Líder de grandes produtores na Raposa Serra do Sol vai plantar arroz no Pará

Publicado em 16/04/2010 09:30
Personagem mais polêmico da briga judicial pela demarcação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima, o rizicultor Paulo César Quartiero, que liderou o movimento de resistência à saída de não índios da área, está de malas prontas e vai transferir a produção de arroz para o Pará.

Último a deixar a Raposa Serra do Sol após a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que determinou a saída dos grandes produtores da região há um ano, Quartiero comprou uma fazenda na Ilha de Marajó e já começou a transferir o maquinário para a área, onde pretende continuar plantando arroz e criar búfalos.

“Estou sendo forçado a mudar. Passei um ano tentando uma solução juntamente com o governo do estado. Mas o governo de Roraima se tornou um governo de pequenas causas. As grandes questões do estado são resolvidas pelo governo federal, que intervem em tudo”, diz o produtor, em entrevista à Agência Brasil, na sede de sua empresa na área industrial de Boa Vista, onde ainda processa as últimas toneladas de arroz colhidas na Raposa.

O empresário afirma que espera contribuir para a reconstrução econômica da Ilha de Marajó que, segundo ele, está em decadência. “Tive o apoio da Federação da Agricultura e Pecuária do Pará (Faepa). Nossa presença pode dar um ânimo novo para desenvolver a região”.

A transferência, segundo Quartiero, não envolveu nenhuma negociação com o governo estadual sobre possíveis benefícios fiscais ou outros atrativos. “Minha esperança de ir para o Pará é porque é um estado que vive da produção [agropecuária]. Por mais que o governo de lá possa ser comprometido ideologicamente com certas coisas, sabe que tem que preservar a produção, até para garantir a arrecadação de impostos”, diz.

Quartiero quer terminar a mudança para o Pará até o fim de 2010, mas já vê problemas ambientais e fundiários para sua instalação definitiva na área. “O Lula já deve estar planejando criar uma reserva ambiental lá, alguém vai colocar uns índios. Não vai ser muito tranquilo não”, prevê. “Até o MST [Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra] vai querer estrear na minha fazenda”, completa.

O rizicultor deixará Roraima com uma pequena coleção de processos. “São 48 e ontem recebi mais um”, conta, enquanto mostra uma lista detalhada das ações a que responde na Justiça. Entre os processos estão acusações de sequestro de policiais federais, multas aplicadas pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) – que passam de R$ 45 milhões – e casos pitorescos, como a prisão por chutar viaturas da Polícia Federal em setembro de 2009.

“Por causa desse chute atômico, tive que pagar uma fiança de R$ 9,2 mil. Prenderam até meu sapato para fazer perícia”, acrescenta.

Quartiero não descarta a possibilidade de voltar a Roraima, nem a retomada de suas antigas propriedades na terra indígena, que fez questão de destruir antes de sair da área. “Acho que minha saída é temporária. Temos que nos reorganizar lá no Pará e reconquistar a Amazônia. Roraima tem um potencial extraordinário e isso tem que ser explorado um dia. A questão da Raposa não se encerrou e vai ser revertida, por questão de interesse nacional”, acredita.

Após se negar a receber a indenização proposta pela Fundação Nacional do Índio (Funai), por considerar o valor muito abaixo do preço de mercado, o rizicultor pretende entrar no STF com um pedido de indenização por lucros cessantes pelo tempo que deixou de produzir. “A terra era minha. Tenho esse direito. Tive prejuízo material e moral, estou alterado psicologicamente”.
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Fonte:
Jornal da Mídia

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