IAC lança variedade de trigo com o dobro de produtividade e redução de 30% na aplicação de defensivos agrícolas

Publicado em 31/08/2011 16:45
Quem come o tradicional pãozinho no café da manhã e todos os outros alimentos à base de farinha de trigo durante o dia, talvez não imagine todo o trabalho existente na cadeia de produção desse cereal. Na base do processo está a pesquisa científica, que requer cerca de 16 anos para desenvolver uma nova variedade, resistente a doenças, com alto valor produtivo e farinha de cor branca e alta qualidade a. Para diversificar e disponibilizar variedades com características cada vez melhores ao agricultor, o Instituto Agronômico (IAC), de Campinas, lança nesta quinta-feira, 1º de setembro de 2011, o trigo IAC 385 Mojave. O lançamento será durante a XI Reunião Técnica de Cereais de Inverno, realizada no Polo Regional Sudoeste Paulista da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), em Capão Bonito, interior paulista.

A nova variedade IAC do tipo melhorador apresenta potencial produtivo em torno de seis mil quilos por hectare, enquanto as outras em uso no Estado de São Paulo produzem cerca de três mil, exceto o IAC 370 que tem rendimento idêntico ao Mojave, de acordo com o pesquisador do IAC, João Carlos Felício. “Esses resultados podem variar de acordo com a região e as condições de clima e solo, mas em condições ideais o produtor consegue atingir esses valores”, explica Felício. A nova variedade IAC apresenta ainda espigas grandes e alto potencial de inflorescência – responsável pela geração dos grãos. “Eles apresentam bom peso de mil grãos (55 gramas)”, diz.

A aplicação de defensivos agrícolas nas lavoras do IAC 385 Mojave pode ser reduzida em pelo menos 30%. Isso porque a nova variedade possui moderada resistência à ferrugem da folha, às manchas foliares causadas por helmintoporiose e à brusone. As três são consideradas as principais doenças do trigo. “Geralmente o produtor faz de duas a três aplicações de defensivos agrícolas nas lavouras. Com essa moderada resistência, são necessárias apenas duas pulverizações. Isso em condições propícias de clima e solo”, explica o pesquisador do IAC, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.

O IAC 385 Mojave tem características de trigo melhorador e é utilizado para fabricação de pães especiais — como pão de forma e panetone — e para melhorar outras farinhas de qualidade inferior. De acordo Felício, são três os tipos de farinhas existentes: tipo melhorador, tipo pão e outros usos – estes para consumo doméstico. “O que determina a qualidade da farinha é a quantidade de glúten, ou seja, a proteína expressa no teor de glúten úmido, e a força de estabilidade da massa (W). O IAC 385 Mojave apresenta 31% de glúten úmido, o que é muito bom e confere estabilidade da massa, no mínimo, de 14 minutos”, explica o pesquisador.

A força de glúten e a estabilidade correspondem ao tempo em que a farinha resiste nas máquinas para o processo de fabricação do pão, por exemplo. “Se os grãos de trigo não têm essa característica, quando forem bater a massa para fazer alguma receita, ela vai ficar elástica, parecendo um chiclete e isso não é bom para o resultado final do produto, pois o miolo do pão apresenta muita umidade”, afirma.

De acordo com o pesquisador, a cor branquinha do miolo do pão atrai o consumidor final e, consequentemente, os moinhos, que compram mais rapidamente em razão da preferência por farinhas com coloração branca. A nova variedade do IAC possui também esta característica. O aparelho que classifica a cor, chamado Minolta, registra variações de zero (cor preta) a 100 (cor branca). O IAC 385 Mojave tem classificação 94, o que lhe garante alto potencial para coloração branca. “Entre 92 e 94 na escala, o trigo é branco, menos que isso a farinha já é um pouco avermelhada. Desconheço uma variedade no mercado que esteja acima desse valor atingido pelo IAC 385 Mojave”, ressalta. A aparência da farinha de trigo tem relação direta com a comercialização.

Desenvolvida para colheita mecanizada – que corresponde ao método utilizado em quase 100% dos trigais – a variedade possui porte baixo, de 85 cm a 90 cm, e moderada resistência ao acamamento, responsável por fazer as plantas caírem, impedindo a colheita por máquinas. O IAC 385 Mojave é também resistente à debulha natural. “É uma característica do trigo debulhar antes da colheita. Quando a espiga seca e a temperatura está alta, os grãos secam e caem, isso ocorre principalmente com a força da colheitadeira. Os grãos não conseguem ficar na planta, o que causa perda de produção para o agricultor”, explica Felício.

O novo material IAC tem ciclo médio, variando de 130 a 140 dias, possibilitando ao agricultor plantar diversas variedades para colher em períodos diferentes. “De cada 20 hectares que se planta em um dia, se colhe dez no mesmo período. Isso acontece porque o período do dia propício para a colheita é das 10h às 18h, depois disso, o grão umedece e a máquina não consegue bater. Por isso é necessário que o produtor plante variedades com ciclos diferentes para conseguir colher com maior facilidade”, afirma.

O cultivo está recomendado para a região de Capão Bonito, no Sudoeste Paulista. A expectativa é que no próximo ano se estenda também para região de Assis, no Médio Paranapanema. As sementes da nova variedade estão sendo produzidas e devem ser disponibilizadas aos produtores em 2012. A pesquisa teve o auxílio do Polo Regional Sudoeste Paulista e Polo Regional Médio Paranapanema, ambos pertencentes à APTA.

Produção

São Paulo é hoje o quarto Estado que mais produz trigo no País, com produção em torno de 250 a 300 mil toneladas e possui 45 mil hectares plantados. O Brasil é o segundo País que mais importa o grão, ficando atrás somente do Egito. “Consumimos 10 milhões de toneladas de trigo e produzimos apenas cinco milhões. Importamos principalmente de países como Argentina, Paraguai e Uruguai”, diz o pesquisador do IAC.

De acordo com Felício, o Brasil já produziu mais esse grão, considerado a base para alimentação. A explicação está na exigência de alta tecnologia. “O sucesso de uma produção não depende só das variedades cultivadas, mas também da forma como colhe, seca, armazena e comercializa”, afirma.

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Fonte:
AI - IAC

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