Novas regras para o velho trigo

Publicado em 20/04/2010 08:46
Agricultura terá de produzir cereal de melhor qualidade para não ter de entregar alimento à indústria de ração. Safra em curso é a última sob os padrões atuais.
Em três meses sai oficialmente o perfil do novo trigo brasileiro. Discussões travadas entre o setor produtivo e o governo federal nas últimas quatro semanas resultaram na reformulação das regras que padronizam a produção. As mudanças vão influenciar da escolha da semente ao preço final do produto. O novo trigo terá de apresentar melhor qualidade, ou correrá o risco de ser rejeitado inclusive nos programas públicos de apoio à comercialização.

Falta só oficializar, o que deve ocorrer através de uma instrução normativa a ser publicada em julho pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). O setor produtivo conseguiu um ano de prazo para adaptação. As novas regras valem a partir da safra 2011/12.

Em vez de três, quatro classes. Haverá trigo melhorador, pão, doméstico e básico (veja quadro acima), com uma linha de corte mais rigorosa. Só será considerado trigo básico o produto com força de glúten 100. Na classificação antiga, 50 pontos bastavam para o cereal circular como trigo brando (termo que desaparecerá) e teoricamente escapar da indústria da ração. Mesmo as classes que continuam com o mesmo nome (melhorador e doméstico) terão critérios mais exigentes.

Isso significa, segundo os representantes do setor produtivo do Paraná que participaram das discussões em Brasília, que se a produção não melhorar será rebaixada na classificação. A proporção considerada oficialmente imprópria para produção de farinha tende a aumentar para 40% nos anos com chuva em excesso na colheita. O governo só poderá adquirir trigo classificado ao menos como básico. Qual a influência disso nos preços? 60% da comercialização vêm ocorrendo com apoio do governo no Paraná.

“As novas regras tentam alinhar a produção às exigências do mercado”, explica o economista da Federação da Agricultura do Paraná (Faep), Pedro Loyola. As indústrias já cobram esses critérios, aponta. O consumidor, em contato com produtos de melhor qualidade, como massas importadas, estaria rejeitando alimentos produzidos com farinha de baixa qualidade.

Com as mudanças, o governo passa a adotar critérios comparados aos dos moinhos, que seguem linhas de corte consideradas internacionais, apesar das diferenças de nomenclaturas de um país para o outro. Ou seja, o risco de o trigo adquirido com recursos públicos ser classificado como ração pelos moinhos tende a cair. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) enfrenta esse problema nesta safra. O volume de grãos “sem destino” ainda estaria sendo avaliado.

A safra atual já está definida, mas em 2011 será necessário rever inclusive a escolha das variedades. “Vamos ter que capacitar produtores. Eles terão de saber o que fazer exatamente para produzir trigo pão ou doméstico, por exemplo”, diz Loyola. O setor ainda não mapeou a disponibilidade de material genético dentro das novas regras. “O triticultor produziu por muito tempo focado na política de preços mínimos. Agora precisa olhar para o mercado.”

“Em relação à instrução normativa em vigor (IN 7, de 2001), as mudanças representam um aperto nas regras”, afirma o gerente técnico econômico da Organização das Cooperativas do Paraná, Flávio Turra. O trigo do Paraná vai “cair” para 25% pão, 35% doméstico e 40% básico, quando o clima ajudar, estima. Para mudar esse quadro, será necessário desenvolver e multiplicar material genético hoje pouco usado, avalia. Mesmo esses produtos, no entanto, não serão imunes aos efeitos do clima, pondera.

Das cerca de 2,6 milhões de toneladas de trigo da última safra, os produtores do Paraná ainda têm 500 mil para vender, numa época em que o plantio 2010/11 já alcança 15% da área do cereal. O principal entrave é justamente a dificuldade para colocação de grãos de baixa qualidade.
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Fonte:
Gazeta do Povo

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