Levantamento da Secretaria de Agricultura do PR mostra cenário do mercado do leite e derivados

Publicado em 16/10/2020 14:15

Levantamento feito pela Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento mostra a situação do mercado do leite e seus derivados. O aumento de preços de insumos elevou o custo de produção e, por consequência, os valores pagos aos produtores subiram mais de 50%, em média, este ano. Os consumidores sentem essa variação nas gôndolas dos supermercados.

Segundo o Departamento de Economia Rural (Deral), responsável pelo levantamento, entre os vários motivos está o aumento nos preços da soja e milho, principais componentes da ração fornecida aos animais. O trabalho demonstra que neste ano a elevação nos preços dos grãos, principais itens nos custos de produção da bovinocultura leiteira, é superior aos patamares pagos aos produtores.

No Paraná, só em 2020, o preço do leite subiu 51% em relação ao ano passado, reproduzindo um efeito cascata sobre o preço dos derivados como queijos, iogurtes e cremes para os consumidores. Já os custos de produção, subiram mais do que isso. A ração subiu 53%, pressionada pelo aumento no custo do farelo de soja que está 84% mais caro.

Segundo o técnico do Deral, Fábio Mezzadri, médico veterinário e autor do estudo, os produtores estão recorrendo ao aumento das receitas e melhoria da rentabilidade com o aumento no preço do leite para cobrir os custos elevados da soja e milho.

ESTIAGEM - Outros fatores contribuem para o aumento no preço do leite. Segundo o Deral, a estiagem atrasou o desenvolvimento das pastagens de inverno, e agora, prejudica o plantio e o desenvolvimento das forrageiras de verão, o que tem retardado a produção de alimentos para as vacas leiteiras, ocasionando queda na produção dos rebanhos, com consequente diminuição da oferta de leite no mercado.

Além disso, devido à pandemia e quarentena, com mais famílias em casa, o consumo se mantém aquecido no comércio varejista e há uma valorização do leite no mercado entre as indústrias. E também está havendo um acréscimo nas exportações de lácteos este ano.

PREÇOS -  De acordo com a pesquisa, a média estadual dos preços do leite recebidos pelos produtores em setembro de 2020 foi de R$1,97, ou seja, 49% superior ao mesmo mês de 2019, quando o valor recebido foi de R$ 1,32. De janeiro a setembro a alta foi de 46%, com preços passando de R$ 1,35, para R$ 1,97 o litro. Nesta primeira quinzena de outubro, os preços têm se mantido em alta. Ainda segundo o Deral, na semana entre os dias 05 a 09/10, a média do preço recebido pelo produtor por litro do leite foi de R$ 2,04, ou seja, 3,5% maior que a média de setembro (R$1,97).

CUSTOS - Em relação aos custos de produção, o Deral demonstra que no acumulado do ano de 2020 (janeiro a setembro), o preço da saca de soja (60kg) se elevou em 57%, passando de R$ 77,64 em janeiro, para R$ 122,11 em setembro. Na comparação de setembro de 2019 (R$ 73,54), a setembro de 2020 (R$ 122,11), a alta foi de 66%. “Portanto, altas maiores do que as observadas no valor do litro do leite pago aos produtores”, afirmou o veterinário.  Assim como a soja, foram observadas altas elevadas também no milho, outro importante insumo que faz parte da dieta do gado leiteiro.

Ainda segundo o Deral, na comparação do mês de setembro de 2019 e setembro de 2020 o acréscimo foi de 79% (alta superior a observada no valor do leite recebido no mesmo período), nos preços da saca de 60Kg, passando de R$ 28,09 para R$ 50,33 respectivamente. No acumulado do ano, (janeiro a setembro), a alta foi de 28%, passando de R$ 39,19 em janeiro/2020, para R$ 50,33 em setembro/2020.

OTIMISMO E CAUTELA - Apesar da crise, pandemia e estiagem, o atual momento é de otimismo e de recuperação da rentabilidade do setor leiteiro. Tem contribuído ainda para este cenário promissor, o crescimento das exportações de lácteos, que se elevaram este ano 25% em receita e 24% em volume no acumulado do ano (2020/janeiro a setembro), comparativamente a igual período de 2019. 

Mas a análise do Deral é que o atual momento também pede cautela aos produtores. Segundo o veterinário Fábio Mezzadri, muitas empresas (laticínios) e assistentes técnicos, têm orientado os produtores a segurarem maiores investimentos neste período crítico. A orientação vale para investimentos que não são essenciais para as boas práticas de manejo, alimentação e sanidade, indispensáveis a uma produção de qualidade).           

INCERTEZAS -  Segundo o técnico do Deral, o ano de 2020, tem sido bastante atípico para a atividade leiteira. Assim como outros setores do comércio e do agronegócio. “Já observamos neste período os preços pagos aos produtores e os preços no mercado varejista ora subindo e em outros momentos caindo. Por outro lado, empresas ora operando com estoques lotados e ora com dificuldades em encontrar matéria-prima”, destaca.

Em relação ao comércio, a partir do segundo semestre, a situação melhorou, muitas redes de restaurantes e lanchonetes “fast-food” que ainda permaneciam fechadas, ou em situação de instabilidade, tiveram permissão para reabrir, mesmo que ainda com algumas restrições devido a pandemia. Apesar de os produtores de leite estarem recebendo a mais pelo litro do produto, muitos ainda estão se recuperando financeiramente dos preços baixos praticados nos últimos anos. Cenário que ocasionou até o abandono da atividade por muitos produtores. 

Fonte: Sec. de Agricultura de PR

NOTÍCIAS RELACIONADAS

Preço do leite pago ao produtor sobe pelo 5º mês seguido, segundo média da Scot Consultoria
Frente Parlamentar do Leite discute melhoramento genético
Interleite Sul 2024 será adiada
Enchentes no Rio Grande do Sul deixam produtores de leite isolados
Leite/Cepea: Leite ao produtor segue valorizado em março