Boatos, oferta e preocupação no mercado de arroz

Publicado em 11/05/2010 15:02
Maio iniciou com a indústria da boataria em processo mais acelerado do que a de arroz. E os preços oscilaram. Semana tensa, de calmaria aparente, será importante para determinar o futuro da cotações

Os preços do arroz, que vinham firmes em abril, entraram trôpegos no mês de maio, com o aumento da oferta por parte do produtor, o aumento do volume de arroz “a depósito” e a rebaixada nos preços do arroz importado do Mercosul. A oscilação se tornou ainda mais evidente diante da boataria que surgiu em cima de uma informação equivocada de jornalista do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), de que o Brasil demandaria a importação de 2 milhões de toneladas, incluindo terceiros países (da Ásia) como fornecedores. Diante de uma situação de estoques ajustados e já com o argumento de compra de arroz vietnamita por empresas do Nordeste, sendo usado abusivamente para forçar uma baixa no preço, o mercado tremeu nas bases. Mas, o terremoto foi de fraca intensidade, até o momento.

O desmentido do MAPA veio, mas o mercado já tinha feito a leitura de que haveria uma sobreoferta de arroz importado e baixou cerca de 50 centavos nesses primeiros 10 dias em algumas regiões gaúchas. O estrago já estava feito. Na verdade, o Brasil importará 1,2 milhão de toneladas, segundo projeção da Conab. Mais do que o suficiente para suprir um pequeno déficit de abastecimento e recompor os estoques internos. A informação, equivocada, aparentemente era a gota que faltava para o copo transbordar.

A alta de abril foi muito focada no mercado interno e na quebra de safra do Rio Grande do Sul (e, mais recentemente, no Sul catarinense, onde se projeta 10 a 15% de quebra por grãos falhados ou chochos). No Mato Grosso a Conab chegou a avaliar uma quebra maior do que a projetada nos levantamentos de safra, que manteve em “stand by” até o oitavo levantamento, que confirmou a expectativa original. A quebra de safra de 14% no Uruguai e de, aproximadamente, 8% na Argentina, segundo fontes locais, também fizeram os preços internos se manterem aquecidos.

Estrategicamente, em razão da quebra, o Mercosul se mantém com preços um pouco acima da média do mercado internacional, o que segura os preços dos Estados Unidos, mais influenciados pela Ásia, que está vendendo arroz “de barbada” mundo afora. Principalmente Vietnã (esse sempre operando com preços muito baixos para assegurar a colocação dos seus excedentes, fidelizar clientes e assegurar novos mercados), e da Tailândia, que se vê obrigada a mergulhar no “varejão” vietnamita para assegurar suas posições internacionais e não “micar” com seu produto estocado.

No Rio Grande do Sul, com a área colhida já superando os 90%, apesar das chuvas que voltaram essa semana ao estado, acontece uma situação que as indústras já esperavam. A entrada do terço final de colheita aumentou consideravelmente a “entrega” de arroz “a depósito”. Ou seja, o produtor que não dispõe de armazenagem própria suficiente para o volume colhido, envia para secar e armazenar na indústria. Naturalmente, a maior parte dos produtores que só estão colhendo de abril para cá, é daqueles descapitalizados que não fizeram o pleparo de solo antecipado, entraram nessa operação em pleno pico do “El Niño” e semearam no tarde. Principalmente na região Sul e no Litoral. Produtor descapitalizado é um prato cheio para algumas indústrias girarem com o produto, afinal, arroz não tem marca. Automaticamente, os “estoques privados” aumentaram e não há mais tanta preocupação em comprar para formá-los.

Ao mesmo passo, terminando a colheita, um número maior de produtores incorporou-se à comercialização, a oferta aumentou e, no Sul do estado a velha história da “tabela de classificação” voltou às rodinhas de conversas. Mais produtor querendo vender, já que os preços não estavam tão ruim, menos indústrias querendo comprar e determinando, para baixo, as cotações. O resultado da equação é uma ligeira baixa nos preços, praticamente aos patamares da primeira quinzena de abril.

E a indústria ainda pena para repassar custos ao varejo. Principalmente em São Paulo e no Nordeste, onde tem arroz uruguaio chegando praticamente nos mesmos patamares do produto gaúcho. E com vantagem tributária.

