Brasil amplia importação de trigo em 20% no ano; câmbio favorece

Publicado em 14/10/2010 08:52
A maior parte das importações do Brasil, que consome cerca de 10 milhões de toneladas de trigo por ano, vem da Argentina.  

As importações brasileiras de trigo cresceram cerca de 20% de janeiro a setembro de 2010, para 5 milhões de toneladas, em relação ao mesmo período de 2009, mostraram dados do Ministério da Agricultura divulgados nesta quarta-feira.

 As compras no exterior, as maiores para o período de nove meses desde 2007, ocorreram após o Brasil ter colhido uma safra com problemas de qualidade no ano passado por conta do excesso de chuvas. Mas um câmbio favorável a importações também colaborou para o aumento.

Enquanto o preço médio do trigo importado pelo Brasil no acumulado de 2010 até setembro foi de US$ 232 por tonelada, alta de 5,4% ante 2009, segundo dados do ministério, o dólar foi cotado no período a R$ 1,78 na média, queda de cerca de 15% em relação ao valor médio entre janeiro e setembro de 2009.

E embora o Brasil esteja atualmente colhendo uma safra maior e de melhor qualidade, é provável que as compras no exterior sigam em alta nos próximos meses com o dólar nos patamares atuais, próximo de R$ 1,65, perto do menor valor em mais de dois anos.

"Os preços no mercado internacional subiram, mas a taxa de câmbio está dando competitividade... A indústria está priorizando a importação em vez de comprar a safra nacional", declarou nesta quarta-feira o gerente técnico e econômico da Ocepar (Organização das Cooperativas do Paraná) Flávio Turra.

O Paraná, maior produtor brasileiro de trigo, colheu até esta semana cerca de três quartos de sua safra estimada em 3,2 milhões de toneladas --a produção oficialmente prevista para o Brasil é de 5,4 milhões de toneladas, contra 5 milhões na temporada passada.

O técnico de trigo da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), Paulo Magno Rabelo, concorda com o representante dos produtores e acrescenta outro fator que favorece as importações: "O importador costuma ter prazos maiores para pagar, enquanto nas compras no mercado interno o prazo é de 30 dias".

A maior parte das importações do Brasil, que consome cerca de 10 milhões de toneladas de trigo por ano, vem da Argentina. Mas nos últimos anos o Paraguai e o Uruguai passaram a vender maiores volumes, diante de problemas na produção do tradicional fornecedor.

Além dos parceiros do Mercosul, que vendem o cereal livre de tarifas aos brasileiros, o Brasil também tem comprado o produto no hemisfério norte. Neste ano, aproximadamente 10% do total importado teve origem nos Estados Unidos ou no Canadá.

Negócios Lentos

Turra e Rabelo salientaram que a comercialização da nova safra brasileira está lenta, com os moinhos priorizando o trigo do Paraguai, vizinho ao Paraná, que colhe praticamente na mesma época.

Segundo Turra, o Paraguai tem um excedente de 600 mil toneladas de trigo para exportar, praticamente tudo para o Brasil.

O gerente da Ocepar afirmou que o mercado interno atualmente registra poucos negócios, com a indústria aguardando a colheita no Rio Grande do Sul se intensificar, o que pressionaria eventualmente os preços.

Os moinhos também estão estocados, após o bom volume de compras, o que é mais um fator para dificultar a comercialização da safra local.

No Paraná, o trigo é cotado atualmente entre R$ 480 e R$ 490 por tonelada, segundo a Ocepar, que calcula que aproximadamente 15% da nova safra tenha sido comercializada.

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Fonte: Reuters

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