Importações abusivas de leite prejudicam criadores e indústrias no sul

Publicado em 20/12/2010 07:48
O comportamento comercial dos parceiros do Brasil no Mercosul está desestruturando a cadeia produtiva de lácteos no sul do país. O alerta foi feito nesta semana pelo Fórum Permanente da Cadeia Láctea da Região Sul (PR, SC e RS), que reúne as Federações da Agricultura, produtores, Sindicatos das Indústrias de Laticínios e Conseleite do RS, PR e SC.

A região sul representa 30% da produção nacional de leite, com 3.879.605 vacas ordenhadas e aproximadamente 310.000 produtores, o que significa mais de 1.200.000 pessoas envolvidas direta e indiretamente na atividade, incluindo as propriedades rurais, o transporte, a indústria láctea e a rede de supermercados.

O vice-presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina (Faesc), Nelton Rogério de Souza, assinalou que as excessivas e desnecessárias importações brasileiras de lácteos, principalmente de origem do Mercosul, desorganizaram essa base produtiva. Em 2007 representaram gastos de 152,7 milhões de dólares; em 2008 264,8 milhões de dólares e em 2010, de janeiro a novembro, mais de 262,1 milhões de dólares.

-“Essas importações são abusivas e visam aproveitar as vantagens econômicas trazidas pelo sistema cambial, atualmente favorável às importações que só impactam negativamente o mercado interno.”

Nelton lembra que não ocorreu nenhuma anormalidade climática nem aumento excessivo de consumo que justificasse o crescente aumento das importações. “As condições excepcionais de clima, disponibilidade de água, capacidade de produzir alimento, são condições que podem fazer a produção nacional dobrar sem exigir grandes custos, já atendendo o mercado interno e com potencial exportador.”

O dirigente alerta que a capacidade produtiva das indústrias da região sul do Brasil está subutilizada e que elas têm condições de absorver o aumento de produção: na região Sul, as indústrias trabalham com média de 43% de ociosidade.

Para demonstrar como as importações são predatórias, Nelton realça que a cada quilograma de leite em pó importado, a indústria deixa de comprar 10 litros de leite dos produtores. No mês de novembro foram importadas 5,6 mil toneladas de leite em pó, correspondendo a 56 milhões de litros de leite, que deixaram de ser comprados dos produtores brasileiros.

-“Estamos vivendo um crescimento interno de renda da população, que vem trazendo novos hábitos alimentares, destacando-se o aumento gradual de consumo de lácteos, que vem sendo atendido pela cadeia produtiva nacional. Além disso, a cadeia agroindustrial do leite é uma das mais sensíveis à mudanças externas, principalmente às influências do Mercosul, por envolver mais de 1.200.000 produtores que, em sua maioria, desenvolvem sistemas de produção ainda em consolidação, em relação a outros países concorrentes.”

REIVINDICAÇÕES

As Federações, os Conseleites e os sindicatos reivindicam que a integração láctea Brasil/Argentina, Mercosul e União Europeia seja vista com muito cuidado, para não deixar o setor lácteo brasileiro em desvantagem frente a oportunidade de desenvolver a bacia leiteira nacional com melhoria da renda do produtor e da indústria nacional.

Nesse sentido, os produtores brasileiros sustentam algumas reivindicações: a manutenção das alíquotas vigentes da TEC para os produtos do setor lácteo; idem para o sistema de cotas para volumes de importação, com base em médias anuais; a manutenção do sistema de licenciamento não automático para importações; a fixação de preços mínimos de importação com base nos dados fornecidos pelos Conseleites do RS, SC e PR.

Pedem, ainda, que os programas sociais municipais, estaduais ou federais de distribuição de leite e seus derivados, utilizem somente produtos com matéria prima de origem nacional.

Nelton de Souza antecipou que os produtores e as indústrias querem a criação de um Conselho Consultivo permanente para discutir a negociação da integração Brasil/Argentina, Mercosul e União Europeia. “O Brasil e seus parceiros do Mercosul devem trabalhar juntos para abertura de novos mercados, substituindo a competição pela cooperação”, orienta o vice-presidente da Faesc.

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Fonte:
AI Faesc

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