.

No ambiente internacional, a persistência da cepa H5N1 nos Estados Unidos tem elevado o nível de alerta do setor. A circulação contínua do vírus em território norte-americano amplia a diversidade genética da influenza aviária, aumentando o risco de surgimento de novas linhagens com maior capacidade de dispersão e impacto econômico mais severo. Esse fator adiciona uma camada extra de incerteza ao mercado global de proteínas, especialmente em um contexto de cadeias produtivas cada vez mais interligadas.

Outro ponto de atenção destacado por especialistas é a migração sazonal de aves vindas da América do Norte, fenômeno que já está em curso e que deve continuar pressionando os sistemas de vigilância sanitária por mais um ano. O deslocamento dessas aves eleva o risco de introdução de novas cepas do vírus em países produtores, reforçando a necessidade de protocolos rigorosos de biosseguridade, monitoramento e resposta rápida a eventuais focos.

Paralelamente, avançam em escala global os investimentos em pesquisa e desenvolvimento de uma vacina comercial contra a influenza aviária que atenda a padrões mínimos de eficiência e segurança. Apesar do progresso técnico, a adoção da vacinação como estratégia sanitária ainda gera incertezas no comércio internacional. Muitos países importadores de aves e produtos avícolas seguem cautelosos quanto ao uso de vacinas, diante das dificuldades de diferenciação entre animais vacinados e infectados e dos possíveis impactos sobre a rastreabilidade e a confiança sanitária.

Nesse contexto, o Brasil mantém a estratégia de não adotar a vacinação contra a gripe aviária, priorizando protocolos de prevenção, vigilância ativa e eliminação rápida de possíveis focos. A decisão está diretamente relacionada aos riscos comerciais, já que a adoção de vacinas poderia resultar em restrições adicionais às exportações brasileiras, afetando o acesso a mercados estratégicos e a competitividade do setor.

Com a avicultura brasileira fortemente orientada ao mercado externo, a manutenção do status sanitário segue como um dos pilares da estratégia do setor. A combinação de vigilância permanente, resposta rápida a incidentes e alinhamento com exigências internacionais será determinante para mitigar os riscos associados à influenza aviária e preservar a posição do Brasil como um dos principais fornecedores globais de carne de frango em um cenário sanitário cada vez mais desafiador.


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Por: Andressa Simão | Instagram @apautadodia
Fonte: Notícias Agrícolas

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