Decisão sobre dívida da Argentina vai ter impacto direto na economia do Brasil

Publicado em 29/07/2014 12:29

A Argentina tem até o fim da noite de quarta-feira para pagar - ou não - os credores internacionais que não aceitaram renegociar suas dívidas em 2005 e 2010. Eles representam 8% do total de investidores do país latino - os 92% restantes concordaram em diminuir o valor das parcelas para receber os débitos. Caso a presidente do país, Cristina Kirchner, decrete o calote da dívida de 1,33 bilhão de dólares aos chamados fundos abutres, todos seus parceiros comerciais, como o Brasil, acabarão prejudicados.

Diante da atual fragilidade externa, o governo da Argentina deverá ser obrigado a fazer um superávit comercial (diferença entre exportações e importações) mais expressivo, o que tende a impactar nas importações brasileiras. É no que acredita José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). "Qualquer que seja a situação acertada nos próximos dias, a Argentina vai ter de segurar mais as importações."

Se houver o calote e consequentemente, a falta de liquidez com a dificuldade de acesso a crédito internacional, deve ocorrer a redução da capacidade de consumo do país vizinho. A Argentina importa 12% da produção automotiva nacional e renovou recentemente o acordo bilateral com o Brasil que define as regras para o comércio de veículos. Se não houver o calote, o problema argentino passa a ser o de arranjar recursos para quitar a dívida, o que vai acabar tendo influência novamente na capacidade de comprar produtos de outros países.

No primeiro semestre, as exportações da Argentina superaram as importações em apenas 3,684 bilhões de dólares, queda de 28% na comparação com o mesmo período de 2013. Assim como o Brasil, a Argentina é uma grande exportadora de produtos básicos, como soja e milho, que estão com preços em queda no cenário internacional. A única opção, então, seria reduzir a compra dos produtos de outros países. A Argentina é uma das principais compradoras de produtos manufaturados das empresas brasileiras. 

Para o mercado financeiro internacional, uma economia dispõe de boa saúde financeira no comércio exterior quando as reservas são equivalentes a quatro meses de importação. Como a Argentina importou 73 bilhões de dólares no ano passado, ela teria de dispor de 24 bilhões de dólares. Porém, se o país tiver de pagar os credores que travam a batalha atual, as reservas financeiras recuarão para entre 8 bilhões e 10 bilhões de dólares, sem levar em conta novos pedidos de renegociação (dos credores que aceitaram reestruturar sua dívida anos atrás e querem rever os termos).

Leia ainda: Juiz volta a negar pedido de suspensão do pagamento da dívida argentina  
Argentina afirma que pagará dívidas e acusa fundos abutres de extorsão

Recessão - A balança comercial brasileira já tem enfrentado problemas por causa da crise argentina. Os dados do Ministério do Desenvolvimento, da Indústria e Comércio Exterior mostram que a participação argentina nas vendas para o exterior corresponde a 6,71% (7,4 bilhões de dólares) do total no primeiro semestre, abaixo dos 8,15% (9,3 bilhões) de 2013. Atualmente, a Argentina é o terceiro país que mais importa do Brasil, seguida por Holanda, responsável por 6,25% das compras. "O Brasil está sendo afetado pela gestão macroeconômica da Argentina. As restrições que foram impostas para as nossas importações prejudicaram a indústria, em especial a automobilística", diz Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central e sócio da consultoria Tendências.

Já a Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) estima que as vendas para os argentinos deverão somar neste ano cerca de 50 milhões de dólares. Em 2013, foram exportados 120 milhões de dólares. Segundo Heitor Klein, presidente executivo da associação, está mais difícil receber o pagamento pela carga embarcada.

O setor de máquinas e equipamentos também deve ter um resultado pior nas vendas para a Argentina. Os números da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) mostram uma redução de 23% (de 882,6 milhões para 682,8 milhões de dólares) nas exportações para a Argentina entre janeiro e maio deste ano ante o mesmo período de 2013. "Se ocorre um agravamento da situação financeira do país, existe obviamente uma menor demanda por investimento", afirma Klaus Curt Müller, diretor de comércio exterior da Abimaq.

Negociações - O governo de Cristina Kirchner tentou diversas vezes sem sucesso suspender o pagamento de 1,33 bilhão de dólares aos chamados fundos abutres, como determinado pelo juiz americano Thomas Griesa em junho. A Argentina acusa os fundos credores de extorsão e diz que eles não quiseram sentar para renegociar as dívidas. Em entrevista ao site de VEJA, porém, o gestor Jay Newman, da NML, um dos fundos abutres envolvidos no processo, afirmou que vem tentando negociar com o governo argentino há mais de dez anos, porém, sem sucesso. Uma comitiva da Argentina se reúne nesta terça-feira em Nova York com o mediador Daniel Pollack, indicado pela justiça americana, para uma última rodada de negociações. Se não pagar todo o valor ou conseguir um surpreendente acordo de última hora com os fundos, o calote será decretado. 

