“Pôquer” do feijão desafia produtor

Publicado em 26/11/2010 06:33
Há poucos meses, valor da leguminosa subia e projeções chegavam a R$ 200 por saca, mas boa safra começa a jogar os preços para baixo

“O feijão é o pôquer da agricultura”. É assim que Jesse Ricardo Prestes, agrônomo e produtor de Castro, nos Campos Gerais, define o cultivo do alimento, cada vez menos consumido no Brasil. Com o plantio da safra das águas praticamente concluído, a tendência de alta nos preços se inverteu. Da média de R$ 127,55 por saca de 60 quilos alcançada mês passado no Paraná, o agricultor recebe apenas R$ 94,98 por saca, 25% a menos.

As apostas foram altas, mas o consumo não deve dar suporte ao crescimento da produção. A safra atual – que é a principal das três cultivadas anualmente no Paraná, maior produtor nacional – tem área 3,2% superior à do ano passado. Em âmbito nacional, a colheita do feijão deve ficar 4,8% acima da temporada anterior e somar 1,53 milhão de toneladas, ante 1,46 milhão colhido em 2009/10, estima a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

O presidente do conselho de administração do Instituto Brasileiro do Feijão (Ibrafe), Marcelo Luders, atribui o avanço do plantio da leguminosa ao recente aumento dos preços pagos ao produtor. Mas a perspectiva de que uma boa safra está para entrar no mercado pressiona fortemente as cotações atuais. Dois meses atrás, havia projeções de que a saca chegaria a R$ 200 em dezembro.

O produtor Jesse Prestes, de Castro, plantou feijão em 480 hectares ano passado e quase tomou uma rasteira no fim do ciclo. “Deixei de vender na colheita porque o preço estava muito baixo. Peguei dinheiro emprestado no banco e, quando o preço chegou a R$ 80 por saca, eu vendi”, relata. Após o sufoco, o produtor decidiu reduzir pela metade a área plantada neste ano. Ao contrário dele, a maior parte dos produtores do Paraná aumentou significativamente a lavoura. Arceny Bocalon, presidente do Sindicato Rural de São João (Sudoeste), estima que a área no município saltou de 150 hectares em 2009/10 para 500 hectares nesta safra.

A última pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) referente ao consumo per capita desse produto é de 2002-2003 e mostra que cada brasileiro comia 12,8 quilos do produto por ano. A atual estimativa do Ibrafe é mais otimista: 17 quilos por habitante/ano. Mas esse valor já foi de 23 quilos por habitante/ano, na década de 60. A justificativa para a redução no apetite por feijão no Brasil está ligada a diversos fatores. Além do preço, o fenômeno pode estar ligado ao tempo de preparo do produto, que perde competitividade dentro do mercado fast food, aponta a cadeia produtiva.

Preço do alimento mais que dobrou

A inflação está tirando o feijão do prato dos brasileiros. Com alta acumulada de 110% neste ano, o feijão carioca é responsável por uma das maiores altas no grupo dos alimentos, segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Na passagem de outubro para novembro, o preço do quilo do produto avançou quase 11% nas prateleiras dos supermercados. O movimento ocorreu num momento em que o preço médio ao produtor já fazia caminho inverso. Não há previsão sobre quando a redução nas cotações agrícolas terá efeito nos pontos finais de venda. O preço pago pelo consumidor é três vezes maior que o valor do alimento na lavoura.

O engenheiro agrônomo do Departamento de Economa Rural (Deral) do Paraná Carlos Salvador acredita que a pressão inflacionária deva diminuir com o início da colheita da principal safra do ano, plantada em agosto e que já começou a ser colhida este mês. “Nas próximas semanas teremos um aumento considerável na oferta de feijão novo, de boa qualidade, o que pode ajudar a reduzir os preços para o consumidor final”, avalia.

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Fonte:
Gazeta do Povo

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