Dilma nega crise e vende Brasil 'cor de rosa' em Davos

Publicado em 24/01/2014 16:25
Numa tentativa de melhorar a imagem do país, presidente disse que a inflação e as contas públicas 'estão sob controle'

Em sua primeira participação no Fórum Econômico Mundial, em Davos, a presidente Dilma cumpriu o protocolo: durante discurso de 40 minutos, enalteceu o progresso social do país nos últimos três anos, destacou a inflação dentro da meta e repetiu que as contas públicas estão sob controle - tudo aquilo que a cúpula de Davos (e os investidores) queria ouvir. 

A presidente iniciou sua fala com cinco minutos de atraso, fato raro no evento que leva ao pé da letra a pontualidade, ao ponto de, antes de cada painel, suíços vestidos com roupas típicas circularem pelo local soando um sino para que os participantes se dirijam às respectivas salas de debate. Outro fato curioso é que o discurso da presidente foi tão longo -  propositalmente ou não - que não permitiu que o fundador do evento Klaus Schwab encerrasse a sessão com perguntas, como ocorreu com todos chefes de estado que discursaram em Davos este ano.

Ao longo de sua fala, a presidente deu espaço não só para temas econômicos, como também para assuntos destacados como prioritários pelo próprio Fórum, como a redução da desigualdade, a preocupação com as mudanças climáticas e o estímulo ao emprego. Dilma enfatizou o crescimento da classe média e o mercado interno ávido por consumo como atrativo para investidores. Citou dados como números de televisores de tela plana por residência para mostrar que há um déficit de consumo a ser suprido - e os investidores interessados em desbravar esta selva, serão mais que bem-vindos.

Dilma não quis detalhar quais investidores quer para o Brasil. Não se ateve a filtros, nem explicou que seu governo é extremamente hostil a empresas que não se enquadram na política de conteúdo nacional. Tal hostilidade é representada, neste caso, por uma alta carga tributária sobre componentes importados (conteúdo local). A presidente também não disse que quer ver bem longe os investidores especulativos. "Venham todos, venham rápido" foi o tom usado para mostrar quão ávido o país está pelo dinheiro externo. "O Brasil é uma das maiores fronteiras de oportunidades do mundo. Nós recebemos muito bem o investidor", afirmou.

Ao mencionar as concessões, a presidente se ateve ao tema das ferrovias, justamente o ponto mais crítico de seu pacote de concessões e cujos interessados são matéria escassa. "Precisamos de uma malha ferroviária compatível com o tamanho do Brasil", afirmou. Também fez questão de destacar a importância do setor privado na economia dando como exemplos os consórcios que venceram os leilões de aeroportos, que possuem participação de companhias estrangeiras.

Por fim, falou sobre educação, o Fies, o Ciência sem Fronteiras e a expansão do número de escolas técnicas, tentando convencer a plateia que o Brasil será um país de "técnicos, pesquisadores e cientistas", demonstrando, indiretamente, que a mão de obra será capacitada para atender aos anseios dos investidores.

A presidente terminou a apresentação convidando a todos para a Copa do Mundo, afirmando que o país está "pronto" para receber os visitantes e que os investimentos necessários em infraestrutura já foram feitos.

Como Schwab deixou transparecer que não tinha nem tempo nem subsídios para contestar qualquer uma das afirmações da presidente, agradeceu sua presença no Fórum e afirmou que ela conseguiu dissuadi-lo da ideia de que os Brics estão em crise. "A senhora devolveu a confiança nos emergentes", disse o suíço.

Na plenária com capacidade para 1 500 pessoas, poucos eram os lugares vazios. A delegação brasileira estava em peso -- não apenas os ministros que a acompanhavam, como Guido Mantega, Fernando Pimentel e Luiz Fernando Figueiredo, mas também todos os empresários que vieram a Davos. Entre eles, Roberto Setubal, do Itaú Unibanco, Frederico Curado e Jackson Schneider, da Embraer, o publicitário Nizan Guanaes, o presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, o presidente do conselho da Camargo Corrêa, Vitor Hallack, o banqueiro André Esteves e a presidente da Petrobras, Graça Foster.

