Preço do arroz prossegue em queda

Publicado em 27/04/2011 07:51
A crise setorial do arroz está deixando os agricultores cada vez mais apreensivos. O preço pago pelo produto está em queda constante e muitos arrozeiros não recebem mais do que R$ 17,00 a saca de 50 quilos na região. Enquanto isso, o custo de produção gira em torno de R$ 30,00. Para a Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Rio Grande do Sul (Fetag/RS), caso não sejam tomadas medidas urgentes por parte dos governos, os plantadores não terão como honrar seus compromissos financeiros e ficarão impossibilitados de continuar na atividade.

O assessor de Política Agrícola da Fetag/RS, Airton Hochscheid, comenta que a entidade vem acompanhando de perto toda a situação dos arrozeiros e busca junto ao governo federal a liberação de recursos para a venda da safra por meio de mecanismos como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e a Aquisição do Governo Federal (AGF). “A liberação de recursos tem sido a conta-gotas e não resolve o problema.” Outro aspecto defendido é a restrição na importação do produto de outros países. Segundo avaliações, eles concorrem de forma desleal com a colheita nacional.

Segundo Hochscheid, não se entende que o preço mínimo seja de R$ 25,80, estabelecido pelo próprio governo federal, enquanto os agricultores recebem valores abaixo de R$ 20,00. “Não é possível pagar para trabalhar. A questão da soberania alimentar deveria ser a prioridade número um do País”, defende. Ainda destaca que há urgência na área de infraestrutura, com a construção de armazéns e silos para armazenagem do produto, além do credenciamento de mais estoques por parte da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). “Atualmente, mesmo que houvesse recursos para o PAA e AGF, não existem armazéns credenciados em número suficiente para atender à demanda.”

A Fetag/RS acredita que a questão cambial também tem sido um agravante para o setor agropecuário, pois com o dólar cotado abaixo de R$ 1,60, os produtos brasileiros perderam competitividade no mercado internacional e ainda concorrem de forma desigual com a importação. Para Hochscheid, os itens do setor primário, em especial os que compõem a cesta básica, deveriam ter um tratamento diferenciado. “As políticas de garantia de preços, a ampliação da capacidade de armazenagem e a proteção contra produtos importados, além da compensação pela desvalorização cambial, são medidas urgentes e imprescindíveis para garantir o abastecimento e a alimentação do povo brasileiro”, diz.

PRODUTORES

O agricultor Air Menezes, de 54 anos, é um ex-arrozeiro. Depois de 30 anos na atividade, ele não plantou nesta safra. A área destinada à cultura em Campo da Estância, no interior de Candelária, foi arrendada. A desvalorização do produto ao longo dos anos foi crucial para a tomada de decisão. “Não vejo mais expectativa para voltar a plantar.” Para Menezes, é inviável vender o quilo do arroz a R$ 0,34, abaixo do custo de produção. Segundo comenta, são longos meses de trabalho intenso e de muitos investimentos na lavoura que, infelizmente, não são valorizados. “O produtor está pagando para trabalhar.”

Menezes lembra que há 17 anos uma saca de 50 quilos de arroz custava o mesmo que uma arroba de tabaco. “Hoje, a diferença de preço é enorme”, lamenta. Ainda ressalta que o consumidor está pagando pelo produto atualmente o mesmo da época em que quando a saca valia R$ 40,00 para o arrozeiro. “Resta saber quem fica com essa diferença.” Para ele, que agora planta apenas soja, a agricultura é a âncora verde do Brasil e precisa ser mais valorizada.

Também em Candelária, a atual safra já foi encerrada na propriedade da família Becker, em Linha Curitiba. Segundo Rafael, de 33 anos, os 75 hectares renderam uma boa produtividade, mas o arroz continua estocado no galpão. “Estou aguardando um preço melhor para conseguir pagar as contas.” O arrozeiro conta que o valor oferecido pelo produto vem despencando. No fim de 2010, o restante da safra anterior foi vendido a R$ 24,00 a saca. Agora, se fosse negociar a produção, a diferença seria de R$ 7,00 – cerca de 30% a menos que no mesmo período do ano passado.

Para o arrozeiro Fernando Wollmann, de 52 anos, a esperança dos plantadores é que o governo possa garantir ao menos o preço mínimo. “Caso isso não ocorra, não teremos como pagar as linhas de crédito dos investimentos”, comenta. Ele também critica a Conab, que não disponibilizou depósitos credenciados em Candelária, o que dificulta o acesso aos mecanismos de venda. Produtor de Travessão Schoenfeld, Wollmann lembra que no ano passado os agricultores tiveram quebra de produção por causa das chuvas. Em 2011, a colheita não foi comprometida, mas a desvalorização ameaça quem depende da atividade.

Leilão amanhã

A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) lançou edital para novo leilão de Prêmio de Escoamento de Produto (PEP) para amanhã. A tendência é a manutenção dos leilões quinzenais, em busca de recuperação para o mercado, enquanto outros mecanismos são gestados. O Aviso 125 prevê a oferta de 130 mil toneladas, sendo 100 mil para o Rio Grande do Sul, 10 mil para Santa Catarina, 10 mil para o Paraná e 10 mil para o Mato Grosso do Sul. As regras são as mesmas dos quatro leilões já realizados.

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Fonte:
Gazeta do Sul

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