Suiá Missú: Movimento em prol da região é cancelado pela Famato e sindicatos rurais

Publicado em 14/12/2012 13:38 e atualizado em 14/12/2012 17:50
Nesta sexta-feira (14), a desocupação da gleba Suiá Missú, no nordeste do Mato Grosso, continua e a ação da Justiça Nacional entra em seu quarto dia. O clima ainda é muito tenso na região, as polícias Federal e Federal Rodoviária e a Força Nacional continuam mobilizadas e colocando em prática as ordens judiciais de despejo. 

Há pouco, o movimento em prol da Suiá Missú que aconteceria no povoado de Posto da Mata, entre os municípios de Alto Boa Vista e São Felix do Araguaia, nesta sexta-feira foi cancelado pelos sindicatos rurais locais e pela Famato (Federação da Agropecuária do Estado do Mato Grosso). Em entrevista à Agência da Notícia, site de notícias do MT, o produtor rural Sebastião Prado afirmou que a confirmação do cancelamento veio do próprio presidente da Famato, Rui Prado. 

“O Rui nos ligou e avisou que não viria mais porque existe a informação de que o Ministério Público poderia responsabilizar as entidades pelo movimento de resistência no Posto da Mata, assim com a Justiça poderia decretar a prisão dos líderes do movimento, isso que está acontecendo aqui é uma grande covardia, estamos tolhidos de lutar por aquilo que acreditamos”, disse Prado. 

O movimento reuniria, segundo informações dos produtores locais, mais de mil pessoas e seria celebrado um culto ecumênico com o objetivo de promover a paz na região. Segundo a assessoria de comunicação da Famato, a entidade decidiu por cancelar o evento como forma de prevenção de novos conflitos e para preservar seus dirigentes, que já estariam sendo investigados pela Polícia Federal sob suspeita de incitar protestos contra a desocupação. Abaixo, veja uma nota de esclarecimento da Famato:

NOTA DE ESCLARECIMENTO
 
Nesta semana a Famato manifestou pesar pelas pessoas que acreditaram nas promessas de terceiros ou do próprio Estado e construíram suas vidas na Gleba Suiá Missu há 40 anos. Em nenhum momento, a entidade propôs ou estimulou o descumprimento de ordem judicial.  E para reforçar nosso posicionamento, reapresentamos a nota enviada à imprensa no início desta semana, na íntegra:
 
A Famato manifesta tristeza e profundo pesar com o início do processo de desintrusão na Gleba Suiá-Missú. A retirada das famílias começou efetivamente nesta segunda-feira (10.12) e da forma como foi prometida pelos moradores daquela região, com resistência às ações dos policiais da Força Nacional e da Polícia Rodoviária Federal (PRF).
 
É lamentável testemunhar o desespero destas pessoas que estão sendo arrancadas de sua história e do seu chão. Ainda que todos os indícios antecipavam este triste desfecho, alimentávamos a esperança de outro fim.
 
A Famato manifesta sua solidariedade às famílias atingidas, embora saiba que isso em nada alivia este sofrimento.


Foto: Agência da Notícia

O cenário da região da gleba Suiá Missú ainda é o mesmo descrito desde o início da semana, quando começou a desocupação. As forças policiais permanecem no local e o risco de novos conflitos persiste. 

Aos poucos, as famílias locais vão deixando grandes e pequenas propriedades, levando seus pertences e seu animais, gado tocado a burro ou transportado em carretas. Alguns já se conformaram com a situção e deixam suas propriedades sem resistência, outros, por outro lado, afirmam que lutarão até as últimas consequências e que estão dispostos a "morrer por suas terras". 

De acordo com o relato de produtores locais, muitas dessas famílias nem ao menos têm para onde ir, a exemplo disso foi um senhor de 46 anos que, após serdespejado, se alojou temporariamente em uma barraca na beira da BR-080. Além disso, os pecuaristas da região estariam ainda vendendo suas cabeças de gado a preços defasados para não perderem os animais ou amargarem prejuízos ainda maiores. A desvalorização em Suiá Missú pode chegar a 30%, com os pagamentos podendo ser feitos em até seis meses. 

Conforme os dias vão passando, as historias de que quem perdeu tudo ao perder aquele pedaço de chão que já habita há anos vão sendo conhecidas. Segundo Sebastião Prado, produtor rural de São Felix do Araguaia, cerca de 5% da população da gleba já teria sido desapropriada e ninguém foi reassentado até o momento. Há relatos ainda de que as forças policiais estariam ameaçando as casas dos moradores locais.

O contato com moradores e comerciantes no povoado de Posto da Mata tem sido precário nos últimos dias. Os celulares não funcionam e as linhas convencionais estão com acesso restrito. Segundo Roberto Soares, comerciante local, as contas não chegam ao povoado há alguns meses , dificultando o pagamento dos serviços e "dessa forma, sem o pagamento das contas, as linhas ficam aptas apenas ao recebimento de chamadas e mesmo assim, com muita dificuldade".

Por: Carla Mendes
Fonte: Notícias Agrícolas

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