Brasil pode perder até R$ 3,65 trilhões em 40 anos para conter efeito das mudanças climáticas

Publicado em 25/11/2009 08:35
O Brasil pode perder R$ 3,65 trilhões do Produto Interno Bruto (PIB) nos próximos 40 anos - ou seja, jogar fora pelo menos um ano e meio de tudo o que é produzido no país - para conter os efeitos das mudanças do clima, segundo o estudo "Economia da mudança do clima no Brasil: custos e oportunidades". O documento, elaborado por um consórcio de instituições brasileiras de pesquisa comissionado pela embaixada britânica, põe, pela primeira vez, na ponta do lápis, o preço que a economia brasileira teria que pagar pela inação e os investimentos necessários para adaptá-la às novas condições climáticas do planeta.

Distribuídas, as perdas do PIB encolheriam o poder de compra potencial das famílias de 1,1% a 3,4%, ou em cerca de US$ 200 bilhões. A preços de hoje, isso significa uma média per capita de até R$ 18 mil (ou 180% do consumo anual per capita atual) em relação aos ganhos que o poder de compra poderia ter com o crescimento econômico previsto para o período, se acompanhado de medidas para reduzir as emissões.

O prejuízo para a agricultura, um dos principais setores da economia brasileira, seria expressivo para a maioria das safras, que vão precisar de investimentos anuais importantes daqui para frente para lidar com as temperaturas mais altas. O cultivo de soja - um dos produtos de ponta da pauta de exportações brasileira - seria o mais afetado, com uma redução de 30% a 34%, seguido por café e milho (com quedas de 12% a 17% e 15%, respectivamente).

O estudo calcula que, se forem investidos R$ 378 milhões ao ano em pesquisas para a modificação genética da soja, por exemplo, o grão poderá se adaptar às novas condições e ainda trazer um benefício oito vezes maior do que estas despesas. O milho será a cultura que mais vai requerer investimentos: R$ 354 milhões ao ano para a modificação genética e outros R$ 309 milhões em irrigação.

Em seguida, vem o feijão, com um total de R$ 545 milhões. Em todos os casos, os investimentos necessários são de quatro a 15 vezes maiores do que os benefícios que terão os produtores. A cana seria o único item agrícola relevante beneficiado com o aumento da temperatura. Registraria um aumento na produção de 139% a 147%, com ganho de produtividade para as regiões Sul e Sudeste de 66% e 34%, respectivamente.

- A mensagem principal é que, se o país souber aproveitar as oportunidades de negócios e investimentos, e elas são muitas, poderá ter ganhos e se desenvolver. Os investimentos são menores do que os prejuízos calculados para a totalidade da economia para o caso de nada ser feito - afirmou o coordenador técnico do estudo, Sergio Margulis.

As regiões mais vulneráveis à mudança do clima no Brasil são a Amazônia e o Nordeste. Na Amazônia, o aquecimento pode chegar a 8 graus Celsius em 2100, o que significaria o colapso de boa parte da floresta. No Nordeste, as chuvas tenderiam a diminuir de 2 a 2,5 mm/dia até 2100, causando perdas agrícolas em todos os estados da região. O déficit hídrico reduziria em 25% a capacidade de pastoreio de bovinos de corte.

O estudo ressalta ainda as oportunidades de mitigação e mostra que uma redução do desmatamento de 70% a 95% pode ser feita ao custo de US$ 3 por tonelada de carbono. O preço sobe para US$ 50 por tonelada se acabar o desmatamento. Esses são os valores que permitirão a quem desmata mudar de atividade.

Este é o primeiro estudo realizado com projeções para os diferentes setores da economia. Foi elaborado por uma equipe interdisciplinar, formada principalmente por cientistas das principais instituições de pesquisa do país.

O documento foi feito com base em dois cenários previstos pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU, que consideram o crescimento acompanhado de medidas que torne as matrizes energéticas mais limpas e sem elas.

Segundo Margulis, o documento tem por objetivo promover o melhor entendimento do problema climático e pode servir de base para as discussões:

- As mudanças do clima entraram em definitivo para a agenda de desenvolvimento.

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Fonte:
O Globo

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