Perdas na segunda safra de milho podem chegar a 50% no Paraná

Publicado em 26/07/2011 09:18
Pesquisa realizada pela Gazeta do Povo revela que, entre perdas em volume e de qualidade, o clima pode ter levado quase metade da produção prevista para este inverno.
Plantio tardio, seca durante o desenvolvimento das plantas e geadas seguidas de chuvas no fim do ciclo. Depois de enfrentarem uma série de eventos climáticos desfavoráveis nos últimos meses, as lavouras de milho safrinha do Paraná não vão render tanto quanto o produtor esperava. Pesquisa realizada pela Gazeta do Povo junto a produtores e cooperativas do estado revela que, entre perdas em volume e de qualidade, o clima pode ter levado quase metade da produção prevista para este inverno.

O índice de quebra apurado pela reportagem é superior ao calculado pela Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento (Seab) no início do mês. Em levantamento preliminar divulgado logo após as geadas, o órgão estimou que o potencial produtivo da safrinha paranaense foi reduzido em 34,6% – sendo 8,4 pontos atribuídos à falta de chuva e 26,2 ao frio. O número, que não considera os prejuízos causados pelo clima adverso à qualidade dos grãos, está sendo reavaliado pelos técnicos da secretaria e deve ser atualizado nesta quinta-feira, quando a Seab anuncia novo le­­vantamento de safra.

O setor produtivo confirma a projeção do governo. Nas contas dos produtores, as perdas em volume devem mesmo ficar na casa dos 30%. Cultivadas com alta tecnologia, as lavouras paranaenses ti­­nham potencial para quase 5 mil quilos por hectare, mas devem render pouco mais de 3 mil quilos (produtividade média estadual). Nesse caso, a segunda safra de milho do estado, inicialmente estimada em 8,12 milhões de toneladas, somaria 5,6 milhões de toneladas.

Baixa qualidade amplia prejuízos

A diferença é de 2,5 milhões de toneladas, volume que, a preço atuais, poderia render R$ 1 bilhão aos produtores. Eles relatam, contudo, que os prejuízos certamente superarão essa marca. Isso porque ao menos 10% dos grãos colhidos devem apresentar problemas de qualidade e, por isso, tendem a ser comercializados a preços mais baixos. Atualmente, o mercado paga pela saca de milho de boa qualidade quase R$ 25, valor 87% superior ao praticado há um ano no estado.

Grandes na lavoura, os prejuízos tendem a ser ampliados no pós-colheita. Deficitárias quando comparadas ao tamanho à produção total do estado, as estruturas de armazenagem e secagem dificultam a segregação dos grãos e, em anos de perdas como este, acabam puxando para baixo a classificação dos grãos e pressionando ainda mais o bolso do produtor.

“Os compradores já estão afoitos esperando pela colheita, que ainda não deslanchou. Não deve haver falta de produto, mas tudo indica que haverá disputa por lotes de melhor qualidade”, relata Margorete Demarchi, agrônoma da Seab responsável pelo monitoramento da cultura. Até o momento, as máquinas passaram por pouco mais de 10%da área, segundo a secretaria. Das lavouras que ainda estão no campo, apenas 29% estão em boas condições.

Cooperativas calculam perdas

O Oeste do estado, que responde por 35%do milho safrinha produzido no Paraná, é a região onde os trabalhos de campo estão mais adiantados. “Quando as geadas chegaram, no final do mês passado, 5% das lavouras haviam sido colhidas e, no total, 25% da safrinha estavam fora de risco. No restante da área, entre 30% e 40% foram perdidos. Isso sem considerar os prejuízos em qualidade, que são difíceis de mensurar no campo”, relata Vitor Hugo Zanela, gerente técnico da cooperativa Lar, de Medianeira.

De acordo com o técnico, a colheita dos 110 mil hectares cultivados pelos cooperados da Lar neste ano deve ser concluída na segunda quinzena de agosto, com aproximadamente 10 dias de atraso. A produtividade das lavouras, inicialmente estimada em 5,2 mil quilos por hectare, deve ficar perto de 3 mil quilos. “Isso se o clima ajudar a partir de agora porque se continuar chovendo, pode comprometer ainda mais o rendimento”, pondera Zanela.

No Norte paranaense, que é responsável por 37% da produção estadual de milho de inverno, os produtores esperam perdas ainda maiores. O início da colheita do safrinha, no mês que vem, deve revelar uma quebra de até 50% na produtividade média das lavoras, calcula Luiz Yamashita, gerente comercial da cooperativa Integrada, que tem 230 mil hectares na região de Londrina. “As plantas tinham se recuperado bem da estiagem e o potencial era para 5,5 mil quilos por hectare. Mas aí veio e frio e agora a produtividade média não deve passar de 2,8 mil quilos”, lamenta.

Índices de quebra semelhantes são esperados na região Centro-Oeste do estado, que concentra 15% da segunda safra de milho do Paraná. Um dos termômetros da produção no estado, os números da Coamo, com sede em Campo Mourão, confirmam os prejuízos. Sozinha, a cooperativa responde por 22% de toda a área cultivada com o cereal no Paraná neste inverno. “As geadas pegaram 66% das lavoras em fase suscetível. Se parar de chover, a qualidade não será tão afetada e as perdas tendem a estabilizar. Caso contrário, a quebra pode superar os 35% a 40% projetados atualmente”, prevê o supervisor da gerência técnica, Luiz Carlos de Castro.

Na região de atuação da Coamo, as máquinas passaram por 5% dos 394 mil hectares e, desde então, a expectativa de produtividade vem sendo reduzida a cada quinzena, revela Castro. As primeiras áreas colhidas renderam 4,5 mil quilos por hectare e a expectativa era fechar o ciclo com média de 4,2 mil quilos. No final de junho, logo após as geadas, a projeção foi reduzida a 3 mil quilos por hectare e agora está em 2,7 mil.

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Fonte:
Gazeta do Povo

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