Comercialização lenta do trigo paranaense está preocupando os produtores

Publicado em 03/11/2010 13:59

A colheita paranaense está praticamente finalizada. Embora o índice de produtividade imprimisse dados históricos, a qualidade esperada pelos moageiros na safra 2010/2011, não foi satisfatória. Para a produção de massas frescas ou produtos da panificação, exigi-se um trigo mais forte e com estabilidade maior. O trigo colhido no Paraná, região reconhecida nacionalmente por produzir cultivares de ótima e excelente qualidade, infelizmente não colheu trigo com a força (W) desejada. Logicamente que colhemos trigo de boa qualidade, mas devido à segregação deficiente o problema é maior que o exposto. Porém a posição geográfica e habilidade que confere a maioria dos moageiros paranaenses, mesclarem o trigo ou comprar farinhas prontas de países vizinhos para atingir o nível de qualidade exigida pela indústria brasileira é uma realidade. Citamos há dias, que neste período o mercado nacional deveria se descolar um pouco dos valores apresentados pela Bolsa de Chicago, que fundamenta suas cotações neste momento através do clima. No MERCOSUL há concentração de ofertas. O mercado argentino ainda se mostra resistente as cotações, na contra mão dos valores apresentados pelos produtores paranaenses e paraguaios. Contudo a safra da Argentina e do Uruguai deverá se intensificar a partir de dezembro. Em janeiro de 2011 realmente será mais difícil controlar os preços. “É mais fácil empurrar um caminhão na subida, do que segurar um na descida”. Ou seja, geralmente para subir são escalonados preços mês a mês, porém para descer o mercado quer de uma só vez. Infelizmente a falta de estrutura de alguns produtores acaba prejudicando as cotações. Hoje existe uma grande necessidade de ajustar as contas e isso também está causando o efeito (manada). “Este efeito acontece quando diversas pessoas decidem fazer a mesma coisa ao mesmo tempo, de maneira desordenada, mas contínua”. Tudo começa quando uma parte decide fazer uma coisa, e aí todos os outros, ao verem os primeiros a ir para um lado, decidem remar para esse mesmo sentido. A realidade é que o produtor não pode ficar fazendo jogo de braço, pois sua necessidade de equilibrar as contas é mais importante neste momento. Segundo um agente de mercado o produtor deve amargar com a margem de lucro estimada para esta safra de 2010/2011, porque o Paraguai está muito agressivo nas ofertas. O moageiro paranaense já compra volumes grandes do Paraguai há muito tempo, principalmente os moinhos que estão perto da fronteira, que em tese é extensão agrícola do Paraná. Os compradores estão estocados de trigo, usando todas as ferramentas para adquirir matéria-prima com preços menores. Quem tem muito trigo guardado, agora terá que ter muita cautela, pois a pressão para baixar será intensa. Basicamente quem tem necessidade de vender agora não poderá exigir valores compensadores. Problema é saber quando o mercado mudará de nível novamente. A quem diga que nós estamos literalmente na Roleta Russa. O aumento do número de rodadas pode aumentar o risco dramaticamente.

Palavra da Indústria
Conforme contato com vários representantes que compõem o quadro da indústria de biscoito e macarrão, percebemos relatos uniformes. A indústria diz que sofreu muito nos últimos três meses com a pressão do mercado vendedor e comprador. “Estamos finalizando o mês de outubro com nossos  barracões abarrotados de farinhas de trigo e com preços altíssimos,” comentou. Teremos muita dificuldade de trabalhar em novembro com uma boa média, pois as indústrias grandes já nos assolam com os preços na prateleira e isso já esta causando pressão invertida dos compradores de macarrão, biscoitos e massas em geral. Conforme consultas feitas diretamente com os compradores de farinhas de trigo, o mercado se mostra mais susceptível ao BID do comprador. “Agora devemos usar a farinha que temos em estoque e após o feriado ou a partir do dia 08/10/2010, devemos intensificar um pouco mais as compras se for necessário, disse um comprador de Minas Gerais”. Nossos concorrentes têm acesso a ofertas mais vantajosas. Se nós cedermos, não conseguiremos vender, pois já estamos com preços acima,  concluiu. Em São Paulo existem grandes compradores de farinha que recebem muita farinha da argentina e isso se torna um argumento forte na hora de comprar farinha do moinho brasileiro. Quem vende para estas indústrias tem que se submeter ao BID deles. “Com isso as indústrias menores são esmagadas quando encontra estes concorrentes nos supermercados”. O momento é delicado, porém há muitos negócios, devido às datas comemorativas de final de ano.

