A
Comissão Parlamentar de Inquérito constituída para investigar as
ameaças à segurança alimentar no Estado de São Paulo realizou nesta
terça-feira, 15/2, sua última reunião para a oitiva de convidados. Professor-doutor
da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Campinas (Unicamp),
Ângelo Zanaga Trapé, falou de sua pesquisa de 30 anos sobre os efeitos
dos agrotóxicos na saúde do agricultor e na segurança alimentar. Em
todos esses anos, disse, não foi detectado nenhum caso de intoxicação
alimentar por agrotóxicos, pois todos os casos foram de contaminação de
trabalhadores por falta de orientação no uso dos produtos. Ele criticou a
falta de fiscalização na venda do chamado "chumbinho", veneno para
ratos que é usado também em casos de homicídio e suicídio. Segundo o
professor, as análises sobre a presença de resíduos de agrotóxicos nos
alimentos feitas tanto pela Anvisa como pelo Ministério da Agricultura
mostram que sua segurança é muito boa, mesmo em produtos considerados
críticos como batata e pimentão. Os níveis residuais são ínfimos,
garantiu. Ângelo Trapé fez um comparativo entre os alimentos produzidos
na forma tradicional e os orgânicos. Ambos têm valor nutritivo, sabor e
segurança igual, mas preço diferenciado, e mesmo a produção de um
orgânico requer o uso de defensivos. Como alternativa aos agrotóxicos, manejo integrado de pragas tem várias limitações Marcelo
Menossi, professor da Unicamp, abordou a questão dos alimentos
transgênicos. Segundo ele, a lei de biossegurança brasileira é uma das
mais avançadas do mundo, e a liberação de um produto transgênico é
antecedida de grande análise, tanto no Brasil como nos Estados Unidos ou
Europa. Estudos sérios e independentes também atestam a segurança do
uso da biotecnologia, assim como a Organização Mundial de Saúde (OMS) e a
Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO),
disse. O maior benefício dos transgênicos é que em boa parte deles a
necessidade de agrotóxicos é reduzida. Cientista do Departamento de
Engenharia Rural e Solos do campus Ilha Solteira da Universidade
Estadual Paulista (Unesp), o professor-doutor Geraldo Papa falou de suas
pesquisas na área do manejo integrado de pragas, que "é hoje o modo
mais racional de agricultura sem efeitos maléficos ao meio ambiente". A
produção integrada garante a sanidade mesmo na agricultura tradicional.
Técnicas de manejo que incluem integração com a pecuária e rotatividade
de culturas diminuem a necessidade de pulverizações. "O problema está
no mau uso dos defensivos agrícolas", disse Geraldo Papa, ressaltando
que esses produtos têm tido um avanço significativo, tornando-se mais
seletivos. "O controle biológico das pragas é o ideal, mas tem uma série
de limitações", explicou. Com o uso racional dos defensivos
agrícolas pode-se extrair o que ele tem de bom. Ele não aumenta a
produção, apenas a garante, evitando perdas que podem chegar a 35%. Para
isso, é fundamental o treinamento do agricultor para que ele siga as
normas de segurança. O presidente Ed Thomas (PSB) deu por aprovado
requerimento do deputado Simão Pedro (PT), relator da CPI, solicitando a
contratação de serviços especializados para auxiliarem na redação do
relatório final da comissão, a ser entregue no próximo dia 2/3. No final
de reunião, Simão Pedro considerou que "o grande problema é que o
Estado ainda deixa a desejar na fiscalização da contaminação de
alimentos e de trabalhadores", sendo necessária a necessidade de mais
investimentos nos institutos de pesquisa. |