Paraná finaliza plantio de trigo em clima de apreensão

Publicado em 29/06/2010 07:14 e atualizado em 29/06/2010 08:28
Decisão do governo de reduzir em 10% o preço mínimo do cereal pega produtor de surpresa e gera insegurança no campo
A redução de 10% no preço mínimo do trigo, anunciada na semana passada pelo governo federal, criou um clima de insegurança entre os triticultores paranaenses. Eles estão finalizando o plantio de uma safra que prometia ser boa, favorecida pelo La Niña, mas que agora pode acabar em frustração. Com produto de ciclos passados acumulando nos armazéns e a dois meses do início de uma nova colheita, os produtores não sabem ao certo como será a comercialização da produção.

A revisão dos valores foi autorizada na última terça-feira pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), órgão ligado ao Ministério da Fazenda. No dia seguinte, o Ministro da Agricultura, Wagner Rossi, anunciou que a redução será de 10%. Mas, para valer, os novos preços precisam ser regulamentados por uma portaria do Ministério da Agricultura (Mapa), que ainda não saiu. O governo corre contra o tempo para editar a portaria até amanhã(30) para que os novos preços entrem em vigor em 1º de julho, quando começa um novo ano-safra.

No meio tempo, a cadeia produtiva se mobiliza para reverter a decisão e evitar a publicação da portaria. Logo após o anúncio do Mapa, a Federação da Agricultura do Paraná (Faep), a Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar) e a Secretaria Estadual da Agricultura (Seab) enviaram ofícios à Brasília solicitando o cancelamento do reajuste. A Faep questiona a legalidade da alteração, argumentando que a revisão do preço mínimo do trigo acontece fora do prazo estipulado pela legislação que instituiu as normas para a Política de Garantia de Preços Mínimos (PGPM).

Procurando pela reportagem, Rossi informou, por meio de sua assessoria, que ainda não recebeu os documentos e que só irá se pronunciar sobre o assunto após o comunicado oficial. Já o coordenador geral da Secretaria de Política Agrícola do Mapa, Sílvio Farnese, confirmou o recebimento do ofício da Faep e disse que o pedido será encaminhado ao departamento jurídico do ministério para apreciação.

Em entrevista à Gazeta do Povo, ele relatou que a portaria do Mapa que regulamenta a alteração dos valores de referência do trigo estaria pronta, aguardando apenas a assinatura do ministro para ser editada. Questionado quanto à legalidade da medida, Farnese reconheceu que a alteração do preço mínimo neste momento vai contra o Decreto-Lei 79, de 19 de dezembro de 1966, que diz que a mudança do valor deve ser feita com 60 dias de antecedência ao início da safra.

No Paraná, o plantio da safra de trigo de 2010 teve início no final de fevereiro, o que significa que a portaria do Mapa teria que ter sido editada em dezembro de 2009. "Se queria reduzir o preço mínimo do trigo, o governo perdeu as duas oportunidades que teve. Uma, que seria o prazo legal, em dezembro de 2009 ou até janeiro de 2010. E outra neste mês, quando anunciou o Plano Agrícola e Pecuário 2010/11", observa o assessor técnico da Faep, Pedro Loyola.

"Foi uma decisão unilateral, tomada de forma intempestiva em um momento em que 87% do trigo do Paraná já estão no campo. Lastimamos a medida, pois ela vai contra os próprios interesses do país. É inoportuna, inadequada e inconcebível", considera João Paulo Koslovski, presidente da Ocepar.

"O governo federal alterou as regras no meio do jogo. Não podemos ficar omissos. O trigo é uma questão de segurança nacional. O que o produtor quer não é tirar vantagem do governo, mas sim abrandar os prejuízos que vem tendo nos últimos anos", afirma o secretário estadual da Agricultura, Erikson Camargo Chandoha.

Tags:

Fonte: Gazeta do Povo

NOTÍCIAS RELACIONADAS

Arrozeiros garantem que não faltará arroz mesmo com as enchentes no Rio Grande do Sul
Irga instala comitê de crise em Camaquã
Anec avalia que enchentes no RS podem levar a originação de soja em outros Estados
É hora do Brasil importar arroz? Medida gera divergências entre governo e especialistas do setor
Ibrafe: O Brasil não terá necessidade de importar Feijão mesmo com as perdas do Rio Grande do Sul