Regra que garante qualidade do trigo impacta sul do País

Publicado em 01/02/2011 07:05
Apesar dos bons preços esperados neste ano para o trigo no mercado interno, os produtores gaúchos não devem ser beneficiados. Há poucos meses da entrada em vigor da mudança de classificação para o trigo pão brasileiro, o cereal no Rio Grande do Sul não deve atingir a qualidade mínima exigida no mercado. Por isso, os produtores do sul entrarão com um pedido junto ao governo federal para adiamento da norma por pelo menos um ano.

A partir de julho, a classificação mínima para a qualidade do trigo pão deve passar de 180 de força de glúten para 220, conforme orientação e necessidade dos moinhos brasileiros. Estados como o Paraná e São Paulo já estão dentro das normas que serão exigidas. "Essa exigência do governo é uma forma de atender a necessidades dos moinhos do País, que muitas vezes precisam exportar trigo de qualidade para criar o seu produto. Grande parte da nossa produção é de trigo domestico, com uma força de glúten de 120 apenas, e a qualidade para o pão tem que estar acima de 220 de força de glúten", confirmou Sérgio Dotto, chefe-geral da Embrapa Trigo.

Dotto contou que mais de 60% da demanda brasileira pelo cereal se refere ao trigo pão, muitas vezes suprida por volumes importados de outros países, já que o Brasil tinha como mínimo de qualificação 180 de força de glúten. "O mercado brasileiro demanda muito a qualidade do trigo pão, onde 60% da farinha de trigo é para o pão. Então, quanto mais quantidade desses grãos maior será a liquidez do trigo, pagando melhor, e não dependendo tanto do governo para comercializar."

Contudo os produtores do Rio Grande do Sul e Santa Catarina estão pleiteando, junto ao governo federal, um adiamento de pelo menos um ano para a entrada dessas novas regras. Segundo o presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado do Rio Grande do Sul (Fecoagro/RS), Rui Polidoro, no dia 20 e 21 de fevereiro uma comitiva irá se reunir em Brasília para debater entre outros assuntos o adiamento dessa medida. "Vamos pedir a prorrogação dessa exigência sobre a nova qualificação por pelo menos um ano, e acho que vamos conseguir. Esta exigência ficará muito acima dos padrões até então existentes e inclusive dos produtos importados, então isso é muito complicado mudar de uma hora para outra", garantiu Polidoro.

Para o dirigente, essa medida, além de restringir a comercialização do produto no mercado interno, pode reduzir drasticamente a rentabilidade do produtor gaúcho. "Essa mudança vai cair no colo dos produtores, pois a exigência aumentará e o governo, que estabelece o preço mínimo, reduzirá o valor mínimo para produtos que não se enquadrarem. Com o preço menor, o produtor terá uma grande queda em sua rentabilidade, e assim muitos podem reduzir a área ou até desistir da cultura", comentou a Fecoagro/RS.

O agrônomo do Instituto de assistência técnica e extensão rural (Emater-RS), Ataides Jacobsen, defende as medidas do governo. Entretanto, acredita que os produtores gaúchos terão muitas perdas. "Em 2010 o produtor mal conseguiu atingir os 180 de força de glúten, com essa nova normativa, a situação deve piorar. O preço mínimo será depreciado e o produtor terá que correr atrás para se adequar", disse.

Apesar do otimismo demonstrado pela Fecoagro/RS quanto ao adiamento, nenhuma das instituições acredita que o governo mudará de posição, alegando principalmente que esta resolução já foi adiada diversas vezes. "Essa novela já acontece a uma década. Para o produtor do sul, o ideal seria que essas classificações nunca entrassem. É preciso pressioná-los porque senão eles jamais tomarão qualquer iniciativa e depois reclamam que os moinhos não querem comprar o trigo deles. Quem acaba pagando a conta é o governo", frisou, Lawrence Pih, presidente do Moinhos Pacífico S.A., considerado o maior da América Latina.

Para Pih, essa resolução será benéfica para toda a cadeia, diminuindo as importações e atribuindo mais valor ao trigo brasileiro. "Com essa regra o trigo dessas regiões não será classificado como trigo pão e simplesmente terão que se adaptar para garantir uma qualidade melhor. Se os produtores não produzirem o trigo que precisamos, eles serão obrigados a exportar. A pergunta é: para que o país vai produzir um produto que o mercado não aceita?", disse. Pih defende a entrada imediata das resoluções, e não acredita em um novo adiamento. "Nós queremos que o governo imponha essa classificação imediatamente, já estamos aguardando há um bom tempo isso. A produtividade do trigo é maior que o trigo pão, e é por isso que eles insistem em plantar esse trigo que não tem demanda aqui."

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Fonte:
DCI

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