Trigo recupera espaço na região do Cerrado

Publicado em 11/03/2013 16:44
A triticultura no Brasil Central deverá recuperar a redução de 10% da área de plantio verificada nas últimas duas safras. O que levará os agricultores dos estados de Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Distrito Federal a apostarem no trigo é o aumento do preço dos grãos. O trigo foi recuperando aos poucos a competitividade no mercado: a comercialização passou de R$ 36,00 para R$ 50,00, a saca de 60 quilos, sendo vendida, em média, por R$ 45,00.

A estimativa de crescimento da triticultura nesta região é do pesquisador Julio Cesar Albrecht, da Embrapa Cerrados (Planaltina-DF), unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária-Embrapa. “Em 2013, a área semeada com trigo no Brasil Central só não irá expandir ainda mais por falta de semente no mercado”, ressaltou o pesquisador. A semente foi comercializada em média a R$ 2,00 o quilo, e, em alguns casos, chegou a R$ 2,50 o quilo. Na safra anterior a semente ficou entre R$ 1,20 e R$ 1,50 o quilo.

A redução da área de plantio de trigo, nas duas safras anteriores, foi consequência do alto preço do feijão, que fez com que os agricultores preferissem substituir a cultura. Embora este ano o preço do feijão continue alto, muitos produtores deverão plantar o trigo em função da necessidade de fazer rotação de culturas. Isso porque o trigo, como gramínea, é uma planta supressora de doenças do solo principalmente em áreas irrigadas por pivô central.

Plantio – a época indicada para plantio de trigo irrigado no Cerrado do Brasil Central é de 10 de abril a 31 de maio. A cultura atinge maiores índices de produtividade se plantada até a primeira quinzena de maio. As duas cultivares da Embrapa indicadas para esta região, BRS 264 e BRS 254, chegam a render, em nível de lavoura, respectivamente, 135 e 115 sacas de grãos por hectare. Em média os triticultores colhem em torno de 110 sacas/hectare com a BRS 264 e 100 sacas/hectare com a BRS 254.

Se a escolha do produtor for pela BRS 264, deve ficar atento em plantá-la, no máximo, até 10 de maio, por ser uma variedade que não tolera chuvas no período de maturação final dos grãos e na colheita. Caso seja necessário fazer o plantio tardio, a sugestão é plantar a BRS 254, que por ter grãos mais duros suporta chuvas no período de colheita.

O plantio do trigo irrigado deverá ser antecedido por um planejamento prévio, que estruture a lavoura com todos os pré-requisitos básicos para que a cultura alcance alta produtividade e boa qualidade industrial dos grãos.

De acordo com Jorge Henrique Chagas, pesquisador da Embrapa Cerrados/Trigo, a densidade de plantio indicada para o trigo irrigado é de 350 a 380 sementes aptas por metro quadrado. O espaçamento normalmente usado para trigo é de 17 cm entre linhas. Outros espaçamentos são possíveis, mas, de preferência, não devem ultrapassar 20 cm.

A adubação nitrogenada poderá ser feita em duas etapas: no plantio e até o início do período de perfilhamento, quando ocorre o processo de diferenciação da espiga. Este período ocorre cerca de 15 dias após a emergência das plantas. A quantidade de fertilizante nitrogenado a aplicar varia em função do nível de matéria orgânica do solo, da cultura precedente e da expectativa de produtividade da cultura.

Doenças - em 2012, a brusone, doença provocada pelo fungo Pyricularia grisea, causou grande prejuízo para os triticultores do Brasil Central, registrando perdas entre 20% e 40% da produção nas lavouras da região.

A expectativa, segundo Albrecht, é de que nesta safra não ocorram problemas semelhantes ao do ano anterior. “A partir das condições climáticas verificadas até o momento, acredito que na safra de 2013 haverá menos problemas com a brusone”, afirmou o pesquisador.

A importância dessa doença decorre das reduções no rendimento de grãos e na qualidade industrial da produção. Quando a infecção na espiga é precoce, os grãos, se houver, apresentam-se deformados, pequenos e com baixo peso hectolítrico, e a maioria é eliminado nos processos de colheita e de beneficiamento.

Para evitar os riscos, o produtor precisa fazer rigoroso monitoramento da sua lavoura, principalmente no estádio final do emborrachamento/início do espigamento, quando deverá iniciar as aplicações preventivas de fungicidas. Os fungicidas mais indicados para evitar o avanço da brusone são as misturas dos princípios ativos estrobirulina e triazol. Outro produto que tem apresentado bons resultados é o tebuconazole na dose de 1,0 litro por hectare.

Outras doenças que o triticultor deverá ficar em alerta são as manchas foliares como a mancha amarela e a mancha marrom, que podem ocorrer durante o ciclo da cultura do trigo. Para controle são indicadas aplicações preventivas de fungicidas. Podem ser utilizados os mesmos produtos recomendados para o controle da brusone.

A Embrapa Cerrados possui projetos em andamento que visam identificar e desenvolver variedades de trigo resistentes à brusone, mas ainda não há previsão de lançamento de cultivares com essa característica. Em 2014, os materiais a serem lançados - duas novas cultivares de trigo irrigado e uma variedade de trigo para sequeiro (safrinha) - terão como características alta produtividade e serão classificados como trigo melhoradores, ou seja, ótimos para panificação, conforme a exigência do mercado.

Comercialização - o trigo do Cerrado é o primeiro a ser colhido no Brasil (entre agosto e setembro), o que favorece a sua comercialização. Pois é neste período de escassez do produto no mercado brasileiro que os preços são mais remuneradores para o triticultor.

De acordo com Albrecht, os moinhos da região estão demonstrando grande interesse na compra do trigo produzido nos estados do Brasil Central, o que garantirá ao produtor liquidez na comercialização. Ele explica que os moinhos estão parcialmente desabastecidos no período da entressafra e o trigo importado está muito mais caro do que o local. O trigo trazido da região sul do Brasil ou importado de outros países chega ao Brasil Central entre R$ 900 e R$ 950,00 a tonelada.

No ano passado, o Brasil importou 70% dos 11 milhões de toneladas de trigo consumidos no país. O alto índice de importação ocorreu em consequência de quebra na safra nacional, em virtude de problemas climáticos no Rio Grande do Sul e redução de 35% da área de plantio no Paraná.
Até mesmo a produção mundial teve queda. Na safra 2012/2013, a redução foi de 6,2%, em função de menor produção na Rússia, Ucrânia, Austrália e Argentina.

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Fonte: Embrapa Cerrados

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