Brasil incentiva produção de feijão na China

Publicado em 02/07/2012 12:38
A Câmara Setorial do Ministério da Agricultura, influenciada pelos  elementos da área pública com representativo número, decidiu mais uma vez na última quinta-feira, 28, como já é costume,  assistir de braços cruzados o desenrolar do cenário tenebroso que se avizinha.  Não foram sensibilizados pelos argumentos baseados nos números da própria CONAB. Teremos cerca de 800.000 toneladas de feijão a menos  de oferta este ano. Este é o mais baixo nível de oferta dos últimos 12 anos. Na safra 2011/2012  não foi somente o clima, como se pensa, que diminuiu a oferta de feijão. Foi a área menor plantada. Mesmo que o clima tivesse sido muito bom haveria falta de feijão. Estamos pelos super estimados números da CONAB produzindo este ano 15,12 quilos. O representante da Embrapa, o economista Alcido Wander, mostrou inclusive que a queda de consumo que havia sido propalada como inexorável anos atrás agora reverteu. Finalmente entendeu-se que o POF (Pesquisa de Orçamento Familiar) é do consumo da FAMÍLIA. Está no nome e a diminuição de consumo no lar não significa de maneira alguma diminuição de consumo per capita, pois a população está consumindo 48% das refeições fora de casa. E não há pesquisa sobre o consumo nos restaurantes que pipocam Brasil afora fornecendo alimento por quilo e, neste canal, com  o aumento do poder aquisitivo, uma parcela cada dia maior não faz mais refeições em casa. Sem falar nos restaurantes industriais, aqueles nas empresas que atendem um número crescente de trabalhadores.

Mesmo com este quadro, e vendo a óbvia necessidade de estimular a produção, deram de ombros. Alegam que não há mais o que fazer, pois o plano de safras já foi lançado. Os ministros da área econômica que resolvam o impacto do feijão caro este ano e no próximo. Sim, no próximo. Pois com a soja garantindo R$60, somente os produtores mais visionários vão arriscar plantar feijão. Não há duvida de que o quadro é gravíssimo e feliz de quem plantar. Na região Sul o incentivo do próprio governo para que o pequeno produtor plante soja, a semente cara, a insegurança da comercialização, o risco do já confirmado El Niño, com seca no nordeste e chuvas no Sul e sudeste que vão prejudicar a qualidade e a produtividade do sensível grão de feijão, trará redução de área, produtividade e preços altos. Na reunião,  presentes que atuam em empresas que incentivam produtores a plantar feijão testemunharam que,  mesmo garantindo ao produtor R$115 no feijão preto, dando assistência técnica e fornecendo insumos a base de troca estão sem contratos fechados. Estão até agora com a semente "encalhada" e que provavelmente em mais alguns dias será destinada para consumo humano. Enquanto isso, estão vendendo toda a semente de soja.  Produtores das regiões de Castro, Pato Branco e Ivaiporã no Paraná, Campos Novos  e Chapecó em Santa Catarina, Vacaria e Passo Fundo no Rio Grande do Sul já estão indicando uma sensível diminuição de área em relação a média histórica de plantio nestas regiões. Muito provavelmente estamos assistindo para o benefício do produtor uma mudança de paradigmas da própria estrutura da cadeia produtiva do feijão. Sim, nos últimos 5 anos acelerou-se a tendência de diminuição de área da primeira e segunda safras. A pesquisa não dá conta de resolver os problemas causados pelas lavouras intensivas, fazendo com que o uso de agrotóxicos cresça e com ele cresçam os custos. As mazelas são muitas. O Ministério da Agricultura se orgulha de ter um preço mínimo de R$72. E armazéns vazios. 

Ora, até os estudantes do técnico Agrícola sabem que a conta rápida que se faz para decidir o que plantar usa a matemática simples de multiplicar o preço de três sacos de soja pelo seu valor de venda  e se o resultado for, como agora, R$180, somente se planta feijão se houver garantias deste valor ou mais. Apenas a partir desse valor começaria a valer a pena. E quem garante hoje quanto valerá o saco de feijão durante o próximo ano? No  campo de visão dos produtores o raciocínio é que o preço bom de agora do feijão,  levará um número grande produtores a plantarem. Incrível que os burocratas em Brasília também acham o mesmo. As sugestões apresentadas de incentivo, de formação de estoques estratégicos,  aumento de preço mínimo, disponibilização de contratos de opção ao médio e grande produtor, que já é responsável por 80% da produção de feijão brasileiro, foi solenemente desconsiderada. O feijão carioca hoje é o  mais caro feijão do mundo vendido em São Paulo por US$ 1.420 por T. Os chineses não brincam e já levaram sementes de feijão carioca para lá. Assim o Brasil estará,  ainda que inconscientemente,  incentivando o plantio na China.   Para quem vende feijão preto por US$ 800 nos portos brasileiros não será difícil vender aqui o carioca também. Há dez anos, o feijão preto chinês era extremamente ruim de cozimento, de limpeza e de aparência. Hoje já é melhor que o produzido no Brasil e é ofertado abundantemente para indústria brasileira. Em breve, eles ofertarão  ao celeiro do mundo o seu prato básico com opções de feijão carioca, já que preto, vermelho e rajado eles já tem. Hoje com o preço elevado, o custo do feijão em uma refeição é de aproximadamente R$0,23. Assim, o brasileiro tem em seu prato o alimento mais barato do mundo. Não há em nenhum país alimento com este custo benefício. No entanto, a persistir esse “zelo”, esse esforço em não enxergar o óbvio, em um futuro não tão distante, teremos o preço do feijão ditado pelo Oriente. Feliz do produtor que aproveitar e nadar contra a corrente na próxima safra 2012/2013 assumindo sozinho  todos os riscos.
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Fonte:
Marcelo Lüders

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