Belluzzo: Nacionalização de banco belga aponta para situação mais grave

Publicado em 11/10/2011 13:03
A decisão dos governos da França, Bélgica e Luxemburgo de nacionalizar o banco Dexia, a maior instituição financeira belga, "é um sinal que aponta para uma situação mais grave dos bancos" na Europa, avalia o economista Luiz Gonzaga Belluzzo. Para evitar o agravamento da crise da dívida na zona do euro, a chanceler alemã Angela Merkel e o presidente francês Nicolas Sarkozy decidiram capitalizar bancos e devem anunciar, até o final de outubro, um novo pacote.

"A questão não é o banco Dexia ou BNP Paribas, Société Générale ou os bancos alemães, os bancos gregos... Você precisa salvar esse funcionamento do sistema", explica Belluzzo. O professor titular aposentado da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) pondera que a França e a Alemanha "vão caminhar pra uma solução mais ampla, mais radical".

- A Alemanha está vendo que um 'default' (falência) da Grécia ou um aumento do descrédito na Espanha e na Itália, que dificulte o refinanciamento da dívida ou aproximem a Espanha e a Itália de uma situação difícil do ponto de vista da solvência, é muito pior do que tomar decisões agora e se antecipar ao que pode acontecer. Eles não definiram nada ainda, além dessa intervenção. É o que tem que se fazer mesmo quando você tem uma crise de banco - analisa Belluzzo.

Confira os principais trechos da entrevista de Luiz Gonzaga Belluzzo a Terra Magazine.

"Nacionalização de banco belga aponta para situação mais grave"
"É um sinal que aponta para uma situação mais grave dos bancos. O Dexia já foi capitalizado em 2008 e agora ele mostrou um excesso de exposição em relação a dívidas soberanas. Isso, na realidade, é um padrão dos bancos europeus. Como (George) Soros disse, o melhor seria colocar sob a supervisão drástica do Banco Central europeu, tirar-se a tensão em cima deles, para reduzir a desconfiança. É preciso fazer uma coisa coletiva, um financiamento interbancário. O problema é que um desconfia do outro. Os bancos americanos não fazem operações interbancárias em dólares com bancos centrais externos. Você não tem muita tergiversação a fazer em relação a uma crise deste tamanho. Porque é muito difícil você debelar essa crise só com declarações ou com apoio a liquidez. Tem que tomar outras decisões, para dar um pouco mais de solidez ao sistema bancário."

"Não se pode deixar os bancos quebrarem"
"A questão não é o banco Dexia ou BNP Paribas, Société Générale ou os bancos alemães, os bancos gregos... Você precisa salvar esse funcionamento do sistema. As empresas, quando têm problemas, prejudicam os fornecedores, prejudicam seus contratantes, mas na verdade não atingem o coração do funcionamento da economia. Os bancos fazem parte do sistema de provimento de liquidez da economia, eles constituem a rede de pagamento da economia. Toda mudança de expectativa acaba abalando os bancos. Então, uma crise de endividamento recessivo privado e público - uma parte dessa dívida pública dos governos europeus é fruto das intervenções para salvar os bancos na primeira etapa da crise privada - agora virou uma crise de dívida soberana. Toda crise de endividamento tem como consequência uma dificuldade de coordenação entre os agentes privados que, na realidade, são gestores de um serviço público. A rede de pagamentos, o crédito e a liquidez são serviços públicos que constituem, digamos assim, a rede informacional do mercado. Ou seja, a infraestrutura do mercado capitalista. Você não pode deixar isso quebrar. Os mais exaltados dizem que são contra o socorro aos bancos... Mas, se deixar quebrar, as consequências são piores - sociais, econômicas, etc."

Alemanha e a crise
"A Alemanha e a França ainda não se entenderam. Eu acho que eles vão caminhar pra uma solução mais ampla, mais radical. A Alemanha está vendo que um 'default' da Grécia ou um aumento do descrédito na Espanha e na Itália, que dificulte o refinanciamento da dívida ou aproximem a Espanha e a Itália de uma situação difícil do ponto de vista da solvência, é muito pior do que tomar decisões agora e se antecipar ao que pode acontecer. Eles não definiram nada ainda, além dessa intervenção. É o que tem que se fazer mesmo quando você tem uma crise de banco. O presidente do banco disse que o problema é que ele sofreu uma desclassificação da agência. Mas isso é só a consequência do que estava acontecendo."

"Fundo Europeu tem recursos abaixo do necessário"
"O problema dele é que o volume de recursos (do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira) está muito abaixo do que seria necessário para levar uma ampla operação de provimento de liquidez para o conjunto. Você não tem que olhar isso estaticamente, mas, na eventualidade de um 'default', o que não é improvável, você acelera a desconfiança - o que parecia razoável, passa a ser ruim. E o que parecia ruim, passa a ser desastroso na evolução da crise. É preciso ter um fundo mais parrudo.

"No Brasil, fazem abstração"
"Em geral, as discussões sobre a política econômica no Brasil fazem abstração do que está acontecendo no mundo. A integração da economia brasileira hoje é muito maior, tanto do ponto de vista financeiro, quanto do ponto de vista comercial. O Brasil não pode achar que, se houver um agravamento da crise europeia, não vai acontecer nada aqui. Mas, por outro lado, o sistema financeiro local é muito mais regulado, muito mais sólido. Pode ter alguns problemas de 'funding', mas acho que o Brasil tem meios de se defender. Não adianta nada você ter regras rígidas de política monetária e fiscal. Num momento como este, tem que dançar um pouco conforme a música e mudar o mix quando for necessário. Como foi feito em 2008. Quando a economia global entrou em recessão e o Brasil sofreu os efeitos por contágio, a política econômica foi eficaz para reverter esse quadro. Não há porque a gente não adotar a mesma atitude, talvez com mais flexibilidade na política monetária, e se for necessário também na política fiscal, para poder enfrentar a crise. Não há necessidade de o Brasil fazer um ajustamento passivo à crise. O Brasil tem condições de se defender. Não é que você vai reagir de forma chinesa, mas, pelo menos, proteger a economia dos efeitos da crise."

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Terra

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