Cientistas apostam na irrigação em arrozais

Publicado em 01/11/2010 06:53

Especialistas da Ásia pediram a atualização dos sistemas de irrigação do continente para garantir uma adequada produção de arroz e poder alimentar mais de um bilhão de novas bocas nos próximos 40 anos.


Os cientistas fizeram esse chamado quando acontece crescente preocupação com o impacto do aquecimento global sobre a segurança alimentar.


A agricultura de seca (sem irrigação e dependente da chuva) é vulnerável aos padrões climáticos erráticos, por isso o uso de sistemas de irrigação é cada vez mais necessário para arrozais de todo o continente, disseram. “A agricultura irrigada é uma plataforma mais segura”, disse Thierry Facon, da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO). Por outro lado, “a agricultura de seca é menos produtiva”, acrescentou.


Esta distinção se fez mais notória no contexto do aquecimento global. “Os camponeses são reticentes em investir em boas sementes e fertilizantes em áreas de chuva devido à incerteza gerada pela mudança climática”, explicou Thierry à IPS. “E é nessas áreas que está a maioria das populações pobres rurais e vulneráveis”, acrescentou. Estudos do Instituto Internacional de Pesquisa do Arroz (IRRI) refletem esta realidade.


“Aproximadamente, 27 milhões de hectares de arroz cultivado com chuva são frequentemente afetados por secas”, diz um informe desse órgão científico com sede em Los Baños, nas Filipinas. “Os ambientes arrozeiros com chuvas experimentam múltiplas pressões abióticas e estão caracterizados por altos níveis de incerteza, particularmente em relação ao tempo, a duração e intensidade das precipitações”, afirma.


Entretanto, os sistemas de irrigação construídos e administrados pelos governos devem ser atualizados para que seja possível criar mais e melhores plantações de arroz e trigo, e para atender as novas demandas dos agricultores, segundo uma série de novos estudos divulgados em uma reunião dias atrás em Manila patrocinada pelo Banco Asiático de Desenvolvimento.


Uma destas demandas é uma distribuição de água mais equilibrada. “É muito comum os agricultores não conseguirem a água que precisam”, disse Elizabeth Humphreys, cientista do IRRI. “Isto força os camponeses a bombearem água subterrânea”. A especialista disse que nem todos os camponeses são beneficiados de maneira igual pelos sistemas de irrigação, que não são modernizados por falta de dinheiro.


“Os camponeses, agora, precisam de mais flexibilidade para se dedicar aos cultivos comerciais, mas o sistema não pode dar este serviço”, disse Thierry. “O prometido já não é suficiente para os agricultores. O estilo de administração não responde às novas tendências de cultivos”, acrescentou. Muitos dos atuais sistemas de irrigação foram construídos durante a Revolução Verde, nos anos 60, que se baseou em um radical impulso para um aumento da produção de arroz mediante a introdução de variedades mais eficientes para atender a fome no continente.


Segundo a FAO, a Revolução Verde permitiu um aumento de 300% na produção arrozeira nas últimas quatro décadas, ajudando a “reduzir a proporção de famintos de 34%, em 1970, para 16%, em 2006”. Agora, quando a região enfrenta o desafio de alimentar 1,5 bilhão de novas bocas nas próximas quatro décadas, a atenção novamente se volta para os sistemas de irrigação.


“A população da Ásia chegará a cinco milhões de habitantes em 2050, e para alimentar esse 1,5 bilhão de pessoas adicionais serão necessários sistemas de irrigação que gerem mais valor por gota de água”, diz um dos estudos apresentados na reunião do Banco Asiático de Desenvolvimento, da qual participaram cerca de 600 políticos. O trabalho foi intitulado “Produzindo mais Alimento com menos Água: como a Revitalização da Irrigação na Ásia Pode Ajudar”.


“A Ásia tem 70% da terra irrigada do planeta e é lar de alguns dos sistemas de irrigação mais antigos e grandes”, disse o Banco, com sede em Manila. “Contudo, a maioria foi construída antes da década de 1970, funciona mal e, em geral, não consegue responder às necessidades dos agricultores”.
O arroz é alimento básico para mais de três bilhões de pessoas, a maioria vivendo na Ásia. Este continente responde por 90% da produção mundial em estimadas 250 plantações, segundo o IRRI. Os principais produtores de arroz, plantado em aproximadamente 150 milhões de hectares em todo o mundo, são China, Índia, Indonésia, Bangladesh, Vietnã, Tailândia, Birmânia e Filipinas.


Desse total, 79 milhões de hectares são terras baixas, que produzem 75% da colheita mundial anual, segundo informe do IRRI intitulado “Arroz e Água”. A “proporção de áreas arrozeiras da Ásia irrigadas cresceu substancialmente desde o final da década de 1970, quando era de 35%, até meados dos anos 1990, quando chegou a 44%”, disse.

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IPS

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