CE: Estoque de milho da Conab deve acabar em setembro

Publicado em 20/07/2010 08:09
Criadores rurais estão preocupados com a diminuição da quota de venda de milho pela Conab.
A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) reduziu a quota de venda de milho no Ceará para os criadores de gado, ovinos, caprinos, suínos e de aves. A decisão administrativa adotada na semana passada tem por objetivo manter o estoque do produto por mais tempo para atender parcialmente a demanda. De acordo com estimativa do escritório local da Conab, mesmo com a redução da quota, o estoque deve acabar na primeira quinzena de setembro. A decisão, entretanto, trouxe preocupação e dificuldades para os pequenos e médios produtores rurais.

No armazém da Conab em Iguatu estão estocados 412 toneladas de milho e na unidade de Icó, 430 toneladas. Nos últimos dois meses, a demanda triplicou. Não houve praticamente produção do grão por causa da seca que atinge o sertão cearense. A cultura de milho foi a mais atingida de acordo com relatórios de perda de safra das secretarias de agricultura dos municípios. Em média, a frustração da safra chega a 90%.

Além da reduzida safra no período invernoso deste ano, houve um aumento da demanda por milho a partir da abertura de novos cadastros para os pequenos e médios produtores rurais. Esse quadro criou uma situação crítica: reduzido estoque nos armazéns da Conab e aumento da demanda por grãos para alimentar o rebanho e aves nas unidades produtoras da agricultura familiar.

Os produtores tinham direito ao máximo de 13.980 quilos de milho em grão por mês. Essa quantidade varia de acordo com a quantidade de animais de cada criador.

A medida, entretanto, limitou ao teto único de três mil quilos para cada produtor. A saca de 60 quilos é comercializada por R$ 22,14 pela Conab, que atua como regulador de estoque e de preço no mercado. Já na feira, a saca de grãos é vendida por R$ 25,00 e esse preço tende a subir em face da escassez do produto.

Inverso

O quadro atual é inverso em relação ao ano passado, quando havia estoque e poucas vendas. O motivo é simples: a safra de milho no campo, em 2009, foi favorável e os produtores rurais formaram estoques próprios que deu para atender a demanda até o início da quadra invernosa deste ano. Em 2009, por exemplo, no mercado, sobrava milho que era vendido por R$ 19,00 a saca de 60 quilos, enquanto que o produto em estoque na Conab custava R$ 23,00.

Já neste ano, a chuva ficou bem abaixo da média e causou importante frustração de safra. A Conab tendo por base a realidade de 2009, não aumentou o estoque de milho. "Este ano foi totalmente diferente porque a seca acabou com a lavoura de milho e não houve produção no Ceará", observa o criador de gado, José Paulino Neto. "Estamos preocupados e revoltados com a atitude do Governo".

Os produtores locais apelam para que a Conab adquira mais grãos de outras regiões produtoras e faça a transferência para os armazéns do Ceará. "Há milho sobrando em Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais e Maranhão", disse Paulino Neto.

"O Governo precisa agir rápido, fazer nova licitação para compra de milho e transferir para o Nordeste porque estamos diante de uma seca que afetou a safra de grãos e isso não é novidade para as autoridades". Os produtores rurais estão preocupados. O que fazer para alimentar o rebanho de bovinos, suínos, caprinos, ovinos e de aves a partir de setembro se o estoque de milho na Conab tende a acabar? "Vamos enfrentar sérias dificuldades", disse o produtor rural e presidente da Unidade Pecuária Iguatuense, Mairton Palácio. "Se o Governo não agir com rapidez a crise atual vai afetar o setor pecuário".

Nesta cidade, o produtor de suínos, Francisco Odali de Souza, ontem, tomou uma medida drástica. Ele vendeu todos os suínos que criava, temendo dificuldades para alimentar os animais. O temor dos criadores é com a escassez de milho ou a subida de preço do produto inviabilizando a criação.

Hoje deve acontecer uma reunião dos associados da Upeci com o prefeito de Iguatu, Agenor Neto, com o objetivo de mostrar a realidade atual e solicitar do gestor uma ação para sensibilizar o Governo Federal a adquirir milho e transferir os grãos para o Ceará. "O nosso objetivo é que haja uma mobilização de todos os prefeitos da região e do Governo do Estado mediante as dificuldades que os criadores vão enfrentar para alimentar o rebanho", disse Palácio. "A pecuária do Ceará será afetada com essa seca e o rebanho vai sofrer diminuição".

O criador de gado, João Mauro Linhares, que recebia 250 sacas de 60 quilos de milho por mês, sofreu redução para 50. "Fomos pegos de surpresa e isso nos traz dificuldades para alimentar o rebanho". José Paulino Neto tinha direito a uma quota mensal de 77 sacas de 60 quilos, mas agora só pode adquirir 40. "Todos foram afetados, uns mais, outros menos, conforme a quantidade de animais".

Preocupação

O secretário de Agricultura de Icó, Mailton Bezerra, também, mostrou-se preocupado com a redução do estoque de milho. Bezerra espera que as autoridades possam comprar mais grãos para atender a necessidade dos criadores da região. O mesmo pensamento expressou o secretário de Agricultura de Jucás, José Teixeira Neto. "Em muitas áreas a produção de milho foi inferior a 10% do que se esperava colher", disse ele. "Quem não tiver área irrigada e sorgo vai ter enormes dificuldades para alimentar o rebanho neste segundo semestre".

O gerente de Operações da Conab, Afonso Couras, está viajando a Brasília, onde participa de reuniões e treinamento por toda esta semana. Ontem, pela manhã, ele chegou a atender ao telefone, mas estava ocupado e disse que retornaria em meia hora. Houve depois várias tentativas de ligações, o celular estava dando sinal de ocupado.

O superintendente da Conab, no Ceará, Francisco de Paiva Dantas, informou, por meio da secretária, identificada por Socorro, que estava em reunião por todo o dia e não poderia atender a reportagem.

Apelo

"A seca trouxe dificuldades. A falta de milho vai afetar o setor pecuário"
Mairton Palácio
Criador, e presidente da Upeci

"Apelamos para que o Governo Federal compre milho para atender a demanda"
José Paulino Neto
Produtor

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Fonte:
Diário do Nordeste

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