Com preço baixo e doença, produtor queima laranjal e planta hortaliças em SP
José Amélio Belanda, 42, encerrou neste mês uma história de amor com a citricultura iniciada há 28 anos no sítio Santa Cruz, em Itápolis, cidade do interior paulista considerada a maior produtora de laranja do país. O produtor rural terminou de erradicar seus pés de laranja, colocou fogo nas árvores e plantou berinjela, quiabo, jiló e mandioca no lugar.
"A laranja estava dando muito prejuízo", diz ele.
Como Belanda, vários produtores de Itápolis abandonaram a citricultura neste ano devido aos preços baixos da fruta, causados pela demanda em queda do suco no mercado mundial, e aos problemas fitossanitários com o greening, doença considerada o câncer da citricultura, que tem dizimado laranjais inteiros, principalmente no interior de São Paulo.
Contribui ainda para o desânimo dos produtores com a cultura, de acordo com Flávio Viegas, presidente da Associtrus (Associação Brasileira dos Citricultores), a concentração e a verticalização do setor, com as indústrias de suco de laranja ampliando sua produção própria de fruta. Esse movimento, diz Viegas, atinge, principalmente, pequenos e médios proprietários rurais.
Para fugir da crise, vários produtores, entre eles Belanda, uniram-se e criaram a APHI (Associação dos Produtores de Hortaliças de Itápolis). De acordo com Aguinaldo Rossi, um dos diretores da entidade, já há 65 associados.
Rossi, por exemplo, produzia mudas de laranja e a própria fruta, mas agora tem se dedicado ao quiabo e ao mel.
Nos últimos três meses, segundo ele, a associação já vendeu cerca de 3.600 caixas de hortaliças.
Algumas delas saíram do sítio de Belanda, que tem oito hectares. A renda com essas novas culturas, diz Belanda, tem compensado a troca.
No município de Araraquara, cidade citrícola paulista mais castigada pelo greening, a diversificação da laranja inclui ainda a fruticultura de clima temperado, o café e a pecuária leiteira.
O diretor técnico do ERD (Escritório Regional de Desenvolvimento de Araraquara), Eraldo Antonio Nuncio, disse que o órgão tem organizado encontros com produtores para oferecer instruções sobre novas lavouras.
Na fruticultura, segundo Nuncio, agricultores têm se capacitado para experimentar o cultivo de pêssegos, mangas e uvas. Propriedades acompanhadas por técnicos do escritório regional têm servido como modelo para os que quiserem se aventurar nessas atividades, afirma.
As oportunidades na pecuária leiteira estão ligadas à inauguração de novas linhas de produção de leite na fábrica da Nestlé em Araraquara. A revitalização da bacia leiteira da região foi um dos compromissos firmados entre a prefeitura, o Estado e a multinacional para garantir o investimento de R$ 120 milhões na cidade.
O presidente do Sindicato Rural de Ibitinga e Tabatinga, Frauzo Ruiz Sanches, lembra que a primeira opção dos citricultores desiludidos com a atividade é o arrendamento de áreas para a cana. Nem todos, porém, têm áreas com tamanho suficiente para que o arrendamento seja rentável.
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