Oeste baiano busca restauração total de APP
Através de uma parceria com o setor produtivo, organizações não governamentais e a indústria, a prefeitura pretende tornar verdes 100% das APPs do município, localizado dentro do perímetro dessa nova fronteira agrícola no oeste baiano. Segundo o governo, o déficit ambiental nessa categoria é pequeno. Dos 24 mil hectares que devem ser preservados em APPS, somente 6% precisam ser recuperados pelos proprietários rurais.
Isso, pelo menos, é o que mostrou o mapa georreferenciado do município, diz Fernanda Aguiar, secretária do Meio Ambiente de Luis Eduardo Magalhães, ou LEM, como é popularmente conhecida. "Precisamos recuperar dois mil hectares em áreas de preservação".
A preservação é alta porque, ao contrário de outros locais onde o desmatamento se deu para a entrada do gado bovino, em LEM o solo foi preparado para grãos. "Quando a terra é para pecuária, a primeira área a ser desmatada é a da beira do rio, para que o boi possa beber água", explica Valmir Ortega, da Conservação Internacional (CI), uma das parceiras do projeto "100% Legal" de Luís Eduardo.
O convênio envolve também a Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba) e o Instituto Lina Galvani, responsável pelas oficinas para produção das mais de 70 variedades de sementes com agricultores familiares, de forma a abastecer o proprietário rural com mudas e oferecer alternativa econômica a comunidades carentes.
No primeiro momento, o foco será recuperar somente a área degradada. Mas o programa já prevê novas imagens de satélite com maior resolução (de 2,5 metros) para identificar, dentro dos 94% preservados, estágios iniciais de degradação e outras fontes de pressão sobre a mata nativa.
Sobre o buraco nas Reservas Legais - o percentual de 20% de vegetação nativa na propriedade que tem que ser preservado nesta parte do Cerrado - não se fala. A lógica foi a de começar pelo mais fácil e obter avanços concretos. "Tem toda a discussão do Código Florestal acontecendo. Por isso, achamos que não seja o momento de mexer com Reserva Legal", diz Fernanda.
Com tantas discussões no ar, convocar o setor produtivo para recuperar áreas degradadas neste momento é uma tarefa cuidadosa. Não à toa, o trabalho de convencimento ficará a cargo da Monsanto. A multinacional americana de defensivos quer aproveitar o canal direto com seus clientes para contribuir com essa "sensibilização". Através de conversas informais e workshops, os vendedores da empresa tentarão mostrar os benefícios das matas ao próprio bolso do produtor - a vegetação ciliar, por exemplo, evita a erosão dos solos.
"Eles usarão a mesma tática de vendas para o trabalho de sensibilização", diz Gabriela Burian, gerente de sustentabilidade de Monsanto. "Nesse diálogo sobre a restauração serão explicados por que, pra quê e como ela deve ser feita."
Nos últimos anos, o oeste baiano entrou no radar de investidores agrícolas pelo potencial de área ainda a ser explorada. Segundo a Secretaria de Agricultura de LEM, há no município 400 grandes produtores rurais, e praticamente o mesmo número de pequenos agricultores. Eles se dedicam a 235 mil hectares, sobretudo de soja e algodão, os carros-chefes na região.
Por esse mesmo motivo, os ambientalistas também têm intensificado suas ações na região. Nesse pedaço de Cerrado há ainda muitos fragmentos preservados. A corrida, portanto, é para evitar desmates desnecessários como os que ocorreram no Mato Grosso, por exemplo. Segundo maior bioma do país, após a Amazônia, o Cerrado é nascedouro de águas que formam as três grandes bacias hidrográficas do país - Amazônica, São Francisco e Paraná/Paraguai.