Por que produzir etanol de milho? Por Glauber Silveira

Publicado em 12/03/2012 12:32
Campos de Júlio, município localizado no oeste de MT, há 15 dias vem produzindo 90 mil litros de etanos de milho por dia. Inúmeras reportagens têm sido feitas a nível nacional por se tratar de algo novo no Brasil, já que nosso país é tradicional na produção de etanol de cana. Mas junto com as reportagens têm surgido perguntas, sendo as mais importantes: o etanol de milho irá ou não competir com o alimento? O Brasil pode produzir etanol de milho sem prejudicar a indústria de carne? 

Eu vou tentar responder a estas perguntas segundo minha visão de produtor. Nesta safra que se pode dizer não foi a mais favorável para a produção brasileira em virtude das adversidades climáticas, ainda assim a oferta de milho no Brasil em 2012, segundo a Conab, passará de 70 milhões de toneladas. Iremos produzir 62 milhões, mas temos um estoque da safra anterior de 10 milhões de toneladas. Além disso, iremos exportar 8,5 milhões de toneladas, consumir domesticamente 52 milhões, e, no final, ainda teremosmais de 10 milhões de toneladas em estoque.

Como podemos ver, milho não falta, apenas teremos que deslocar para as regiões produtoras de carne que tiveram sua produção do cereal afetada pela estiagem. O Mato Grosso deve produzir algo em torno de 10 milhões de toneladas e seu consumo é de apenas 2,5 milhões, sem se falar no sorgo.

 Nos últimos anos, MT tem exportado grande parte do milho produzido. O milho passou a ser uma cultura importante para a sobrevivência dos produtores do estado. Há 10 anos não se  plantava quase nada e nesta safra passará dos 2,4 milhões de hectares e na safra de 2013 essa área pode chegar,  sem dúvida, a três milhões de hectares.

 Como o Brasil só consome 74% do milho produzido atualmente, e no caso de MT o consumo corresponde a apenas 30%, os produtores se vêem obrigados a exportar; mas se deparam com um problema: a cada duas sacas enviadas ao porto, uma delas se perde em frete.

Mas ainda assim, com todas as dificuldades, nesta safra vamos exportar 8,5 milhões de toneladas, milho suficiente, segundo a consultoria Céleres, para sustentar a produção de oito indústrias de etanol de milho no Brasil, gerando R$ 1,5 bilhão em impostos e 1200 empregos diretos.

O Brasil só não planta e produz mais milho devido à precariedade da nossa logística, cujo custo do frete é tão alto que inviabiliza um aumento na produção do grão e também do sorgo. Poderíamos produzir 10 milhões de toneladas a mais se houvesse um mercado mais seguro. As produções nas regiões mais distantes ficam dependentes de apoio do governo para sua viabilidade e exportação. Sendo assim, algumas usinas como estas irão dar segurança ao mercado de milho, possibilitando ao produtor aproveitar as oportunidades, reduzindo custo e agregando valor à produção regional.

O Brasil tem na cultura da soja sua principal produção, principalmente por ser uma cultura desbravadora do cerrado, por ter preços mais sustentáveis e menos voláteis. Se tivermos um preço mais estável do milho, muitos produtores irão realmente fazer a rotação de cultura, ou terão a oportunidade de escolher o que plantar. Em MT, alguns produtores nesta safra já plantaram milho no lugar da soja.
 
Quando o então governador Blairo Maggi estimulou a Aprosoja estudar a viabilidade do etanol do milho há cinco anos, pois ele sabia da importância de buscar alternativas ao consumo, o produto parecia algo totalmente inviável. Mas como bem disse a Céleres, hoje é diferente, o milho avança muito em produção, tornou-seuma grande alternativa, a tecnologia tem evoluído muito no Brasil, nossa produtividade tem crescido a percentuais admiráveis e, com isso, em cinco anos podemos crescer muito em produção. 

Não podemos pensar o futuro com base nesta safra, ainda que, mesmo com todas as adversidades climáticas regionais, vamos exportar 8,5 milhões de toneladas de milho. E ainda bem que exportaremos, caso contrário os produtores mais uma vez venderiam seu milho em MT a R$ 8,00/saca, amargando prejuízos.

O milho é uma cultura muito importante no cenário mundial, tanto para a alimentação humana, quanto para a ração animal. Sendo assim, os grandes países produtores de alimentos tem se especializado cada vez mais na sua produção. O Brasil também tem que aproveitar a oportunidade. O milho é extremamente eficiente na transformação de luz solar em amido, mas é importante sem dúvida, não ficarmos dependentes só de exportação, já que temos desvantagens em infraestrutura, o que faz com que não sejamos competitivos.

Daí surge uma oportunidade regional para amenizar a falta de investimento brasileiro em transportes mais competitivos, em portos mais eficientes etc. As Usinas Flex, surgem num momento oportuno, em que o mundo fala em eficiência, aproveitando período de ociosidade das usinas de cana e o grande potencial de expansão do milho nas fronteiras agrícolas do Brasil.

No Brasil, a rotação de cultura será obrigatória nos próximos anos em virtude de doenças.  Já deveríamos estar fazendo mais, sendo assim só no MT deveríamos estar plantando pelo menos um milhão de hecatres na safra normal. Isto significa sete milhões de toneladas a mais. Mas qual seria o destino desse milho? 

Além disto, a biotecnologia tem avançado muito. Temos hoje, variedades muito mais produtivas e que promete no futuro produzir muito mais. Os EUA falam em dobrar a atual produtividade nos próximos 10 anos. A biotecnologia pesquisa variedades mais resistentes ao estresse hídrico, mais eficiente ao uso de fertilizantes, com maior resistência a pragas etc. 

Mesmo no Brasil, onde o milho ainda não é nossa principal cultura, devemos aumentar em pelo menos 40% a nossa produtividade média nos próximos 10 anos. Fora o crescimento de área em virtude de rotação de cultura, renovação de pastagens e assim vai.

Como podemos ver temos uma grande oportunidade. O Brasil tem um grande potencial de produção de milho e sorgo que deve ser aproveitado, ao contrário do que alguns dizem, só não se produz mais milho no Brasil por falta de sustentabilidade econômica, por isto temos produzido apenas milho para o consumo interno. Estas usinas flex, que espero se multipliquem no centro do Brasil, irão nos dar competitividade na produção de alimentos e energia.
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Glauber Silveira

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1 comentário

  • Telmo Heinen Formosa - GO

    Varios outros fatores concorrem para a produção de etanol de milho em MT, a proibição de plantio de cana na região amazonica e no pantanal. A necessidade imperiosa da rotação de culturas (graminea X leguminosa) e a rentabilidade de 380 a 425 litros por t de milho não é desprezivel, restando cerca de 300 kg de residuos chamados DDG pelos americanos, utilizados em terras yanques para o arraçoamento bovino em confinamentos. E por ultimo, etanol de milho pode ser fabricado o ano inteiro, administrando-se o estoque de grãos e não de liquido carburante, diminuindo muito o custo do seguro. Já na cana o etanol tem que ser produzido durante a colheita da mesma, sob pesados encargos de estocagem.

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