Vietnã busca novos rumos para o arroz

Publicado em 09/11/2010 06:51 e atualizado em 09/03/2020 23:40
As terras baixas que formam o delta do Rio Mekong, no sul do Vietnã, já foram palco de boa parte da própria história do país do Sudeste Asiático. Foi por meio desse delta, que deságua no Mar da China, que os franceses invadiram o Vietnã em meados do século XIX para dominar a cidade hoje chamada de Ho Chi Minh, mais conhecida no ocidente como Saigon e a maior do país, atualmente com cerca de 8 milhões de habitantes.

Mas, muito antes dos franceses, que reconheceram a independência vietnamita apenas em 1954, o mesmo delta já abrigava algumas das mais antigas lavouras de arroz do mundo. O clima quente e úmido, aliado às áreas planas e irrigadas pelos rios, sempre criaram um ambiente bastante favorável para o cultivo do cereal. Ainda hoje a região é uma das maiores produtoras de arroz do Vietnã, sendo responsável por praticamente metade da área total plantada no país, da ordem de 8 milhões de hectares.

Atualmente, as técnicas de cultivo de arroz, que contam mais de 6 mil anos, deparam-se com a chegada de novas tecnologias apresentadas pelas multinacionais dos segmentos de sementes e proteção de cultivos. Empresas como a suíça Syngenta, as alemãs Bayer e Basf e a americana Monsanto têm como principal aliado nesse processo o próprio governo socialista do país. Por meio de seus pacotes de produtos, as empresas prometem ganhos de produtividade, e essa é uma frente cada vez mais popular no governo, sobretudo porque se trata de segurança alimentar.

O produtor Lien Van Phuoc foi atrás das promessas e diz que, até agora, são bons os resultados. Aos 57 anos de idade, ele está envolvido com arroz desde criança, quando começou a aprender com o pai as técnicas de cultivo. Conquistou seu seu próprio pedaço de terra com 31 anos, e os ensinamentos do pai lhe garantiam uma produtividade de 7,5 mil quilos de arroz em seu único hectare, que sustenta os cinco membros da família.

Há quase dois anos, Lien decidiu acompanhar alguns de seus vizinhos e passar a usar um pacote tecnológico que incluía sementes híbridas e defensivos. Chegou aos 800 quilos por hectare e "ganhou" 2,4 mil quilos a mais por ano, já que no Vietnã é possível produzir três safras de arroz anualmente. "Acredito nas soluções tecnológicas. Elas permitem que eu aumente minha produtividade e tenha renda maior para garantir os estudos dos meus três filhos. Dois já estão na universidade", afirma Lien.

Com os pés enterrados nas alagadas terras onde seu arroz se desenvolve, ele conta que o uso de novas tecnologias não representa um aumento no custo de produção, como muitos agricultores ainda pensam. Apesar de os preços das sementes e dos defensivos serem maiores, a redução no uso de fertilizantes é tão representativa que acaba viabilizando o negócio. "As raízes são maiores e fazem com que a planta absorva mais as proteínas da terra", diz, mostrando a diferença em relação a uma área onde fez o cultivo da forma tradicional.

A escassez de recursos financeiros, deficiência na organização da cadeia produtiva, o apego às tradições e até resistências ideológicas ao avanço de companhias multinacionais ainda mantêm Lien quase como uma exceção nos campos vietnamitas. Dos quase 8 milhões de hectares cultivados, apenas cerca de 10% já utilizam sementes híbridas. Em termos comparativos, o uso de híbridos de arroz na China, maior produtor mundial, supera 60% da área cultivada.

Mas, mesmo com o baixo grau tecnológico, o Vietnã é o quinto maior produtor e o segundo exportador mundial de arroz. Na safra 2010/11 a expectativa é que sua produção alcance 24,75 milhões de toneladas, 2% acima do ciclo anterior, e as exportações do cereal fiquem em 5,8 milhões de toneladas, se mantendo praticamente estável.

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Fonte:
Valor Econômico

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