São Paulo volta a produzir arroz com qualidade

Publicado em 24/03/2010 08:54
Produtividade já é equivalente ao cereal produzido no Rio Grande do Sul, chegando a 6,4 toneladas por hectare
O produtor Pedro Paulo Mariano César, dono da Fazenda Massaranduba, em Itaberá, no sudoeste paulista, comemorou a boa safra de arroz encerrada esta semana. Numa área de 50 hectares, ele colheu média de 6,4 toneladas do cereal por hectare. A produtividade, muito próxima da dos Estados do Sul, tradicionais arrozeiros, foi obtida em área de terras altas e sem irrigação. "Apostei nas previsões de que o período teria muita chuva e deu certo", justifica.

César acertou também a aposta de que o arroz teria bom preço em função da quebra de safra no Rio Grande do Sul, causada justamente pelo excesso de chuvas, e em países grandes produtores como a Índia.

Ele vendeu a R$ 36 a saca, preço bastante compensador, exatamente num momento em que outros grãos, como a soja e o milho, estavam registrando baixas cotações.

O agricultor de Itaberá é um dos que aderiram ao programa Arroz Paulista com Qualidade, fruto de parceria entre a Secretaria de Agricultura e Abastecimento e as agroindústrias arrozeiras, numa tentativa de recuperar a cultura em São Paulo. No início da década de 1980, o Estado plantava próximo de 350 mil hectares de arroz.

"Importação". Atualmente a área cultivada não passa de 20 mil hectares, concentrados nas várzeas do Vale do Paraíba. Maior consumidor nacional, São Paulo passou a "importar" 95% do arroz que sua população consome. O engenheiro agrônomo Edegar Petisco, diretor do Departamento de Sementes, Mudas e Matrizes da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati), conta que vários fatores contribuíram para a grande queda, entre eles o crescimento na produção de soja e o fortalecimento no sistema de cultivo do arroz em terreno alagado.

"Em São Paulo, o arroz pode ressurgir como uma alternativa para o agricultor, que hoje se limita a produzir milho, soja e feijão. Se plantar e colher arroz com qualidade, ele terá para quem vender, pois o mercado paulista é grande."

Semente. Pela parceria, a Cati - única produtora dessa semente no Estado - fornece o material reprodutivo à agroindústria arrozeira e esta o repassa aos agricultores. "O produtor paga pela semente apenas na colheita, à razão de 2 quilos de arroz por quilo de semente", explica Petisco. A agroindústria assume, ainda, o compromisso de adquirir 100% da produção pela melhor cotação, mas libera o agricultor para vender até 50% do arroz produzido para outro comprador, se ele preferir. A empresa paga bônus sobre a qualidade do produto.

No ano passado, a Secretaria de Agricultura aumentou de 127 para 239 toneladas a produção de sementes. O plano é chegar a 550 toneladas este ano. Os 16 contratos firmados para o plantio da safra que está sendo colhida devem resultar na produção de 21 mil toneladas - apenas na região de Avaré foram plantados 2 mil hectares.

Com a adesão ao programa Arroz Paulista com Qualidade, os produtores do Vale do Paraíba, principal região produtora no Estado, podem ganhar um incremento de até 30% na produtividade, acredita o engenheiro agrônomo Glênio Wilson de Campos, do Núcleo de Produção de Sementes de Taubaté da Secretaria de Agricultura e Abastecimento.

Esse impacto é possível porque, em vez de usar o grão da própria lavoura para o novo cultivo, prática arraigada na região, o agricultor receberá as sementes fornecidas pela Secretaria da Agricultura e Abastecimento do Estado, com melhor potencial produtivo.

"Um produtor de 50 hectares, que é a média da região, deixará de investir de R$ 7 mil a R$ 10 mil na fase inicial da lavoura", diz o agrônomo Campos.

Tecnologia. O dinheiro economizado com a semente pode ser investido em tecnologia, melhorando práticas como a adubação e a irrigação, segundo Campos. Outro gargalo da produção que o programa elimina é o da comercialização. "Normalmente, o produto é enviado para Santa Catarina e, depois, o mesmo arroz retorna a São Paulo, que é o maior consumidor da produção dos Estados da Região Sul", explicou. O programa prevê o pagamento da semente em espécie, após a colheita, à razão de 2 quilos de arroz para cada quilo da semente recebida no início da safra. De acordo com o agrônomo, o incentivo deve ajudar na retomada da rizicultura na região. "Temos um potencial de uso de 45 mil hectares nas várzeas do Rio Paraíba do Sul, mas estamos usando menos de 15 mil."

Segundo Campos, mesmo com o lançamento em plena época de plantio, alguns produtores ainda puderam aderir ao programa do arroz de qualidade. "Como os resultados foram animadores, a expectativa é de uma adesão significativa para o próximo plantio", conclui.

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Fonte:
O Estado de São Paulo

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