Medida do governo russo de embargar exportações faz preço do trigo subir
Apesar de não ser grande comprador de trigo russo – cerca de 30 mil toneladas vêm de lá –, o Brasil se abastece no mercado internacional com metade da matéria-prima de pães e massas. Com um dos três grandes fornecedores planetários fora do mercado, os preços que ainda não haviam se recuperado desde a crise financeira de 2008 entraram em nova fase.
– Como vai haver menos trigo no mundo, terá mais disputa pelo produto dos Estados Unidos e da Argentina, que devem aumentar os preços, e esse novo valor vai determinar quanto o produtor brasileiro vai poder pedir pelo seu grão – explica Élcio Bento, analista de trigo da Safras & Mercado.
Mesmo impressionado com a alta do cereal na Bolsa de Chigago, Hamilton Jardim, presidente da comissão de trigo da Federação da Agricultura do Estado, ainda está cauteloso quanto aos benefícios para os produtores gaúchos.
Jardim lembra que o bushel (que equivale a 27,6 quilos) saiu de US$ 6,53 na segunda-feira para US$ 8,36 ontem – alta de 28% em quatro dias – e lamenta que por aqui os preços ainda estejam “muito aviltados” por conta do alto estoque:
– Os preços podem subir mais aqui quando a Argentina começar a colher, entre outubro e novembro. É bom que o produtor fique atento para se desfazer dos estoques na melhor hora.
Para o consultor da Safras & Mercado, o triticultor deve aproveitar esse momento para “ir negociando”, porque a duração do efeito não está clara, apesar da decisão da Rússia de suspender as vendas ao menos até dezembro:
– O melhor é escalonar a venda à medida que o preço seja atrativo.
Para evitar imposto de importação mais elevado, detalha Bento, o Brasil compra trigo principalmente de Argentina, Uruguai e Paraguai. Só quando esses parceiros não conseguem abastecer a necessidade nacional, apelam para outros fornecedores, como EUA e Canadá. Mas, se outros países aumentarem o cerco sobre a produção dos hermanos, poderá haver impacto também nos preços da farinha e, por consequência, na massa e no pão, avalia Roland Guth, conselheiro da Associação Brasileira da Indústria de Trigo.