Oeste baiano busca restauração total de APP

Publicado em 02/09/2011 08:26
O município baiano de Luís Eduardo Magalhães acaba de lançar uma campanha de restauração total das Áreas de Proteção Permanente de suas propriedades rurais, na primeira iniciativa do gênero no país. Conhecidas pela sigla APP, essas áreas compõem desde as terras que margeiam os corpos d'água até encostas de morros.

Através de uma parceria com o setor produtivo, organizações não governamentais e a indústria, a prefeitura pretende tornar verdes 100% das APPs do município, localizado dentro do perímetro dessa nova fronteira agrícola no oeste baiano. Segundo o governo, o déficit ambiental nessa categoria é pequeno. Dos 24 mil hectares que devem ser preservados em APPS, somente 6% precisam ser recuperados pelos proprietários rurais.

Isso, pelo menos, é o que mostrou o mapa georreferenciado do município, diz Fernanda Aguiar, secretária do Meio Ambiente de Luis Eduardo Magalhães, ou LEM, como é popularmente conhecida. "Precisamos recuperar dois mil hectares em áreas de preservação".

A preservação é alta porque, ao contrário de outros locais onde o desmatamento se deu para a entrada do gado bovino, em LEM o solo foi preparado para grãos. "Quando a terra é para pecuária, a primeira área a ser desmatada é a da beira do rio, para que o boi possa beber água", explica Valmir Ortega, da Conservação Internacional (CI), uma das parceiras do projeto "100% Legal" de Luís Eduardo.

O convênio envolve também a Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba) e o Instituto Lina Galvani, responsável pelas oficinas para produção das mais de 70 variedades de sementes com agricultores familiares, de forma a abastecer o proprietário rural com mudas e oferecer alternativa econômica a comunidades carentes.

No primeiro momento, o foco será recuperar somente a área degradada. Mas o programa já prevê novas imagens de satélite com maior resolução (de 2,5 metros) para identificar, dentro dos 94% preservados, estágios iniciais de degradação e outras fontes de pressão sobre a mata nativa.

Sobre o buraco nas Reservas Legais - o percentual de 20% de vegetação nativa na propriedade que tem que ser preservado nesta parte do Cerrado - não se fala. A lógica foi a de começar pelo mais fácil e obter avanços concretos. "Tem toda a discussão do Código Florestal acontecendo. Por isso, achamos que não seja o momento de mexer com Reserva Legal", diz Fernanda.

Com tantas discussões no ar, convocar o setor produtivo para recuperar áreas degradadas neste momento é uma tarefa cuidadosa. Não à toa, o trabalho de convencimento ficará a cargo da Monsanto. A multinacional americana de defensivos quer aproveitar o canal direto com seus clientes para contribuir com essa "sensibilização". Através de conversas informais e workshops, os vendedores da empresa tentarão mostrar os benefícios das matas ao próprio bolso do produtor - a vegetação ciliar, por exemplo, evita a erosão dos solos.

"Eles usarão a mesma tática de vendas para o trabalho de sensibilização", diz Gabriela Burian, gerente de sustentabilidade de Monsanto. "Nesse diálogo sobre a restauração serão explicados por que, pra quê e como ela deve ser feita."

Nos últimos anos, o oeste baiano entrou no radar de investidores agrícolas pelo potencial de área ainda a ser explorada. Segundo a Secretaria de Agricultura de LEM, há no município 400 grandes produtores rurais, e praticamente o mesmo número de pequenos agricultores. Eles se dedicam a 235 mil hectares, sobretudo de soja e algodão, os carros-chefes na região.

Por esse mesmo motivo, os ambientalistas também têm intensificado suas ações na região. Nesse pedaço de Cerrado há ainda muitos fragmentos preservados. A corrida, portanto, é para evitar desmates desnecessários como os que ocorreram no Mato Grosso, por exemplo. Segundo maior bioma do país, após a Amazônia, o Cerrado é nascedouro de águas que formam as três grandes bacias hidrográficas do país - Amazônica, São Francisco e Paraná/Paraguai.

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Fonte:
Valor Econômico

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