La Niña ameaça colheita gaúcha de grãos

Publicado em 24/11/2010 06:24 e atualizado em 05/03/2020 08:00
O clima seco provocado pelo fenômeno La Niña colocou os produtores do Rio Grande do Sul em alerta. Ainda não há estimativas consolidadas de quebra, mas enquanto algumas cooperativas seguem confiando em uma boa safra, outras já admitem riscos de perdas importantes nas plantações de milho e arroz. O La Niña reduz a temperatura da água do Oceano Pacífico e diminui a umidade e a ocorrência de chuva no Sul do país no período de implantação e desenvolvimento das lavouras da safra de verão.

Até a semana passada, segundo a Emater-RS, o volume de chuva acumulado no mês estava 72% abaixo da média histórica no Estado, e a situação ameaça ampliar a quebra prevista inicialmente pela instituição em relação ao ciclo 2009/10, quando o clima favorável ajudou a turbinar a safra. Na soja, a retração já estimada passava de 1,3 milhão de toneladas e no milho, beirava 1 milhão de toneladas, mas os números deverão ser revistos nos próximos meses.

Conforme o agrometeorologista Celso Oliveira, da Somar Meteorologia, as simulações indicam que a região entre o centro e o norte do Rio Grande do Sul permanecerá com chuva abaixo da média em novembro e dezembro, quando as lavouras de milho são mais suscetíveis à falta de umidade. Em janeiro e fevereiro, as precipitações voltarão a um patamar próximo do padrão histórico, mas em março o quadro tende a piorar, com riscos para a soja.

No sul e na fronteira oeste, onde predomina o arroz, a chuva deve voltar com mais intensidade em janeiro depois de dois meses de déficit hídrico que provocaram problemas de germinação como em Alegrete. O problema, de acordo com Oliveira, é que aí a umidade poderá até ser prejudicial, porque nessa fase as plantações, que são irrigadas, precisam de mais insolação.

Numa das áreas mais castigadas até agora, em São Luiz Gonzaga, no noroeste, não chove desde o dia 2 deste mês, e a Coopatrigo teme a perda total dos 5 mil hectares de milho plantados nos dez municípios de atuação. O agrônomo Fábio Hauschild admite que poderá ser preciso replantar 20 mil hectares de soja que foram semeados nesta semana, mas não encontraram umidade suficiente no solo para germinar. A área total de soja na região da cooperativa chega a 180 mil hectares.

Em Alegrete, na fronteira oeste, o gerente de assistência técnica da Caal, Luciano Freitas, diz que a situação está "complicada". Dos 32 mil hectares de arroz na área de abrangência da cooperativa, metade germinou, mas a outra metade enfrenta falta de umidade. Por isso, os produtores terão que recorrer aos mananciais para irrigar as sementes e depois poderá faltar água para o período de inundação das lavouras.

De acordo com Freitas, o volume de chuva na região foi inferior à metade da média histórica em outubro e, em novembro, está abaixo dos 10%. Com isso, a expectativa de uma produtividade "cheia" de 7 mil quilos por hectare deverá ser reduzida em 20% se não houver uma "chuva significativa" ainda neste mês, afirma o agrônomo.

A 250 quilômetros a oeste de São Luiz Gonzaga, em Não-Me-Toque, no norte do Estado, a Cotrijal já fez uma projeção inicial de safra inferior ao desempenho de 2009/10 por conta do La Niña. Segundo o coordenador do departamento técnico da cooperativa, Robson Sandri, a previsão é colher cerca de 50 sacas (3 mil quilos) por hectare nos 200 mil hectares de soja na região de atuação da cooperativa, cinco sacas a menos do que no ciclo anterior.

Para o milho, a estimativa é de 150 sacas/hectare nos 30 mil hectares plantados, ante 172 sacas em 2009/10. Mesmo assim, Sandri assegura que o cenário é de cautela e não de pânico. "O quadro não é tão pessimista", comenta. Segundo ele, embora o volume de chuva em novembro esteja 50% abaixo da média, as precipitações são bem distribuídas e estão sustentando o desenvolvimento das lavouras, mas os meses de dezembro a fevereiro é que serão "críticos" para definir o desempenho da safra.

Em Ijuí, entre São Luiz Gonzaga e Não-Me-Toque, a situação também preocupa, diz o presidente da Cotrijuí, Carlos Poletto. Os produtores dos 42 municípios de abrangência da cooperativa reduziram a área de milho de 37 mil hectares em 2009/10 para 26 mil hectares por medo do La Niña e as próximas três semanas serão decisivas para saber se as lavouras vão alcançar o rendimento histórico médio de 110 sacas por hectare na região. Na soja, que demanda mais umidade entre janeiro e março, a expectativa ainda é de uma safra normal, com a média de 2,4 mil kg/ha nos 450 mil hectares plantados.
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Fonte:
Valor Econômico

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