Argentina: com triticultores desestimulados, safra não deve passar das 10 mi de ton
Maria Luísa Calamari, da Asociación Argentina Pro Trigo (Aaprotrigo), acredita que o plantio não atingirá os 4,2 milhões de hectares previstos pela Bolsa de Cereales de Buenos Aires. Representante do setor produtivo do sudoeste do país, a última região a plantar na Argentina, Maria Luísa diz que a sinalização do governo de que abrirá registro de exportação de 3 milhões de toneladas de trigo da próxima safra não é garantia de que os agricultores terão liberdade para comercializar a produção como quiserem. Se a Argentina de fato colher 10 milhões de toneladas, terá aproximadamente 3,5 milhões de toneladas para exportar (o consumo interno é de 6,5 milhões de t), volume que atende apenas em parte as necessidades brasileiras de 5 milhões de t de cereal importado por ano. Para o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Trigo (Abitrigo), Sérgio Amaral, isso não chega preocupar neste ano já que a produção mundial cresceu e o País tem conseguido se abastecer no Canadá e nos Estados Unidos.
Nos próximos anos, porém, a indústria brasileira espera voltar a ter a Argentina como seu principal fornecedor de trigo. Para isso, reforça os antigos laços com um convênio que contempla a produção sob critérios fixados pela indústria brasileira. O acordo, firmado entre Abitrigo, a Aaprotrigo e a Carbap, prevê classificar as diferentes qualidades de trigo argentino para atender as várias finalidades da indústria. "Trata-se de um ajustamento entre produção e demanda, de modo a atender um consumidor cada vez mais sofisticado", disse Amaral. O executivo nega que a aproximação entre a indústria brasileira e os produtores argentinos seja uma forma de pressionar os agricultores nacionais a fazerem o mesmo: produzir variedades de trigo que a indústria efetivamente demanda. Há anos os moinhos criticam o fato de o Rio Grande do Sul, segundo maior produtor nacional, cultivar trigo brando, cuja demanda no País é bem inferior à oferta. De acordo com Amaral, produtores do Paraná e do Rio Grande do Sul vêm adequando a produção às exigência da indústria moageira.
Ele reconhece, contudo, que o processo é lento, e que a safra nacional acaba se tornando "um mico na mão do governo", que nos últimos anos precisou apoiar a comercialização com leilões de prêmios para estimular o escoamento da safra. "Um produto subsidiado que vai parar no Marrocos ou vira ração. Isso não faz sentido." Para ele, o convênio com os produtores argentinos "é um exemplo importante" do que se pode fazer no Brasil. O acordo entre os produtores argentinos e os moinhos brasileiros não vale para a atual safra. Segundo Maria Luísa, a ideia é que "em quatro ou cinco anos" a produção argentina de trigo esteja mais adequada ao que a indústria brasileira espera.
Entre os critérios acordados estão peso hectolitro (ph) mínimo, glúten e número de queda, nível máximo de umidade e proteína, características já consideradas na negociação. Para os produtores argentinos, essa adequação garantirá mercado ao produto e preços mais remuneradores. De acordo com Amaral, a indústria nacional está disposta a pagar.