A impressão geral dava conta que a presidente havia cumprido bem sua missão em Davos. A dúvida que resta é se a ofensiva foi suficiente para trazer de volta ao Brasil a confiança perdida.


'É ver para crer', diz investidor sobre discurso de Dilma

Em maio de 2013, o empresário paquistanês Arif Naqvi fez uma afirmação contundente sobre o Brasil diante de centenas de investidores e executivos, durante o Simpósio de St Gallen, na Suíça. Em painel sobre mercados emergentes, Naqvi recomendou que investidores não colocassem seu dinheiro no Brasil, citando entraves como burocracia e intervencionismo do governo. O investidor, que também é um dos principais patrocinadores do Fórum Econômico Mundial de Davos, afirmou ao site de VEJA nesta sexta-feira, logo após o discurso da presidente Dilma, que terá de 'ver para crer' em todos os feitos que a presidente afirmou ter conquistado no campo econômico. "Não é que eu não me interesse pelo Brasil. Eu simplesmente não tenho nenhum investimento lá porque prefiro entrar em outros emergentes mais atrativos", disse Naqvi.

O paquistanês é fundador do Abraaj Group, um fundo de private equity sediado em Abu Dhabi que administra 7,5 bilhões de dólares aplicados em ativos em países da África, Ásia e América Latina, como o Peru. Naqvi é exatamente o tipo de investidor alvo da ofensiva do Palácio do Planalto em Davos para atrair capital para investir no Brasil. A estratégia de seu fundo consiste em aplicar no setor produtivo, e não por meio de especulação no mercado financeiro. Contudo, para convencê-lo, as palavras parecem não bastar.

Em seu discurso, Dilma não quis detalhar quais investidores quer para o Brasil. Não se ateve a filtros, nem explicou que seu governo é extremamente hostil a empresas que não se enquadram na política de conteúdo nacional. A presidente também não disse que quer ver bem longe os investidores especulativos. 'Venham todos, venham rápido' foi o tom usado para mostrar quão ávido o país está pelo dinheiro externo. "O Brasil é uma das maiores fronteiras de oportunidades do mundo. Nós recebemos muito bem o investidor", afirmou.

Empresários - Ao terminar a sessão na plenária, a presidente se dirigiu ao hotel Hilton de Davos para um encontro com o Conselho Internacional de Mídia do Fórum. Ao regressar ao evento, deu início às reuniões com empresários que fazem parte do International Business Council (IBC) e todos os executivos brasileiros que compareceram ao Fórum. Em seguida, a presidente retornou ao hotel Hilton para dar sequencia aos encontros bilaterais com empresários que deveriam acontecer em Zurique, mas foram adiados. A presidente recebe os executivos da Novartis, do banco Merrill Lynch e o presidente da Anheuser-Busch InBev, Carlos Brito. Durante a manhã, reuniu-se com os executivos da sueca Saab.

 

O discurso da presidente Dilma em Davos

A presidente Dilma, parecendo um tanto “robotizada” e contrariada de estar ali, fez agora há pouco seu discurso no Fórum Econômico Mundial em Davos. Para ela, é “apressada” a tese de que, após a crise mundial, as economias emergentes irão se desacelerar.

Segundo Dilma, há muitas oportunidades nesses países, pois existe grande necessidade de investimentos produtivos. O que faltou dizer é que tal potencial sempre existiu; o que falta é o ambiente favorável para ele deslanchar. Esse não só não melhorou, como piorou bastante durante sua gestão.

Dilma enalteceu as “grandes” conquistas sociais dos últimos anos. A formação de uma enorme classe média foi por ela citada, lembrando que classe média, para o conceito do governo, inclui até favelados.

Em seguida, após falar do crescimento do consumo das massas, lembrou que a penetração de muitos bens industriais ainda é baixa no país. Haveria, então, grande potencial. Foi um discurso muito parecido, coincidentemente, ao da empresária Luiza Trajano no Manhattan Conection.