O Mercosul já saiu em defesa de seu país-membro às vésperas da data-limite. Em encontro com ministros do bloco, em Caracas, o chanceler argentino, Hector Timerman, apresentou a seus colegas um panorama da situação e repetiu que o governo não tem condições de aceitar a decisão judicial sob pena de desestruturar toda a renegociação da dívida, mas que pretende continuar pagando os demais credores. Mesmo que, a essa altura, o bloco possa apenas se manifestar politicamente, a Argentina pediu a demonstração de que não está sozinha na briga contra os abutres. Diplomatas do Mercosul estariam cogitando incluir no documento final de sua Cúpula uma menção de apoio à Argentina. 

Confiança da indústria é a menor desde abril de 2009

O Índice de Confiança da Indústria (ICI) brasileira caiu 3,2% em julho na comparação com o final de junho, registrando a sétima queda seguida, informou a Fundação Getulio Vargas (FGV) nesta terça-feira.

Com isso, o indicador foi a 84,4 pontos, menor nível desde abril de 2009 (82,2 pontos), ante 87,2 pontos no mês anterior, quando havia recuado 3,9%.

"O resultado de julho acende uma luz amarela em relação ao terceiro trimestre. Ainda que a diminuição do número de feriados possa influenciar favoravelmente a produção, a demanda continua sendo um fator limitativo a este crescimento", disse Aloisio Campelo Jr., superintendente adjunto de Ciclos Econômicos da FGV/Ibre.

O Índice da Situação Atual (ISA) caiu 4,8% em julho, para 85,8 pontos, influenciado principalmente pelo indicador que mede o grau de satisfação com o nível de demanda.

Já o Índice de Expectativas (IE) recuou 1,8%, a 82,9 pontos, com destaque para as expectativas quanto à tendência dos negócios nos seis meses seguintes.

Ainda segundo a FGV, o Nível de Utilização da Capacidade Instalada foi a 83,2% em julho, queda de 0,3 ponto percentual sobre junho, atingindo o menor patamar desde outubro de 2009 (82,6%).

A produção industrial do Brasil recuou 0,6% em maio no terceiro mês seguido no vermelho, marcado mais uma vez pela fraqueza dos investimentos, conforme os números oficiais mais recentes divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Juro para pessoa física atinge recorde de 43% em junho

Em sua nota de Crédito e Política Monetária, o Banco Central (BC) informa que a taxa média de juros do crédito para pessoas físicas atingiu em junho 43%, contra 42,5% em maio. Este é o maior número desde o início da série histórica, em março de 2011. Segundo o relatório divulgado nesta terça-feira, entre maio e junho, as modalidades de cheque especial e crédito pessoal tiveram aumento de 3 e 0,6 pontos porcentuais, respectivamente, para 171,5% ao ano e 45,5% ao ano. Em comparação a junho de 2013, o juro médio do cheque especial subiu impressionantes 34,7 pontos, enquanto o do crédito pessoal (consignado e não consignado) aumentou 7,5 p.p.. Com juros altos, as pessoas ficam cada vez mais endividadas, ou seja, sua renda fica mais comprometida com pagamento de taxas e sobra menos recursos para o consumo e a poupança.  

Segundo o BC, para pessoa jurídica, ainda em recursos livres, a taxa caiu de 22,2% para 22,6% entre maio e junho. Ainda neste segmento, levando em consideração pessoas e empresas, a média permaneceu em 32%.

No período, o spread bancário (diferença entre o custo de captação dos bancos e a taxa efetivamente cobrada ao consumidor final) foi de 20,9 pontos porcentuais também neste segmento, acima dos 20,6 vistos em maio.

A boa notícia do relatório divulgado nesta terça é que a inadimplência ainda está baixa. Entre maio e junho, os calotes superiores a 90 dias no mercado de crédito brasileiro, também no segmento de recursos livres, passaram de 5% para 4,8%. 

Ainda segundo informou o BC, o estoque total de crédito no Brasil subiu 0,9% em junho ante maio, chegando a 2,830 trilhões de reais, ou 56,3% do Produto Interno Bruto (PIB). No acumulado em 12 meses, o estoque brasileiro cresceu 11,8%. O saldo dos empréstimos a pessoas físicas totalizou 1,324 trilhão, avanço de 1% ante maio e de 14,3% em relação a junho de 2013. No caso do crédito destinado a pessoas jurídicas, o estoque fechou o mês passado em 1,506 trilhão, após aumentos de 0,9% e 9,7%, na mesma base de comparação. 

Na sexta-feira passada, o BC anunciou mudanças na regra do compulsório - contribuição obrigatória que os bancos fazem junto ao BC. O objetivo é liberar pelo menos 30 bilhões de reais em crédito no mercado. 

 

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Fonte:
Veja

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1 comentário

  • victor angelo p ferreira victorvapf nepomuceno - MG

    A política da Argentina é: "Tudo venha a nós e no vosso reino nada! Até hoje não percebemos isto! O Chile é que está certo, não perde tempo com o MERCOSUL. um mercado politiqueiro e falido... Nossa política externa tem que ser mais atuante e não engolir desaforos de funcionários de embaixadas, como aquele de Israel, que chamou o Brasil de “ anão na política” e ainda citou o 7 a 1 que tomamos... Depois ficou por isso mesmo, com um pedido de desculpas... O Brasil precisa se impor no cenário mundial, ou então, fecha pra balanço!

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