Suinocultura: `Não é hora de abandonar o barco´
Depois de dois anos de dificuldades, com custos em alta e mercados em recessão, a suinocultura brasileira vislumbra perspectivas de um período de recuperação em 2010. “Não é hora de abandonar a atividade. Quem perseverar será recompensado”, aconselha Mário Lanznaster, presidente da Coopercentral Aurora, detentora do maior volume de abate de suínos em Santa Catarina.
O líder sabe que há muito mau humor no mercado, especialmente porque o fim-de-ano, tradicional período de ganhos, foi magro para os criadores e para as indústrias. A crise financeira internacional e a gripe A, por um longo tempo chamada de gripe suína, atormentaram o mercado. Nesse ambiente, falar em recuperação de renda e revitalização da atividade é uma temeridade. Mas as previsões de Lanznaster têm base: o mercado mundial será expandido em mais 60.000 toneladas.
O Ministério da Agricultura e as entidades nacionais do agronegócio anunciaram na última semana três movimentos que afetarão e beneficiarão imediatamente a cadeia produtiva da suinocultura brasileira: a Rússia (que enfrenta um surto da temível peste suína africana) ampliou a cota em 20.000 toneladas; o Vietnã anunciou a abertura de seu mercado para 20.000 toneladas de carne brasileira e, da mesma forma, Filipinas comprará 20.000 toneladas em 2010.
Em dezembro, o governo russo publicou as novas cotas para a importação de carnes e elevou de 177.500 toneladas em 2009 para 189.600 toneladas este ano a cota destinada a "outros países", na qual o Brasil se insere. Por outro lado, renova-se a expectativa da abertura de novos mercados este ano, como a União Européia, Japão, China ou Coreia do Sul.
O Brasil exportou 607,5 mil toneladas de carne suína em 2009, um crescimento de 14,75% no volume físico em comparação as 529.418 toneladas do ano anterior, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs). Os preços fizeram movimento inverso e despencaram 17,09%, baixando de US$ 1,479 bilhão (em 2008) para US$ 1,226 bilhão (em 2009). O preço médio caiu 27,74% de US$ 2.794 (2008) para US$ 2.019/tonelada (2009). A Rússia respondeu por uma fatia de 44% dos volumes embarcados pelo Brasil e, Hong Kong, por 20%.
Perseverar
O presidente da Coopercentral Aurora acredita que os volumes continuaram elevados e os preços se recuperarão em 2010. O principal sintoma de melhora do mercado é que os preços internacionais reagiram ao final do ano e subiram entre 10% e 15%. O mercado mundial viverá dias de mais tranquilidade porque os países que mais sofreram com a crise econômica internacional estarão superando essas dificuldades e retomando os níveis normais de consumo. Além disso, o Brasil manterá expectativa de entrar nos mercados da China e EUA no próximo ano.
Mário Lanznaster enfatiza que, em 2010, haverá nova demanda internacional e um ajuste interno, o que se refletirá nos preços internos. Outra boa surpresa é que o consumo interno médio per capita se manteve em 14 kg/hab/ano, apesar de uma previsão de queda. Só não aumentou porque ocorreu acentuada oferta das demais carnes – aves e bovinos – que, literalmente, sobraram no mercado.
Embora o ano de 2009 terminou com depressão nos preços praticados ao criador, os estoques de animais vivos estão baixos e com oferta e demanda ajustadas ao mercado. Em contrapartida, o criador encontra custos 30% menores, quadro que melhorará ainda mais em 2010 porque não haverá escassez de milho internamente e o farelo de soja estará com preço em queda em razão da grande oferta mundial. Em Santa Catarina, o suinocultor está ganhando R$ 1,80 mais tipificação (total: R$ 1,93) pelo quilograma de animal vivo, valor que já embute uma pequena margem de lucratividade.
A produção nacional atingiu, em 2009, mais de 3 milhões 140 mil toneladas de carne suína. Em 2010 deve crescer de 2% a 3%. Santa Catarina, que continua o maior produtor nacional de suínos, atingiu 750.000 toneladas/ano, 25% do que o País produz.
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