Disponibilidade de produção
A disponibilidade de produção dos moinhos ainda está um pouco apertada, mas já começa a abrir novas janelas. Alguns contratos foram fechados para 3 meses, e outros para 2 meses. A segunda opção finaliza os embarques no final deste mês de outubro. Entre tanto até o momento não houve manifestação de forma positiva sobre as renovações dos contratos. Com isso embora tenha negócios fechados até dezembro, se abre mais as portas para o comprador de farinha, aumentando assim o leque de ofertas no mercado SPOT. A preocupação agora não é vender, mas a quanto vender. Embora os preços do trigo tenham recuado um pouco, a qualidade não atinge o padrão mínimo estipulado pela indústria.

Negócios reportados
Temos notado que um pequeno grupo de indústrias quer orquestrar o mercado de preços das farinhas. O certo é que no Paraná, São  Paulo e Minas Gerais existem grandes empresas que juntas consomem em torno de 100 mil toneladas. Devido ao poder de compra tentam balizar os negócios. Um negócio mau feito derruba o mercado. Conforme temos acompanhado, padeiro com pouquíssima informação consegue pagar bem menos, só com o argumento que o concorrente vende mais barato. Embora a indústria se mostre mais retraída no que tange a compra de volumes o que é de costume entre dia 20 e 30 de cada mês, muitos negócios já foram realizados. Soubemos de negócios em São Paulo de farinha comum a R$ 35,00, CIF com pagamento de 35 dias. Para farinha especial os moinhos estão mais resistentes nas cotações. Para produzir farinha de qualidade precisa de um trigo forte. A indústria está batendo forte, confiante que vai conseguir atingir sua meta. De outro lado o moinho não se mostra tão apetitoso para vender a qualquer preço. Soubemos de negócios para farinha que produz massa fresca, com (L) 94 e 0,44% de cinzas a R$ 54,50 a saca de 50 quilos. Tudo depende do mercado em que o vendedor atua. Desta mesma farinha encontramos negócios com cargas fracionadas a R$ 63,00 a saca de 50 quilos, mas são indústrias pequenas. Para este tipo farinha a pressão está um pouco menor, até porque lote de trigo com qualidade no Brasil não tem sido uma tarefa fácil de encontrar e quando aparece o preço é alto. Farinha para macarrão espaguete em Minas Gerais os preços ofertados estão em torno de R$ 48,00 e R$ 49,00. Contudo o comprador quer tentar recuperar os meses de altas e busca um valor inferior a R$ 46,00. Em São Paulo a briga está mais acirrada. As grandes companhias estão pleiteando valor inferior a R$ 44,00 pela saca de 50 quilos. Porém as cotações estão entre R$ 47,00 e R$ 48,00. Certa feita em uma reunião com vários representantes da cadeia do trigo, alguém disse: "Vender quando o mercado está em alta é fácil, porém a lição de casa precisa ser feita quando os preços começam a descer". Tarefa difícil porque a necessidade de fazer caixa às vezes é maior. Contudo a semana se encerra com preços medianos. Observamos em alguns casos a manutenção de preços e em outros uma leve retração de no máximo 5%. De toda forma ainda existem volumes expressivos para fechamento na semana que vem. Cautela para a compra e venda de farinha é o melhor a fazer neste período de instabilidade mercadológica.

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Fonte:
AF News

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