Obras não aliviam gargalo logístico em ano de safra recorde
No sistema rodoviário há várias obras de recapeamento e duplicação concluídas em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás, assim como em outros estados; outras estão em andamento. Mas ainda que as condições das estradas melhorem, o deslocamento por caminhão em longas distâncias - no caso mais de mil quilômetros até os portos de Paranaguá e Santos - é caro e ineficiente. “Os problemas de escoamento da safra do Centro-Oeste vão continuar. A melhora das estradas por si só não garante ganho de eficiência no transporte dos grãos. O modal rodoviário é antieconômico”, avalia Bruno Batista, diretor-executivo da Confederação Nacional dos Transportes (CNT).
Modais de transporte mais eficientes ainda são uma realidade longínqua. Pequena parte da produção de Mato Grosso, por exemplo, sai pelas hidrovias Paraná-Tietê, Rio Madeira e Araguaia; nas ferrovias, parcela da produção do sul do estado sai pelos trilhos da Ferronorte. A Ferrovia de Integração Centro-Oeste (Fico), entre Goiás, Mato Grosso e Rondônia, ainda não passou da fase de projeto.
“Vemos que, de fato, há um esforço para recuperar as estradas. Mas em épocas de chuva, como agora, os buracos surgem com uma rapidez maior que a capacidade de tapá-los. O problema é que continuamos sem alternativas”, explica Marcos da Rosa, coordenador da comissão de logística da Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso (Aprosoja). Ele, que também é produtor da região de Canarana, paga, em média, US$ 120,00 por tonelada para levar a oleaginosa até o Porto de Paranaguá. Para se ter uma ideia do que isso representa, em dezembro passado o preço médio da soja brasileira vendida ao mercado externo era de US$ 498,00 por tonelada, de acordo com a Secretaria de Comércio Exterior.
Dados da Associação Nacional dos Usuários dos Transportes de Carga (Anut) mostram que a precariedade do transporte faz com que o produtor brasileiro tenha uma desvantagem de US$ 74,00 por tonelada, na comparação com os norte-americanos e argentinos; somados frete ao porto (US$ 71,00) com despesas portuárias (US$ 3,00). Enquanto na Argentina as distâncias favorecem o transporte rodoviário, nos Estados Unidos as grandes distâncias são vencidas com uso de ferrovias e das hidrovias.
Recursos são insuficientes
De acordo com dados da mais recente prestação de contas do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do governo federal, em Mato Grosso, o investimento previsto em logística de transporte entre 2007 e 2010 somou R$ 2,516 bilhões; em Mato Grosso do Sul, R$ 1,602 bilhão; em Goiás, R$ 3,058 bilhões. No Pará, ligação entre a produção do Centro-Oeste e os portos do Norte, o investimento previsto somou R$ 2,77 bilhões. O percentual de aplicação desses recursos varia, mas, em que pese o montante dos recursos, as obras, no estágio em que estão, vão apagar incêndio.
“Tivemos poucos avanços até agora. São necessários mais portos, mais terminais, mais ferrovias. Com os 30 mil km de ferrovias que estão aí, e nem tudo está em operação, não dá. E isso não se recupera em um ano ou dois”, resume a consultora Elizabeth Chagas, especialista em logística.
Ela avalia que o governo, com as obras recentes, corre atrás do prejuízo após anos de subinvestimento em logística e infraestrutura e lembra: com o País em crescimento, a agricultura concorre por transporte com os outros setores da economia, o que pressiona todo o sistema de escoamento da produção nacional. “Os gargalos estão aí do mesmo jeito.”
Faltam silos apropriados para os grãos
No setor de armazenagem os problemas não são menores. Há falta de silos apropriados para cada tipo de grãos, a despeito de a capacidade estática da Companhia Nacional de Abastecimento ser de quase 138 milhões de toneladas. Estimativas informais são de que o déficit beira os 60 milhões de toneladas. “Para a soja, por exemplo, os armazéns não são apropriados”, diz Marcos de Rosa, da Aprosoja. É por isso, observou, que 30% da produção do Estado fica “estocada” sobre caminhões nas filas de embarque dos portos na época do escoamento. Ele também lembra a situação dos produtores de milho, que colheram uma grande safra no ano passado. Muitos deixarão o grão ao léu por não ter onde armazená-lo.
Dragagem de portos é problema
Se o transporte até as vias de exportação é precário, os terminais portuários não têm ficado atrás. Um dos problemas mais prementes é a dragagem, o afundamento dos canais para que grandes navios possam ser carregados em sua totalidade. Semana passada, por exemplo, o Terminal Graneleiro do Guarujá (TGG), no Porto de Santos, recebeu um navio com capacidade para carregar 190 mil toneladas de milho, o capesize Leonidas Warrior, mas só pôde embarcar 112 mil toneladas porque o canal de navegação de Santos precisaria ter uma profundidade de 17 metros, mas tem apenas 13,3 metros. Apenas em 2014 o canal será aprofundado para 17 metros.
Em Paranaguá não é diferente. O porto anunciou uma dragagem emergencial dos berços de atracação, ao custo R$ 2,5 milhões, que deverá estar pronta em fevereiro. Mas a dragagem de manutenção do Canal da Galheta, da bacia de evolução do Porto de Paranaguá e de aprofundamento dos canais, ao custo de outros R$ 152 milhões, ficará para pelo menos 2012.
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