A presidente endossou a “tese” de Lula de que as manifestações foram por mais conquistas sociais, pois a democracia gera essa demanda mesmo. Ou seja, as manifestações teriam sido o resultado do sucesso do governo do PT. Paradoxal? Sim, mas quem liga?

Dilma garantiu que a inflação está sob controle, e que o governo respeita o regime de metas. Ainda teve a cara de pau de dizer que mira no centro da meta, e que os desvios estão dentro da banda permitida. Esqueceu de dizer que a inflação bateu no topo da banda todos os anos, tornando este patamar o verdadeiro centro da meta. Sem falar das manipulações, do congelamento de preços administrados pelo governo.

Afirmou também que as contas fiscais estão sob controle, e que a dívida pública líquida caiu. Esqueceu que todos os investidores já sabem que a malandragem está na emissão de dívida bruta pelo Tesouro com repasse para o BNDES, sem inflar, assim, a dívida líquida.

Dilma disse que o Brasil tem um dos melhores indicadores de dívida pública do mundo! Não sei como isso não despertou risos na plateia. Deveria. Para países emergentes, o Brasil tem uma das mais altas taxas de endividamento estatal – sem falar do endividamento privado estimulado pelo próprio governo.

Para Dilma, os bancos públicos expandiram o crédito porque os privados recuaram, e a tendência agora é retornarem a suas funções “normais”. É aguardar para ver, se o BNDES vai mesmo liberar desembolsos bem menores, se a Caixa vai parar de fomentar uma bolha imobiliária, se o Banco do Brasil vai deixar de avançar de forma irresponsável sobre o mercado de crédito apenas por critérios políticos.

A burocracia foi condenada pela presidente como entrave para a nossa produtividade, e disse que seu governo tem projetos para reduzi-la. Em mais de dez anos de PT, entretanto, nada de concreto foi feito, não há ganhos de produtividade expressivos, e a burocracia continua insana. Mais promessas…

Sobre os investimentos necessários, a presidente culpou as décadas de subinvestimento no país. Esqueceu que seu partido já está no poder há 11 anos! Ou seja, a última década foi toda do PT. Essa mania de culpar a “herança maldita” fica cada vez mais ridícula.

O programa “Minha Casa Minha Vida” foi mencionado com orgulho pela presidente, como se fosse uma incrível novidade. Esqueceu que projetos parecidos existem em outros países, e que nunca deram certo. Nos Estados Unidos, ajudaram a fomentar a bolha imobiliária e a crise do subprime. Dilma acha que desigualdade e miséria se combatem dando casas com dinheiro público. E móveis e até tablets também!

Dilma destacou a importância da educação para o futuro do país, e passou, então, a elogiar vários programas do governo, reforçando seus aspectos meritocráticos. Faltou apenas citar nossas notas no Pisa, a queda das universidades federais nos rankings internacionais, as cotas raciais que rejeitam a meritocracia etc.

Por fim, resgatou o sonho do pré-sal como grande locomotiva do nosso progresso. Usou o termo “alquimia”, que vem bem a calhar. Dilma acha que vai transformar chumbo em ouro, só porque temos recursos naturais. Não funciona assim. Deveria aprender com a revolução energética americana, com o “shale gas” e a tecnologia de “fracking”. Não é o governo, de cima para baixo, que garante avanços tecnológicos.

Fechando seu discurso, Dilma defendeu as rodadas de livre comércio, citando o próprio Mercosul. Ignora que este não passa de uma camisa de força ideológica que trava acordos bilaterais do Brasil.

Em resumo, as palavras de Dilma não batem com os fatos. Foi um discurso “para inglês ver”, para tentar “vender o peixe” de nossa economia para atrair investimentos estrangeiros. Mas não bastam mais promessas vazias, discursos prontos. É hora de mostrar mudança nos rumos da política econômica!

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Fonte:
Veja

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