PREÇOS

Assim, depois de registrar uma alta de 6,47% em abril, o Indicador do Arroz CEPEA-Bolsa Brasileira de Mercadorias/BVM&F (Rio Grande do Sul/50 quilos e 58 grãos inteiros) apresentou uma leve queda, de 0,75% nos primeiros 10 dias de maio, fechando a comercialização nessa segunda-feira (10/5), ao preço de R$ 28,51 depois de haver registrado R$ 28,68 uma semana antes. Na semana que passou a média também foi de R$ 28,51, com queda de 0,31% (ou nove centavos). Em dólar, seguimos com o maior preço do ocidente: US$ 16,08 a saca de 50 quilos.

A queda de 17 centavos tem um impacto muito mais psicológico do que mercadológico, mas deixa o produtor de “orelha em pé”. Imaginando que pode cair mais, principalmente com informações descontextualizadas da realidade divulgadas pelo próprio Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, muito agricultor “se joga” no mercado ofertando produto. E aí mora o perigo.

Um forte movimento de oferta nesse momento afetaria toda a construção de preços de março e abril. Em um cenário que ainda está equilibrado. O Mercosul, por exemplo, está mantendo as vendas ao Brasil ainda abaixo das médias dos últimos anos. Ou seja, o fluxo de oferta internacional ainda não é considerável ao ponto de uma explosão de oferta interna. O momento é de o setor avaliar bem, manter o fluxo regular e não se atirar ao mercado, sob pena de afeta-lo negativamente. O vencimento de compromissos da colheita também força esse movimento. Arrozeiros mais capitalizados já começaram o movimento de compra de insumos, aproveitando os preços da entressafra.

Com o anúncio da liberação de recursos de custeio e de comercialização pelo Banco do Brasil, pelo menos uma notícia boa chegou ao mercado. Os arrozeiros agora tentam uma reunião com o presidente Lula para apresentar as demandas referentes às perdas da colheita. Depois de peregrinar por inúmeros ministérios, os produtores chegaram à conclusão de que é verdadeiro o bordão popular: “Quem vai ao santo, vai à Deus”.

MERCADO LIVRE

Nas principais praças gaúchas as cotações do arroz em casca (50kg/58x10) variam entre R$ 28,00 e R$ 29,00, mais inclinadas ao primeiro valor. Santa Catarina vem acompanhando os preços do Rio Grande do Sul. Nos pólos industriais há preços um pouco melhores no Sul gaúcho diante daqueles praticados na fronteira, até mesmo em razão do fluxo de oferta e dos reflexos das perdas produtivas.

Uma situação diferenciada vive a Depressão Central, que registrou ligeira alta nos preços esta semana em virtude da falta de produto “velho” na indústria. As cotações, por parte das empresas, foram um pouco maiores, pois algumas cooperativas estão alugando seus armazéns para soja, em razão da ociosidade provocada pelas perdas do arroz na região. Indústrias de médio porte aceitam pagar até 30 centavos acima de outras praças, pelo produto de boa qualidade. A situação só não é de cotações acima desses patamares porque há muito arroz a depósito e essa foi a região que plantou mais atrasado, portanto está colhendo boa parte nos últimos 45 dias. Arroz de melhor qualidade está bem valorizado na Depressão Central. E tende a ficar mais, dependendo da conjuntura dos próximos dias.

Os principais analistas gaúchos entendem que essa semana o mercado se manterá em “banho-maria”, com indústria e produtores se estudando e aos fatores que influenciam o mercado. É um mercado tenso, de calmaria aparente. Uma eventual corrida de produtores à venda fatalmente seria um movimento de grande impacto negativo nas cotações. A indústria, ciente dessa situação, vem recuando em sua estratégia de compra. Mais um reflexo da garantia dada pelo “arroz a depósito”. A orientação da Federaroz e da Farsul é de que produtor tenha cautela essa semana. Ela é decisiva. Pelo menos até a próxima...

MERCADO

A Corretora Mercado, de Porto Alegre (RS), indica cotação média de R$ 29,00 para a saca de arroz em casca (para tipo 1) no Rio Grande do Sul. A saca de 60 quilos do produto beneficiado é valorada em R$ 58,00. Ambos os valores estáveis. Estabilidade também nas cotações dos derivados. A saca de 60 quilos de canjicão é cotada a R$ 24,00, R$ 18,00 é a média referencial da quirera (60kg) e a tonelada de farelo de arroz manteve-se em R$ 240,00.

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Fonte:
Planeta Arroz

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